Como é difícil concentrar no importante, pensar com clareza, evitar as banalidades e as chatices. Idade agrava o problema. Faço exercícios para pensar e reagir mais depressa, reforçar a memória, resolver problemas e associar ideias.
Funcionam, garantem os sábios da Universidade Stanford, um ninho de gênios em Palo Alto, na Califórnia. Lá, um grupo de professores criou este programa de exercícios chamado "lumosity".
A sacada é simples. No site Lumosity, há dezenas de exercícios provocantes, bonitos, engraçados e chatos, que medem com números exatos as forças e fraquezas da sua cabeça, progressos, regressos, e compara você com milhares de "lumositários".
Parece científico, simples, claro e preciso, mas tenho minhas dúvidas. Fiz progresso no números, mas todos os dias pergunto "como é mesmo o nome daquele cara"? E daquele filme? Daquele livro? E o pânico de não reconhecer a pessoa que te abraça, beija e convida para jantar?
Nas comparações com pessoas da minha idade, minha péssima memória é melhor do que a de 95% dos praticantes de "lumosity". Quando comparo com a turma de 20, 30 anos, caio para 65%. Números assombrosos.
Quando entrei no jogo, há pouco mais de um ano, "lumosity" era pouco conhecido. Agora brilha na internet. Há estudos pró e contra os efeitos dos exercícios, como há estudos que comprovam e desmentem que é possível exercitar a mente depois de certa idade.
Um outro gênio de Palo Alto, Michio Kaku, começou pela física. No curso secundário, montou na garagem dos pais um poderoso acelerador de partículas para gerar raios gama. Queria criar a antimatéria. Pouco depois, foi descoberto e recomendado por Edward Teller, pai da bomba de hidrogênio.
Michio se formou em primeiro lugar na turma de Física em Harvard, fez doutorado de Berkeley, escreveu livros, apresentou programas de televisão na BBC, tem mais de 70 artigos publicados, enfim, fez, faz e acontece. Mais: é um gênio para simplificar ciência para idiotas, como eu.
Ele é um homem da física quântica em busca da menor partícula do universo, um dos criadores da teoria das cordas. São filamentos parecidos com os da lâmpada incandescente, milhões - ou bilhões? - de vezes menores do que um átomo.
Ou, como ele explica: as partículas ou filamentos são como as notas musicais numa corda vibrante, a física é a harmonia destas cordas, a química é a melodia, o universo é uma sinfonia de cordas e a cabeça de Deus que Einstein tentou decifrar é a musica cósmica que ressona no espaço.
Sacou?
Se tem alguma dúvida, leia o livro dele, recém-lançado, The Future of the Mind, em que Michio Kaku nos conta que o cérebro é o maior mistério do universo e que, nos últimos dez, quinze anos, aprendemos mais sobre ele do que em toda a história. São capítulos com informações vibrantes, das mais metafísicas a aplicações práticas para nossas nossas doenças mentais - da memória fraca ao Alzheimer.
Com US$ 1 bilhão americano, outro bilhão europeu e milhões asiáticos, o cérebro está sendo mapeado, como foi feito com o genoma, mas é muitíssimo mais complicado.
O genoma tem mais ou menos 23 mil genes. O cérebro tem 100 bilhões de neurônios, cada um ligado a outros dez milhões.
Esquizofrenia, epilepsia e Asperger, são conexões defeituosas. O plano é limpar o cérebro de óleos e outras matérias e ter uma visão transparente da fiação com seus filamentos vibrantes e, aí sim, poderemos ver/ouvir a divina música cósmica.
Já é possível fazer um download do cérebro de um rato e a ressonância magnética de um cérebro humano durante um sonho. Num futuro não muito distante, daqui a uma ou duas décadas, vai ser possível fazer umdownload de todas as informações acumuladas num cérebro fragilizado ou ameaçado por doenças e reinseri-las para quando a memória começar a falhar.
