Se as próximas reuniões mediadas pela Unasul não conseguirem estabelecer um diálogo verdadeiro entre o governo venezuelano e a oposição, os protestos devem continuar, assim como a repressão governista
Ainda não há perspectiva concreta para que o governo de Nicolás Maduro e a oposição venezuelana entrem em entendimento e coloquem um fim à onda de protestos que tem sacudido a Venezuela desde fevereiro. A última tentativa de retomar as negociações aconteceu na terça-feira com mediação de chanceleres da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) e do núncio apostólico Aldo Giordano.
Durante a reunião, representantes da Mesa da Unidade Democrática (MUD) apresentaram suas condições para dialogar com os chavistas, mas não houve acordo. Mesmo insistindo que as negociações com a oposição continuam – Maduro disse haver uma “campanha dizendo ‘acabou o diálogo’, ‘o diálogo está congelado’, mas agora é que o diálogo está quente” – o governo chavista não parece muito disposto a atender aos apelos da MUD, que propôs a criação de uma comissão independente para investigar a repressão violenta aos protestos e a libertação de estudantes e dirigentes opositores.
Os chavistas alardeiam que os protestos não seriam uma expressão legítima da insatisfação popular com o governo, mas uma orquestração diabólica para um golpe de Estado contra o “governo revolucionário” da Venezuela. Nicolás Maduro, inclusive, afirmou nesta semana que pedirá a convocação de um conselho presidencial da Unasul em junho para poder apresentar supostas “provas das ações violentas executadas pelos grupos de direita”, que teriam apoio dos Estados Unidos. Por isso, ouvir os opositores e atender suas reivindicações seria contradizer o próprio discurso e assumir que as condições de vida na Venezuela não são o paraíso prometido pelo “socialismo do século 21”.
A derrocada do projeto chavista prenunciada pelo descontentamento popular com o governo de Nicolás Maduro evidencia o que há muito era sabido: bem menos do que um novo modelo político, capaz de oferecer as bases de um desenvolvimento sustentável e duradouro para a Venezuela, o chavismo nasceu como uma proposta populista de esquerda centrada na figura do caudilho Hugo Chávez, morto em março do ano passado. Após um processo eleitoral conturbado, marcado por denúncias de irregularidades, Nicolás Maduro – cujo perfil não incluiu um carisma similar ao de Chávez – venceu a eleição presidencial por uma margem pequena de votos, deixando evidente que a nação estava dividida. Com o agravamento dos problemas econômicos, foi natural que o descontentamento ganhasse força e os protestos contra o governo surgissem.
Se a Venezuela fosse um país que respeitasse de verdade as instituições democráticas, o caminho mais acertado seria tentar buscar o apoio da oposição, apresentando reformas e projetos que pudessem atender às demandas da população, que hoje convive com uma economia atrasada, marcada pela alta inflação e escassez de produtos básicos. Mas o governo de Maduro está longe de ser uma referência em termos de democracia e opta por simplesmente desmerecer os opositores, enfraquecer cada vez mais as instituições aparelhando-as para atender aos interesses governistas e adota a velha prática de estabelecer um “inimigo” – ora apresentado como a direita venezuelana ora como os Estados Unidos. Com isso, o governo venezuelano vai enterrando cada vez mais fundo a sua democracia, deixando aflorar o obscuro ditatorialismo que prefere usar a força a dialogar.
Nesse contexto, é no mínimo desconfortante que nações ditas democráticas não se posicionem contra as medidas excessivas do governo venezuelano contra a oposição. Ao contrário, o que se vê da maioria das lideranças latino-americanas é o apoio aberto a Nicolás Maduro. Basta lembrar que em fevereiro, quando os protestos começaram, o Mercosul, encabeçado pela Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai, divulgaram uma nota condenando “as tentativas de desestabilizar a ordem democrática” na Venezuela. A própria Unasul, que hoje se coloca como mediadora entre oposicionistas e governo, já mostrou apoio direto a Maduro, endossando a condenação às ações dos manifestantes.
Infelizmente, a perspectiva não é alentadora. Se as próximas reuniões mediadas pela Unasul e pelo representante da Igreja Católica não conseguirem estabelecer um diálogo verdadeiro entre o governo venezuelano e a oposição, os protestos devem continuar, assim como a repressão governista de forma cada vez mais violenta. E quem sofrerá ainda mais será a população venezuelana, presa entre as promessas não concretizadas de um Estado que se diz democrático, mas que se veste de ditadura, e uma oposição incapaz de ter voz.
