"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

DOS LIMÕES... A LIMONADA


Quão raro e agradável é para o poderoso compreender as limitações do poder, verdadeiramente repudiar seu uso, com efeito, devolvê-lo às miríades de indivíduos que compõem a sociedade. Assim foi Ludwig Erhard, que fez mais do que qualquer outro homem ou mulher para desnazificar a economia alemã após a Segunda Guerra Mundial. Ao fazê-lo, ele deu origem a uma miraculosa recuperação econômica.

“Aos meus olhos”, confidenciou Erhard em Janeiro de 1962, “o poder é sempre entorpecente, é perigoso, brutal e, basicamente, até estúpido”.

Por qualquer mensuração, a Alemanha em 1945 era um desastre – derrotada, devastada, dividida e desmoralizada – e não apenas devido à guerra. Os nazistas, é claro, eram socialistas ( O nome nazi deriva da abreviatura de Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães), assim que por mais de uma década a economia tinha sido “planejada” de cima. Tinha sido atormentada com controle de preços, racionamento, burocracia, inflação, cronismo (capitalismo de “compadres”), cartéis, desperdício de recursos e comando governamental das indústrias mais importantes. Os produtores faziam o que os planejadores ordenavam. Servir ao estado era o valor mais elevado.
Trinta anos antes, o adolescente Ludwig Erhard ouviu seu pai argumentar pelos valores liberais clássicos em discussões com homens de negócios, seus companheiros. Ele era um empreendedor na Bavária, no ramo de vestuário e têxteis, o velho Wilhelm opôs-se ativamente à crescente cartelização da economia germânica promovida pelo kaiser. O biógrafo de Erhard, Alfred C. Mierzejewski, escreveu sobre o pai de Ludwig,

“Embora não fosse rico, tornou-se membro de uma sólida classe média que fez sua vida através de trabalho duro, satisfazendo a florescente demanda por consumo no período, ao invés de fazer lobby por subsídios governamentais ou por proteção como tantos privilegiados fizeram para preservar suas fazendas e muitos industriais fizeram para defender-se da competição estrangeira”.

O jovem Ludwig sentiu na pele os encargos impostos pelo governo sobre os homens de negócios honestos e independentes como seu pai. Ao longo de sua vida ele desenvolveu uma paixão pelo livre mercado, porque ele compreendeu o que Hayek expressaria tão bem nos anos quarenta: “Quanto mais o estado planeja, mais difícil se torna o planejamento para o indivíduo”.

Gravemente ferido pela artilharia Aliada em 1918 na Bélgica, os valores liberais de Ludwig foram fortalecidos por sua experiência na sangrenta e fútil Primeira Guerra Mundial. Após a tumultuosa hiperinflação que assolou a Alemanha nos anos após a guerra, ele obteve seu PhD em economia, assumiu o controle dos negócios da família, e liderou um instituto de pesquisa de mercado, o que deu a ele oportunidades de escrever e falar a respeito de questões econômicas.

A ascensão de Hitler ao poder nos anos trinta perturbou profundamente Erhard. Ele recusou-se a ter qualquer coisa a ver com o nazismo ou com o partido nazista, até mesmo patrocinando sigilosamente a resistência nos anos que se seguiram. Os nazistas cuidaram para que ele perdesse seu trabalho em 1942, quando ele escreveu um artigo esboçando suas ideias para uma economia livre no pós guerra. Ele passou os anos seguintes como um consultor de empresas.

Em 1947, Erhard alcançou a presidência de uma importante comissão monetária. Isto provou ser vital como alicerce para a posição de diretor econômico para o Conselho Econômico Bizonal, uma criação das autoridades de ocupação Americana e Britânica. Foi lá que ele pôde finalmente colocar em prática sua visão política e, no processo, transformar seu país.

Nesta época as crenças de Erhard solidificaram-se em convicções inabaláveis. A moeda deve ser sólida e estável. O coletivismo foi um absurdo mortal que asfixiou a criatividade individual. O planejamento central era um truque, uma ilusão. Empreendimentos estatais nunca poderiam ser um substituto aceitável para o dinamismo do mercado empresarial competitivo. Inveja e redistribuição de riqueza eram males.

