O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso recebeu na terça, dia 12 de maio, em Nova York, o prêmio "Pessoa do Ano", conferido pela Câmara de Comércio Brasil-EUA. Fez um discurso duro, mas sereno. A reparação histórica começou, quero crer, mais cedo do que ele imaginava.
A máquina de moer reputações do petismo foi desmoralizada pelos ladrões da Petrobras. A era dita inaugural dos companheiros foi desmascarada pelos juros estratosféricos, pela inflação renitente e pela recessão. É um retrato. O desastre foi meticulosamente engendrado, com uma incompetência fanática.
Ao longo de 12 anos, o PT elegeu como adversário preferencial o que havia de mais moderno nos tucanos: o seu viés –não mais do que viés– liberal. Cavalgando o jumento do nacional-estatismo, a companheirada satanizou à vontade os adversários, desmoralizou-os, acusou-os de inimigos dos pobres.
No discurso que fez nos EUA a uma plateia de 1.200 pessoas, FHC apontou os retrocessos em curso no Brasil, mas recomendou, em seminário no dia seguinte, perseverança e otimismo. No tempo em que sua herança foi enxovalhada pelos governos petistas, nunca perdeu nem serenidade nem bom humor.
Como Cícero recomendava em "De Senectude", FHC, 84 anos no mês que vem, descobriu os prazeres da maturidade. O espírito de alguns livros, de alguns vinhos e, acrescentaria eu, de alguns uísques requer um repertório que é dado pela experiência, não pelo ímpeto. Nota à margem: o próprio Cícero, coitado!, se foi bem antes, aos 63, com cabeça e mãos literalmente cortadas.
E Lula? Ah, Lula... À beira dos 70 anos, poderia ele também estar pacificado. Embora repudie a sua obra, reconheço-lhe a trajetória invulgar. Por que não faz do prateado do rosto e da cabeça o retrato da temperança? Se não o socorre outro saber que não a disputa pelo poder –e assim é por escolha, não por determinação; é ele que foge dos livros, não o contrário–, que as virtudes do conselheiro se sobreponham às do guerreiro. Mas não!
Agora ele anuncia uma cruzada para mobilizar as esquerdas e os movimentos sociais em defesa do PT. A agitação sindical que promove, e não alguma suposta conspiração de Eduardo Cunha, derrotou o governo na votação sobre o fator previdenciário. O chefão petista vaga por aí como alma penada, sem se dar conta de que a sua militância já é coisa do passado. Só sobrevive o que consegue se adaptar às novas circunstâncias; só se conserva o que é capaz de mudar. Não é lei dos homens, mas da natureza.
Fora do poder há 13 anos, mesmo tendo a sua biografia política cotidianamente esmagada pela máquina de propaganda petista, FHC fala a um país nascente. E o faz com discrição e sem pretensões de exercer alguma forma de liderança. Lula, ao contrário, tornou-se apenas um velho reacionário, que busca, desesperadamente, um modo de calar as ruas. Fala à terra dos mortos.
Registro rápido: a investigação de um esquema que é a síntese da forma como o PT capturou o Estado brasileiro tem dois peemedebistas como alvos principais: Eduardo Cunha e Renan Calheiros. Não há algo de estranho nessa narrativa? E os "spin doctors" do petismo espalham a versão de que é o PMDB quem pretende secar a Lava Jato. Vai ver os companheiros querem investigar tudo, né? A má-fé é uma forma de burrice ou a burrice uma forma de má-fé?
15 de maio de 2015
Folha de São Paulo
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