"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

OUTRA PIADA DO ANO: DATAFOLHA TENTA JUSTIFICAR AS CONTRADIÇÕES DE SUA PESQUISA

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Charge do Newton Silva (newtonsilva.com)
Pesquisa Datafolha divulgada nos últimos dias trouxe uma aparente contradição: como pode a maioria dos brasileiros defender a prisão do ex-presidente Lula, em função da Operação Lava Jato, mas mesmo assim escolher novamente o petista para ocupar o cargo nas eleições do próximo ano? Uma observação mais atenta dos resultados e da frequência de suas ocorrências já esclarece bastante a questão. A posição sobre a pena de Lula está longe de ser unânime – com base no total da amostra, 54% acham que ele deve ser preso, mas 66% duvidam que isso aconteça de fato.
A reprovação de sua prisão chega a 81% entre seus eleitores, mas mesmo entre os que apoiam determinados candidatos, como Marina Silva, por exemplo, um quarto do estrato é contra.
POTENCIAL MÁXIMO – Nas simulações eleitorais, seu melhor desempenho soma 48% numa hipótese de confronto contra João Doria (PSDB) no segundo turno. Com base em sua taxa de rejeição (42%), é possível afirmar que seu potencial máximo, hoje, chega a 58% das intenções de voto.
O conjunto destes dados, com percentuais muito próximos a 50%, mostra, na verdade, a opinião pública dividida em relação à figura do ex-presidente.
A conclusão, no entanto, nos remete a outro paradoxo: como Lula consegue manter esse capital eleitoral, em meio a denúncias da Lava Jato, mesmo com 87% dos entrevistados dizendo que valorizam muito um candidato a presidente que nunca tenha se envolvido em casos de corrupção? A resposta está no grau de concordância dos brasileiros com algumas frases aplicadas pelo Datafolha para medir a tolerância da população com a corrupção na política.
CAI A TAXA – Da análise conjunta de uma matriz com seis frases, quatro de correlação direta com o tema, percebe-se que essa taxa elevada de eleitores que condenam tal crime cai praticamente pela metade quando ele é associado a determinados fins.
No total, apenas 40% dos entrevistados mantêm-se firmes na posição de condenar a corrupção sob qualquer aspecto. A maioria (60%) a admite, mesmo que em parte, em algum momento, dependendo da finalidade a que é associada.
Entre os que pretendem votar em Lula, eleitorado de menor renda e baixa escolaridade, esse percentual chega a 77%. Também é elevado entre os mais jovens.
CORRUPÇÃO ACEITÁVEL – Com tal perfil, fica fácil compreender, dentre as frases testadas, o motivo da afirmação “a corrupção é até aceitável se ela servir para manter um governo que combata a pobreza” ser a que mais divide opiniões.
Entre os que querem votar no ex-presidente, 38% discordam totalmente do ponto, enquanto 50% concordam pelo menos em parte. Entre os eleitores de Bolsonaro, essas taxas correspondem a 72% e 21%, respectivamente.
Outras frases que relativizam junto ao eleitorado a criminalização da corrupção são: “A corrupção é até aceitável no país se servir para gerar empregos e fazer a economia crescer” e “Se um governante administra bem um país não importa se ele é corrupto ou não”.
TOLERÂNCIA – A explicação para a tolerância com a corrupção diante de ações sociais está justamente no peso quantitativo do eleitorado mais carente – em um universo onde 47% têm renda familiar mensal de até dois salários mínimos, taxa que cresce para 66% quando se inclui até três salários, a demanda por políticas públicas para a diminuição da desigualdade sempre gera apelo eleitoral.
Em tempo: a maioria dos entrevistados concorda, mesmo que em parte, com a frase: “Tanto as qualidades quanto os defeitos dos políticos brasileiros são um retrato da população do país”.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Neste artigo, Mauro Paulino, diretor-geral, e Alessandro Janoni, diretor de pesquisas do Datafolha, fazem um contorcionismo impressionante para justificar as contradições da pesquisa. Chega a ser comovente. Mas não explicam o principal. Se 54% dos brasileiros defendem a prisão do ex-presidente Lula, como é que 48% pretendem votar nele no segundo turno? Além disso, 87% dos entrevistados dizem que valorizam muito um candidato a presidente que nunca tenha se envolvido em casos de corrupção. A pesquisa logo virou Piada do Ano, porque mostra também um crescimento impressionante da direita, mas registra que isso não impedirá a vitória do Lula. Diante disso, a gente lembra aquela definição de estatística: “É a arte de torturar os números, até que eles confessem o resultado que pretendemos”. Depois que publicamos esta definição aqui na “Tribuna”, muitos jornalistas passaram a divulgá-la sem citar a origem. (C.N.)


04 de outubro de 2017
Mauro Paulino e Alessandro Janoni
Folha

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