“É muito mais fácil dar a cada indivíduo um pedaço maior de um bolo sempre crescente”, ele disse, “do que obter mais de uma disputa sobre um bolo pequeno, porque em tal processo cada ventagem de um é uma desvantagem de outro”.

Erhard defendeu competição justa e nenhum privilégio. Sua prescrição para a recuperação? O estado estabeleceria as regras do jogo e por outro lado deixaria as pessoas em paz para arrancar a economia Alemã da estagnação. O falecido economista William H. Peterson revelou o que aconteceu depois:

“Em um domingo de junho de 1948, sem conhecimento ou aprovação das autoridades militares da ocupação Aliada (que, é claro, estavam distantes de seus escritórios), o Ministro da Economia da Alemanha Ocidental Ludwig Erhard bravamente publicou unilateralmente um decreto extinguindo o racionamento e o controle de preços e salários, introduzindo uma nova moeda sólida, o Marco Alemão. O decreto foi imediatamente efetivado. Erhard disse ao povo Alemão: “Agora seu único cupom de racionamento é o Marco”.

As autoridades americanas, britânicas e francesas que haviam indicado Erhard para o cargo estavam horrorizadas. Alguns acusaram-no de ter excedido seus poderes definidos, e que ele deveria ser deposto do cargo. Mas a obra estava feita. O General Comandante das forças Americanas Lucius Clay disse: “Herr Erhard, meus conselheiros dizem-me que você está cometendo um terrível engano”. “Não dê ouvidos a eles, General”, replicou Erhard, “meus conselheiros dizem-me a mesma coisa”.

General Clay protestou por Erhard ter “alterado” o programa de controle de preços Aliado, mas Erhard insistiu que não tinha alterado o controle de preços de maneira alguma. Ele tinha simplesmente abolido o programa. Nas semanas e meses que se seguiram, ele publicou uma tempestade de ordens desregulatórias. Ele reduziu tarifas. Ele elevou impostos sobre o consumo, porém, mais que contrabalançou com um corte de 15% nos impostos sobre a renda. Removendo o desincentivo à poupança, incitou uma das maiores taxas de poupança de qualquer país industrializado do Ocidente. A Alemanha Ocidental estava apinhada de capital e crescimento, enquanto a Alemanha Oriental definhava. O economista David Henderson escreveu que o lema de Erhard poderia ter sido: “Não sente-se lá apenas, desfaça algo”.

Os resultados foram estonteantes. Como escreveu Robert A. Peterson:
“Quase imediatamente, a economia alemã despertou para a vida. Os desempregados voltaram para o trabalho, a comida reapareceu nas prateleiras das lojas, e a lendária produtividade do povo alemão foi libertada. Dentro de dois anos a produção industrial triplicou. No início dos anos sessenta a Alemanha Ocidental era a terceira maior potência econômica no mundo. E tudo isto ocorreu enquanto a Alemanha Ocidental assimilava centenas de milhares de refugiados da Alemanha Oriental”.

Isto era um ritmo de crescimento que se agigantava perante os países europeus que receberam mais assistência do Plano Marshall do que a Alemanha jamais recebeu.

O termo “milagre econômico Alemão” foi amplamente usado e entendido como se tivesse acontecido nos anos cinquenta diante dos olhos do mundo, mas Erhard nunca pensou assim. Em seu livro de 1958, Prosperity through Competition (em tradução livre: Prosperidade por meio da Competição), ele opinou: “O que teve lugar na Alemanha... é qualquer coisa, menos um milagre. É o resultado dos esforços honestos de um povo inteiro a quem, observando os princípios da liberdade, foi dada a oportunidade de utilizar a iniciativa pessoal e as energias humanas”.

As tentações do estado de bem estar social nos anos sessenta “descarrilharam” algumas das reformas de Erhard. Seus três anos como chanceler (1963- 66) forma menos bem sucedidos que seu mandato como ministro da economia. Mas seu legado foi forjado naquela década e meia após o fim da guerra. Ele respondeu para sempre à questão “O que fazer com uma economia em ruínas?” com uma receita simples, comprovada e definitiva: “Liberte-a”.
15 de maio de 2015
Por Lawrence W. Reed
Original aqui.
Tradução: Flávio Ghetti

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