Ou, mais assombroso, fazer um download de tudo o que está no nosso cérebro, inclusive voz, uma forma de vida eterna.
Quem está interessado no meu? Não tenho nenhum interesse de pegar o bonde da eternidade.
Meu sonho é um deletador de inutilidades e chatices e um download para achar os óculos e o chaveiro.
06 de março de 2014
Prontuário eletrônico organiza e disponibiliza informação de forma ágil e eficiente. Decidi que não o usaria em meu consultório há anos. Um colega informatizou o consultório. É competente em sua área, temos vários pacientes em comum.
Há dias uma senhora sentiu-se tonta ao levantar, caiu, bateu a cabeça. Buscou atendimento no único hospital da cidade onde estava. Foi colocada no protocolo de infarto do miocárdio, embora faltassem muitos elementos para pensar em infarto. Após horas repetindo exames, já cansada e sentindo-se bem, retirou-se sob o protesto da equipe técnica, pois pelo protocolo faltava mais uma bateria de exames. Protocolos e computadores mal utilizados não ajudam, podem atrapalhar.
Atendimento médico é único e individual, não há dois iguais, cada pessoa é única, cada caso é peculiar. O encontro da pessoa com o médico não se repete nem padroniza. Se o foco for o meio (o registro) ao invés da finalidade (o atendimento), perde-se qualidade.
Pacientes perguntam por vezes se não vou aderir ao prontuário eletrônico. Conto-lhes a história do colega que deixou de olhar para os pacientes, e invariavelmente ouço situações vividas por eles que confirmam o desvio do foco. Isso acho inaceitável. O foco do médico continua e não pode deixar de ser na pessoa.
Funcionam, garantem os sábios da Universidade Stanford, um ninho de gênios em Palo Alto, na Califórnia. Lá, um grupo de professores criou este programa de exercícios chamado "lumosity".
A sacada é simples. No site Lumosity, há dezenas de exercícios provocantes, bonitos, engraçados e chatos, que medem com números exatos as forças e fraquezas da sua cabeça, progressos, regressos, e compara você com milhares de "lumositários".
Parece científico, simples, claro e preciso, mas tenho minhas dúvidas. Fiz progresso no números, mas todos os dias pergunto "como é mesmo o nome daquele cara"? E daquele filme? Daquele livro? E o pânico de não reconhecer a pessoa que te abraça, beija e convida para jantar?
Nas comparações com pessoas da minha idade, minha péssima memória é melhor do que a de 95% dos praticantes de "lumosity". Quando comparo com a turma de 20, 30 anos, caio para 65%. Números assombrosos.
Quando entrei no jogo, há pouco mais de um ano, "lumosity" era pouco conhecido. Agora brilha na internet. Há estudos pró e contra os efeitos dos exercícios, como há estudos que comprovam e desmentem que é possível exercitar a mente depois de certa idade.
Um outro gênio de Palo Alto, Michio Kaku, começou pela física. No curso secundário, montou na garagem dos pais um poderoso acelerador de partículas para gerar raios gama. Queria criar a antimatéria. Pouco depois, foi descoberto e recomendado por Edward Teller, pai da bomba de hidrogênio.
Michio se formou em primeiro lugar na turma de Física em Harvard, fez doutorado de Berkeley, escreveu livros, apresentou programas de televisão na BBC, tem mais de 70 artigos publicados, enfim, fez, faz e acontece. Mais: é um gênio para simplificar ciência para idiotas, como eu.
Ele é um homem da física quântica em busca da menor partícula do universo, um dos criadores da teoria das cordas. São filamentos parecidos com os da lâmpada incandescente, milhões - ou bilhões? - de vezes menores do que um átomo.
Ou, como ele explica: as partículas ou filamentos são como as notas musicais numa corda vibrante, a física é a harmonia destas cordas, a química é a melodia, o universo é uma sinfonia de cordas e a cabeça de Deus que Einstein tentou decifrar é a musica cósmica que ressona no espaço.
