"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 6 de março de 2014

LIMITAÇÕES DE VISÃO ESTRATÉGICA


 

O grande jogo mundial foi feito para se jogar. Este é seu proposito e razão de existir. Mesmo quem não o compreende, quem não sabe jogar, acaba jogando ainda que de forma inconsciente. A omissão é uma ação ou decisão em si, devidamente respaldada pelo livre arbítrio.

É um jogo com funcionamento próprio, jogado com outros parâmetros. Enquanto os “estrategistas” brasileiros pensam de forma cartesiana, os grandes jogadores efetivos deste jogo pensam de forma quântica. Enquanto aqui se pensa em 3D, eles pensam em 4D. Enquanto aqui se vê os movimentos do jogo de forma superficial e linear, eles “pensam” de forma holográfica e estão sempre vários lances adiante. Aqui se mexe um peão por vez no tabuleiro, lá eles movem a rainha, o bispo e o cavalo simultaneamente. As regras são outras. Não existe paixão, existe o jogo.

No final da década de 60, e inicio de 70, dos países do BIRC (sem S mesmo) o Brasil era o que apresentava, junto com a URSS na época (em versão menor a atual Rússia), a melhor situação. Crescia economicamente a taxas elevadas, possuía um parque fabril bem instalado, desenvolvia tecnologia, detinha controle sobre os ativos estratégicos (telecomunicações, petróleo, mineração, energia, bancos, etc....), tinha uma pujante indústria bélica em desenvolvimento e Forças Armadas respeitadas em todo o continente. Não se vislumbrava no hemisfério sul rival a altura. Qual o quadro atual? Todos sabem. Pelos frutos se conhece a árvore.

China, Rússia e Índia tem hoje uma economia forte, mas o mais importante, capacidade bélica de dissuasão às pretensões contrárias, capazes de defender seus interesses estratégicos e ter sua opinião ouvida e respeitada nos fóruns internacionais. Não estão de joelhos, submissos. E o Brasil, como está?

Ainda que com tecnologia e recursos adequados se possa rapidamente obter alguma capacidade nuclear, e alterando certos dispositivos de uma rede obter armas escalares, este não parece ser o caminho disponível para a nação brasileira de imediato, ainda que tecnicamente possível. O que aconteceu, ou melhor, o que não aconteceu?

Os orientais sempre tiveram, em razão de sua cultura, facilidade para o pensamento abstrato. Conseguem pensar fora da caixinha. Ademais, tem uma paciência muito grande para observar um processo e aprender com ele. E foi o que fizeram. Assim, no caso em tela, notadamente chineses e indianos, perceberam como funciona o jogo, como as peças são movidas no tabuleiro segundo as dicas antecipadas e ao ritual estipulado, e procuraram tirar proveito dele. Ocuparam seu espaço vital. E o Brasil? Continua desnorteado, perdendo tempo precioso, sem entender como as coisas se passam.

No Brasil os fatos se desenrolaram desta forma porque o maior ignorante (no sentido de ignorar) é aquele que pensa que sabe. Logo, não procura aprender. É apressado e come cru, segundo o velho adágio.

Infelizmente, nos centros estratégicos brasileiros a humildade nunca foi a tônica, e o resultado está aí. Jamais foram capazes de um diálogo à altura com os reais príncipes em seus acampamentos, com os lords em sua cidadelas, com o bispo em seu santuário ou com as rainhas em seus palácios. Não compreendem a linguagem, não decifram os signos, tem ouvidos mas não ouvem, tem olhos mas não enxergam. Tentando ser soberanos tornaram-se vassalos.

O Poder procura meios para se expressar, mas ao longo da história não encontrou muitos interlocutores à altura em terras tupiniquins. Não se expressando acaba por manter submisso a outros poderes àquilo que poderia ser sua expressão.

A defesa dos interesses nacionais passa por uma expansão de visão, por uma compreensão mais acurada da atualidade, por fazer alianças, por ouvir mais e gabar-se menos, por ceder agora para conquistar depois. Aquilo que alguns chamam de Mal, sob outro ponto de vista, pode ser o Bem.

É necessário abraçar a sabedoria, e deixar ir a vaidade. Alargar a visão. Ser espectador e ator simultaneamente. Estamos num momento estrategicamente delicado da história nacional. As decisões, ou falta delas, vão repercutir de forma enfática no futuro da nação.

Jogando ou não o jogo continua...
 
06 de março de 2014
Luiz Antonio Peixoto Valle é Administrador de Empresas.

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