"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 12 de outubro de 2013

NOTAS POLÍTICAS DO JORNALISTA HELIO FERNANDES

Conversa com Aquino sobre suplentes sem representatividade. Os super-salários no Congresso. A derrama de dinheiro no plesbicito de Jango e na privataria de FHC.



Desculpe, Antonio Santos Aquino, mas o suplente sem voto, sem povo, sem urnas, é inaceitável. Até 1986, existiu uma forma, que poderia ser restabelecida: a sublegenda. O cidadão era candidato a senador ou prefeito, podia registrar um ou dois nomes como sublegendas.
Eram votados, a legenda e sublegendas que somassem mais votos venciam, o mais votado assumia e  o segundo era o substituto eventual. E se o ocupante da sublegenda tivesse mais votos do que o da legenda, ele assumia.
 
FHC EM 1978
Esse é o melhor exemplo, candidato na sublegenda de Franco Montoro, do PMDB. Montoro teve 3 milhões de votos, FHC 300 mil, o primeiro mais votado na sublegenda. Quando Montoro se elegeu governador em 1982, FHC assumiu o mandato por quatro anos. Começou a carreira. Mas teve votos. Como mentia sempre, igual a Dona Dilma, espalhou que “havia sido cassado”. Então, como se candidatou em 1978, antes da anistia?
 
MINHA CANDIDATURA EM 78
Nesse ano o MDB lançou minha candidatura ao Senado. Em 1966 fui cassado por 10 anos, portanto devia acabar em 1976. Em 1978, o partido considerou que eu estava livre. Só que o ministro da Justiça, Armando Falcão, respondeu: “Agora a cassação não é mais por 10 anos e sim para sempre”.
 
MINHA MISSÃO: CONVIDAR ALGUÉM
Sugeri o nome de Evaristo (Evaristinho) de Moraes, nobre figura, grande advogado, que me defendeu dezenas de vezes. Foi aplaudido de pé, fui conversar com ele, o que fazia praticamente todos os dias. (Ele e George Tavares, também notável, trabalhavam juntos).
 
Contei o que acontecera, o MDB estava mobilizado pelo seu nome, seria eleito e um representante digno do povo carioca. Resposta de Evaristinho que lamentei ter que comunicar à direção do MDB: “Helio, obrigado pela sugestão, não posso aceitar. Sou fundamentalmente advogado, não abomino nem desprezo a política representativa. Acontece que, se a capital continuasse aqui, eu poderia ser advogado e senador. Mas tendo que mudar para Brasília, isso seria impossível”.
 Duas frustrações e nenhuma candidatura.
 
EM 1966, ENTREI NA JUSTIÇA CONTRA A DITADURA
Cassado, proibido de escrever ou dirigir jornal, fiquei meses preso. Quando saí, voltei a escrever como fiz a vida inteira, só que com pseudônimo. Escolhi João da Silva, nome de um “pracinha” que morreu na Itália.
 
Ao mesmo tempo, processei o ditador de plantão, Castelo Branco, reivindicando meu direito de trabalhar. Evaristinho e George Tavares argumentaram: “Trabalhar é um direito e uma obrigação”.
 
O processo foi para o juiz Hamilton Leal, presidente da Liga Eleitoral Católica (LEC). Encampou a defesa dos advogados, mandou que eu pudesse escrever com o meu nome. Examinaram a questão, não quiseram enfrentar a Igreja Católica, passei a assinar meu nome.
 
FUI O ÚNICO JORNALISTA CASSADO E PROIBIDO DE ESCREVER
Dois anos depois, já com Costa e Silva, Antonio Callado foi cassado e proibido de escrever. Surpresa total. Callado era notável figura, mas não ativista. O Jornal do Brasil, riquíssimo, já estava providenciado a ida de Callado para Paris, mandaria correspondência, sem assinar.
 
Quatro ou cinco dias depois, Costa e Silva comunicou oficialmente: “Antonio Callado continua cassado, mas não está proibido de escrever”. Ficou por aqui até 1968, quando foi como repórter para o Vietnã. Mandou reportagens excelentes.
 
EXEMPLO DE BLOOMBERG
Foi eleito (e reeleito) prefeito de Nova Iorque, tinha um patrimônio de 13 BILHÕES de dólares. Agora, não quis mais. Deixará a prefeitura com a mesma fortuna, referendada pela Forbes e a Fortune, revistas que avaliam quanto têm os homens públicos.
 