Sacou?
Se tem alguma dúvida, leia o livro dele, recém-lançado, The Future of the Mind, em que Michio Kaku nos conta que o cérebro é o maior mistério do universo e que, nos últimos dez, quinze anos, aprendemos mais sobre ele do que em toda a história. São capítulos com informações vibrantes, das mais metafísicas a aplicações práticas para nossas nossas doenças mentais - da memória fraca ao Alzheimer.
Com US$ 1 bilhão americano, outro bilhão europeu e milhões asiáticos, o cérebro está sendo mapeado, como foi feito com o genoma, mas é muitíssimo mais complicado.
O genoma tem mais ou menos 23 mil genes. O cérebro tem 100 bilhões de neurônios, cada um ligado a outros dez milhões.
Esquizofrenia, epilepsia e Asperger, são conexões defeituosas. O plano é limpar o cérebro de óleos e outras matérias e ter uma visão transparente da fiação com seus filamentos vibrantes e, aí sim, poderemos ver/ouvir a divina música cósmica.
Já é possível fazer um download do cérebro de um rato e a ressonância magnética de um cérebro humano durante um sonho. Num futuro não muito distante, daqui a uma ou duas décadas, vai ser possível fazer umdownload de todas as informações acumuladas num cérebro fragilizado ou ameaçado por doenças e reinseri-las para quando a memória começar a falhar.
Ou, mais assombroso, fazer um download de tudo o que está no nosso cérebro, inclusive voz, uma forma de vida eterna.
Quem está interessado no meu? Não tenho nenhum interesse de pegar o bonde da eternidade.
Meu sonho é um deletador de inutilidades e chatices e um download para achar os óculos e o chaveiro.
06 de março de 2014
Lucas Mendes, BBC Brasil
Prontuário eletrônico organiza e disponibiliza informação de forma ágil e eficiente. Decidi que não o usaria em meu consultório há anos. Um colega informatizou o consultório. É competente em sua área, temos vários pacientes em comum.
Quando ele foi um dos primeiros a usar prontuário eletrônico, achei que deveria fazer o mesmo. Logo porém, um paciente que atendíamos contou que a consulta com o colega havia mudado: “…ele quase não me olhou, só olhava a tela e digitava no computador…” Essa observação gerou a dúvida. Aos poucos firmei a ideia de não usar computador nos atendimentos.
Este instrumento entrou em nossa vida e trabalho. Em muitas ocasiões o utilizo para buscar informação, mesmo durante atendimentos. Mas não mudei, o foco da consulta é e tem que ser na pessoa. Se algo puder interferir na atenção, temos que evitar. Há quem utiliza prontuário eletrônico sem desviar o foco. Este não tem que mudar.
Há dias uma senhora sentiu-se tonta ao levantar, caiu, bateu a cabeça. Buscou atendimento no único hospital da cidade onde estava. Foi colocada no protocolo de infarto do miocárdio, embora faltassem muitos elementos para pensar em infarto. Após horas repetindo exames, já cansada e sentindo-se bem, retirou-se sob o protesto da equipe técnica, pois pelo protocolo faltava mais uma bateria de exames. Protocolos e computadores mal utilizados não ajudam, podem atrapalhar.
Atendimento médico é único e individual, não há dois iguais, cada pessoa é única, cada caso é peculiar. O encontro da pessoa com o médico não se repete nem padroniza. Se o foco for o meio (o registro) ao invés da finalidade (o atendimento), perde-se qualidade.
Pacientes perguntam por vezes se não vou aderir ao prontuário eletrônico. Conto-lhes a história do colega que deixou de olhar para os pacientes, e invariavelmente ouço situações vividas por eles que confirmam o desvio do foco. Isso acho inaceitável. O foco do médico continua e não pode deixar de ser na pessoa.
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