Post do Leitor: Médico brasileiro pede desculpas aos médicos cubanos — os corretos e competentes
Eu, médico e cidadão brasileiro, nascido e formado na região sudeste, atualmente residente no Estado do Tocantins pude acompanhar de perto a primeira experiência ocorrida no Brasil, quanto a imigração de médicos estrangeiros para trabalhar em nosso país sem revalidação de diplomas.
Há aproximadamente 13 anos atrás, me deparei com um cenário complexo, desconfortante, indefinido mas que era ao mesmo tempo desafiador e intrigante.
O estado do Tocantins representava naquele tempo, uma boa opção de mudanças e de novas e boas oportunidades, o estado parecia um canteiro de obras, com todas as lentes das grandes emissoras voltadas para o mais novo estado da união.
Parecia que a era de Juscelino Kubitschek tinha voltado e que uma nova Brasília estava sendo construída. Não podemos negar que foi uma vitória construir uma capital como Palmas no meio do nada. Dificuldades mil foram enfrentadas por todos que apostaram naquele empreendimento.
Havia no campo da saúde pública um conflito imenso, muito semelhante ao que ocorre hoje no Brasil atual, quanto a importação de médicos cubanos sem a revalidação dos diplomas.
O conflito era enorme e as vezes nos colocava em situações constrangedoras, pois corríamos o risco de perdermos os nossos CRM’s caso entrássemos em algum procedimento médico com um profissional estrangeiro, e houvesse alguma complicação técnica com o paciente.
Era ao mesmo tempo constrangedor e triste essa situação. Ficávamos envergonhados de ter que conviver de forma desigual com um “igual” colega médico cubano.
Não vou me ater a esses problemas loco-regionais do passado que hoje estão tão presentes a nível nacional, pois o objetivo deste texto é outro.
O real objetivo deste texto é pedir desculpas aos colegas cubanos que hoje trabalham de forma regular em nosso país, principalmente no Estado do Tocantins, que tiveram a coragem de revalidarem os seus diplomas e que hoje prestam um grande e bonito serviço ao povo de nosso estado , pelos comentários que as vezes ouvem com relação aos seus colegas médicos cubanos que entram em nosso país de forma “irregular”.
Eu, como médico brasileiro, que trabalha no SUS, que é pai de uma filha que faz medicina e que como professor universitário, vejo as dificuldades de muitos alunos de medicina para se formarem e a igual dificuldade de seus pais em pagarem os seus cursos, sou um ativista, um militante incansável contra essa política demagógica e venal deste governo, que teima em iludir a população brasileira com medidas demagógicas e eleitoreiras, sem nenhum efeito prático que realmente beneficie a população, já fui pego algumas vezes, falando mal dessa leva de “escravos de branco” que são traficados para o nosso país, na presença de amigos e colegas legalizados cubanos. Sempre foi muito constrangedor.
Não o fiz por insensibilidade ou por provocação. Se tivesse visto a presença desses colegas com certeza, naquele momento, teria contido minha indignação e revolta. E quando isso aconteceu, tive a humildade de pedir desculpas aos meus queridos amigos.
Existem médicos cubanos ruins e despreparados? A resposta a esta pergunta é sim. Da mesma forma que existem médicos brasileiros de baixa qualidade. A questão não é essa.
O que se pede é que tenhamos a oportunidade de verificarmos a qualidade dos profissionais que estão sendo trazidos para cuidar de nossa população carente, através de uma prova honesta e justa; não uma prova ridícula e elaborada com o objetivo de tentar passar a todos, como esta que o governo federal diz que aplica, na tentativa de dourar a pílula de veneno e mais uma vez enganar a opinião pública. Para não falarmos no desrespeito a legislação brasileira e aos conselhos de classes regionais e federal.
Finalizando, gostaria de deixar bem claro aos médicos cubanos legalizados, e ao povo cubano em geral, que eu e a classe médica brasileira, respeitamos muito o povo daquele bonito, porém sofrido país.
Que repudiamos qualquer tipo de ditadura, de esquerda ou de direita e que ficamos envergonhados de ver nosso governo, utilizar o seu povo de forma tão humilhante, como instrumento para perpetuarem-se no poder.
Que ficamos envergonhados de ver as autoridades trabalhistas brasileiras, os direitos humanos, os grupos de defesa afro-descendentes fazerem vistas grossas a esta absurda situação que representa sem sombra alguma de dúvidas, uma verdadeira escravidão em pleno século XXI.
São a essas aberrações a que nos referimos e que tanto repudiamos e criticamos.
Se alguns comentários as vezes respingam no seu povo, é porque alguns de seus compatriotas descem dos aviões, como Zumbis, carregando bandeiras de Cuba, do MST e do Brasil, como se tudo fosse e representassem a mesma coisa. Isso nos afronta.
Apesar de sabermos que esta atitude não é espontânea e nem muito menos voluntária, ela nos ofende e desrespeita nossa democracia e nossa soberania.
Vivemos em um país onde a democracia agoniza, mas ainda sobrevive, não sei por quanto tempo, cabe a nós médicos brasileiros, mantê-la na UTI.
Se vão desligar ou não os aparelhos isso não depende apenas de nós. Neste caso, o aparelho ventilador, conhecido como respirador, não é o principal responsável pela sobrevivência desta tão encantadora” senhora”, mas sim a velha e corrupta URNA ELETRÔNICA, sim ela mesma, aquela urna, que digitamos e não sabemos para onde vão os nossos votos.
Grande abraço e mais uma vez pedimos desculpas a vocês por algum mal entendido.
Nós médicos brasileiros sonhamos em ver algum dia vocês serem tratados com o respeito que vocês merecem.
Viva a democracia e abaixo a ditadura, venha de onde ela vier .
07 de outubro de 2013
Ricardo Setti - Veja
Post do leitor Dr. Roberto Corrêa R. de Oliveira
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