"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 14 de dezembro de 2013

SEAN WEST: O JOGO DO COMÉRCIO ESTÁ ACONTECENDO DE FATO FORA DA OMC

DIRETOR DO EURASIA GROUP DIZ QUE BRASIL TEM QUE DEFINIR LOGO EM QUE BLOCO QUER ESTAR

Os Estados Unidos não estão "jogando o jogo da OMC", diz Sean West, diretor para os Estados Unidos do Eurasia Group, influente consultoria de risco político global, ao comentar as negociações de comércio internacional lideradas pelo brasileiro Roberto Azevêdo, diretor da Organização Mundial do Comércio.
 
Na semana passada, pela primeira vez, todos os países-membros da entidade chegaram a um consenso sobre a simplificação das políticas alfandegárias e a redução de subsídios agrícolas.
 
"O jogo de verdade está acontecendo fora da OMC, nesses blocos regionais."
 
Estudioso da Aliança do Pacífico, o bloco entre EUA e 11 países asiáticos e latino-americanos (conhecido pela sigla em inglês TPP), ele opina que Obama assinará o ambicioso acordo comercial em 2015 e que o Brasil "precisa se decidir em que grupos quer participar" e "qual é o futuro do Mercosul".
 
O consultor também diz que o risco político nos EUA diminuiu com o novo Orçamento, aprovado na quinta pela Câmara, num consenso raro entre oposição e situação.
 
"Mas Obama ainda tem um grande risco de perder o Senado, nas eleições legislativas de 2014, o que deixaria a oposição controlando as duas casas do Congresso."
 
West, que já trabalhou no Fed, o banco central americano, é formado em política internacional pela Universidade de Georgetown e tem mestrado em política pública da Universidade da Califórnia-Berkeley.
 
Ele recebeu a Folha em seu escritório em Washington.
 
OMC e EUA
A OMC conseguiu uma vitória importante, depois de anos de paralisia, [Roberto] Azevêdo foi muito habilidoso, mas ninguém ligou por aqui. O jogo de verdade está acontecendo fora da OMC, nesses blocos regionais.
O da OMC não é o jogo que os EUA estão jogando. A OMC tem 180 países, vários emergentes querendo mais espaço, mas em que só um único país pode colocar tudo a perder. Os EUA querem "coalizões de boa vontade comercial", entre países que realmente queiram mais comércio.
 
Mercosul
O Brasil tem perguntas importantes a fazer. Qual é o futuro do Mercosul, como e se vai abraçar ou não oportunidades comerciais, em que rede ou bloco vai querer estar, que proteções ou barreiras quer manter.
 
Competitividade
Reformas de competitividade serão fundamentais para qualquer país que quiser competir. Só um governo popular e confiante consegue aprovar um tratado assim.
Aqui nos EUA, as indústrias de baixa tecnologia, os têxteis e parte da agricultura vão sair perdendo, não há dúvida. Mas, se EUA e Vietnã conseguem negociar e integrar padrões de concorrência, qualquer economia que esteja entre esses dois tem condições de participar.
 
Parceria Transpacífica
Obama tem toda a intenção de aprovar o TPP (a Parceria Transpacífica, na sigla em inglês). Ele colocou um de seus principais conselheiros econômicos, Michael Froman, como ministro para o comércio internacional e em abril vai à Ásia para recuperar os ânimos, após adiar sua viagem em outubro por causa do "fechamento" do governo.
Ele vai amarrar tudo com os demais países antes de levar ao Congresso. Tirando os extremos, alguns republicanos isolacionistas e os democratas mais dependentes dos sindicatos, a maioria do Congresso quer mais acordos comerciais. O momento é bom. Até 2015 ele aprova.
 
Europa
O acordo com a Europa será mais lento. Havia mais interesse do lado europeu que do americano e, com as denúncias de espionagem, o interesse esfriou por lá.
 
Orçamento
Esse acordo para aprovar o orçamento não é pouca coisa, não. Tira do horizonte o risco de outro apagão no governo por dois anos e reduz o risco político do país.
Aumenta em muito pouco o gasto público e tira o Congresso do piloto automático dos últimos dois anos.
 
Sem calote
O risco de calote cai muito. O teto do endividamento deve ser ampliado e o calote não é mais opção.
Obama ainda sofre com a queda na popularidade por causa de problemas do lançamento do seu plano de saúde, e os republicanos continuam disfuncionais, mas acho que teremos menos surpresas pela frente. O próximo ano será de maior clareza nos EUA.
 
Recuperação
O deficit a longo prazo é sustentável. O próprio crescimento da economia ajuda a reduzir esse deficit.
Os números são positivos: o desemprego está caindo, a compra de imóveis aumentou e as descobertas fabulosas de energia subterrânea que aumentaram muito a produção neste país mudaram o ânimo e a competitividade.
 
Congresso
Não é impossível para Obama recuperar a popularidade e consertar o plano de saúde.
Mas ele ainda tem um grande risco de perder o Senado, nas eleições legislativas de 2014, o que deixaria a oposição controlando as duas casas do Congresso.
Seria um ambiente pior para ele.
Reformas de impacto, como a do setor trabalhista ou a reforma tributária, não são votadas.

14 de dezembro de 2013
RAUL JUSTE LORES - DE WASHINGTON - Folha de São Paulo

Nenhum comentário:

Postar um comentário