Dono de uma agência de notícias das mais importantes do mundo, não houve conflito de interesse com a prefeitura. Quando decidiu ser prefeito, formou um grupo de especialista, liderado por um grande amigo. Queria saber quanto custaria.
 
Três meses depois: “Sua campanha custará 170 milhões de dólares”. Fez o cheque na hora. No meio, faltaram 40 milhões, outro cheque. Adversários acusaram Bloomberg de corrupção eleitoral.
O tribunal recusou a acusação, explicou: “Como pode ser corrupção se o dinheiro é ele, a origem é garantida pela Receita?”. Registrou a candidatura.
 
OS SUPER-SALÁRIOS NO CONGRESSO
O TCU mandou cortar os salários. Tudo bem, se existe um teto, ele tem que ser cumprido. Mas, em hipótese alguma, os funcionários devem ser responsabilizados.
 
Culpados: o presidente do Senado e o da Câmara, ou as duas Mesas.
Os funcionários já serão atingidos pelos cortes. Alguns recebiam mais de 40 mil ou até 50 mil, voltam para 28 mil.
Mas não são eles que fazem as folhas de pagamento, nem estipulam salários. Agora, ficam no teto. Aí, se receberam mais do que isso, será indevido. Antes, não.
 
PLEBISCITO E PRIVATARIA
O comentarista André Fluminense pergunta sobre a derrama de dinheiro no plebiscito de Jango e na compra da reeleição de FHC. Sem dúvida alguma, André, o plebiscito de 63 foi um festival de dinheiro jamais visto. A comparação não é com a compra da reeleição de FHC e sim com a privataria do governo dele.
 
O segundo maior escândalo financeiro dos últimos 53 anos da República: a compra do plebiscito para a volta ao presidencialismo. Mas a DOAÇÃO de F HC é sem dúvida a maior catástrofe ou massacre do futuro do país. Além de ter entregue as maiores empresas brasileiras, recebeu nas famosas moedas podres. O governo FHC permitiu que pagassem (?) em ações de empresas falidas, papéis que nem mais circulavam.
 
A relação era em média a seguinte. Valor de face: digamos, 5 cruzeiros. Valor de mercado: 10 centavos, porque não podia ser menos. (Só na “maquininha”, o Brasil perdia 50 vezes em cada DOAÇÃO).
 
Ao menos, salvou-se (salvou-se?) a Petrobras, mas FHC implantou os famosos “leilões”. Dona Dilma (como já provei com fatos, dados e nomes), antes de ir para o governo Lula, combatia esses leilões.
 
Já ministra, e usando Nelson Jobim (então no Supremo) como intermediário, manteve esses criminosos “leilões”, que Lula encampou e ela ainda mais. (Vão cometer agora o crime maior, o leilão do campo de Libra.
Não existe ninguém que possa impedir isso? E os crimes da DOAÇÃO de FHC não serão investigados?)
Crime de lesa-pátria não prescreve.
 
O DINHEIRO DO PLEBISCITO
Correu dinheiro vivo para o plebiscito de 6 de janeiro de 1963. os banqueiros e grandes empresários participaram ativamente do patrocínio dessa volta ao presidencialismo. É impossível fazer um cálculo de toda essa fortuna, porque era financiada diretamente, com “dinheiro vivo”.
O Banco Nacional foi um dos maiores cooptadores dessa dinheirama. Ele pertencia a Magalhães Pinto, mas estava inteiramente nas mãos de um sobrinho. Os filhos de Magalhães, muito moços, ainda estavam em Minas Gerais. Só bem mais tarde viriam para o Rio.
 
O SOBRINHO INFLUENTE
Mandava de verdade. Enriqueceu faustosa, mas não perdulariamente, para o resto da vida. E não enriqueceu apenas monetariamente, e sim em matéria de prestigio. Colocou com editor do “Jornal do Brasil” um jornalista de 32 anos.
E um outro, ainda mais moço, que ia para o “Estado de S. Paulo”, foi convencido a dirigir o “Diário Carioca”. E de lá “pular” para o Globo, morreu moço.
 
JANGO PROVOCOU TUDO
Depois do 6 de janeiro de 1963, passou todo poderoso. Pediu duas vezes a intervenção na Guanabara, os líderes do PSD e PTB, majoritários e ligadíssimos a ele, não aceitaram.
João Goulart não parou mais, quer dizer, foi parado em 1º de abril de 1964. Os generais queriam o golpe de qualquer maneira, arranjariam outra desculpa. Mas Jango foi um príncipe na ajuda aos generais, historicamente golpistas, desde a República.
                

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