Ainda não há perspectiva concreta para que o governo de Nicolás Maduro e a oposição venezuelana entrem em entendimento e coloquem um fim à onda de protestos que tem sacudido a Venezuela desde fevereiro. A última tentativa de retomar as negociações aconteceu na terça-feira com mediação de chanceleres da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) e do núncio apostólico Aldo Giordano.
Durante a reunião, representantes da Mesa da Unidade Democrática (MUD) apresentaram suas condições para dialogar com os chavistas, mas não houve acordo. Mesmo insistindo que as negociações com a oposição continuam – Maduro disse haver uma “campanha dizendo ‘acabou o diálogo’, ‘o diálogo está congelado’, mas agora é que o diálogo está quente” – o governo chavista não parece muito disposto a atender aos apelos da MUD, que propôs a criação de uma comissão independente para investigar a repressão violenta aos protestos e a libertação de estudantes e dirigentes opositores.
Os chavistas alardeiam que os protestos não seriam uma expressão legítima da insatisfação popular com o governo, mas uma orquestração diabólica para um golpe de Estado contra o “governo revolucionário” da Venezuela. Nicolás Maduro, inclusive, afirmou nesta semana que pedirá a convocação de um conselho presidencial da Unasul em junho para poder apresentar supostas “provas das ações violentas executadas pelos grupos de direita”, que teriam apoio dos Estados Unidos. Por isso, ouvir os opositores e atender suas reivindicações seria contradizer o próprio discurso e assumir que as condições de vida na Venezuela não são o paraíso prometido pelo “socialismo do século 21”.
A derrocada do projeto chavista prenunciada pelo descontentamento popular com o governo de Nicolás Maduro evidencia o que há muito era sabido: bem menos do que um novo modelo político, capaz de oferecer as bases de um desenvolvimento sustentável e duradouro para a Venezuela, o chavismo nasceu como uma proposta populista de esquerda centrada na figura do caudilho Hugo Chávez, morto em março do ano passado. Após um processo eleitoral conturbado, marcado por denúncias de irregularidades, Nicolás Maduro – cujo perfil não incluiu um carisma similar ao de Chávez – venceu a eleição presidencial por uma margem pequena de votos, deixando evidente que a nação estava dividida. Com o agravamento dos problemas econômicos, foi natural que o descontentamento ganhasse força e os protestos contra o governo surgissem.
Se a Venezuela fosse um país que respeitasse de verdade as instituições democráticas, o caminho mais acertado seria tentar buscar o apoio da oposição, apresentando reformas e projetos que pudessem atender às demandas da população, que hoje convive com uma economia atrasada, marcada pela alta inflação e escassez de produtos básicos. Mas o governo de Maduro está longe de ser uma referência em termos de democracia e opta por simplesmente desmerecer os opositores, enfraquecer cada vez mais as instituições aparelhando-as para atender aos interesses governistas e adota a velha prática de estabelecer um “inimigo” – ora apresentado como a direita venezuelana ora como os Estados Unidos. Com isso, o governo venezuelano vai enterrando cada vez mais fundo a sua democracia, deixando aflorar o obscuro ditatorialismo que prefere usar a força a dialogar.
Nesse contexto, é no mínimo desconfortante que nações ditas democráticas não se posicionem contra as medidas excessivas do governo venezuelano contra a oposição. Ao contrário, o que se vê da maioria das lideranças latino-americanas é o apoio aberto a Nicolás Maduro. Basta lembrar que em fevereiro, quando os protestos começaram, o Mercosul, encabeçado pela Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai, divulgaram uma nota condenando “as tentativas de desestabilizar a ordem democrática” na Venezuela. A própria Unasul, que hoje se coloca como mediadora entre oposicionistas e governo, já mostrou apoio direto a Maduro, endossando a condenação às ações dos manifestantes.
Infelizmente, a perspectiva não é alentadora. Se as próximas reuniões mediadas pela Unasul e pelo representante da Igreja Católica não conseguirem estabelecer um diálogo verdadeiro entre o governo venezuelano e a oposição, os protestos devem continuar, assim como a repressão governista de forma cada vez mais violenta. E quem sofrerá ainda mais será a população venezuelana, presa entre as promessas não concretizadas de um Estado que se diz democrático, mas que se veste de ditadura, e uma oposição incapaz de ter voz.
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