Os investidores estão apostando todas as fichas que o governo conseguirá aprovar a reforma da Previdência até o fim do primeiro semestre deste ano. Tal perspectiva foi reforçada com a reeleição de Rodrigo Maia para a Presidência da Câmara dos Deputados. Ainda que reconheçam que o Palácio do Planalto cortará um dobrado para levar adiante as mudanças que instituem, entre outros pontos, idade mínima para aposentadoria de 65 anos a todos os trabalhadores, creem que a base aliada de Michel Temer ficou mais forte do que antes das vitórias de Maia e de Eunício de Oliveira, que assumiu o comando do Senado.
A confiança dos agentes de mercado na aprovação da reforma previdenciária está na base da complacência dos analistas em relação às contas públicas. Analisando friamente, a situação fiscal do país é dramática. O rombo no ano passado — o terceiro seguido — atingiu o recorde de R$ 155,7 bilhões. Em 2017, o buraco previsto é de R$ 139,5 bilhões.
PREVIDÊNCIA – Os investidores acreditam, porém, que o ajuste gradual das contas públicas conduzido pelo governo Temer está no caminho certo. E as mudanças da Previdência devem permitir que, daqui a três ou quatro anos, o país volte a ter superavit primário, isto é, as receitas superem as despesas sem levar em conta os gastos com juros.
O mercado comprou tanto esse ajuste que, semanalmente, tem reduzido as perspectivas de inflação. Parte dos especialistas acredita, inclusive, que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechará este ano abaixo da meta de 4,5%, o que não se vê desde 2009, quando o estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos solapou o mundo.
INFLAÇÃO MENOR – São as expectativas cada vez menores de alta para o custo de vida que têm permitido ao Banco Central reduzir a taxa básica de juros (Selic) e levado os analistas a melhorem, mesmo que ligeiramente, as estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB).
Na opinião de Tony Volpon, ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC, é importante ressaltar que a tolerância dos investidores com o governo e o ajuste fiscal é finita. Quer dizer: quando 2018 chegar, se a reforma da Previdência não tiver avançado e os resultados do prometido ajuste ficarem comprometidos, a decepção tenderá a detonar uma onda de pessimismo. Será um baque. Da mesma forma como os donos do dinheiro deram voto de confiança a Temer, não hesitarão em retirá-lo.
Independentemente do que está por vir, Volpon acredita que o governo deveria aproveitar a boa maré para começar a reduzir a meta de inflação, de 4,5%. Em junho próximo, o Conselho Monetário Nacional (CMN) terá que definir o objetivo a ser perseguido pelo BC em 2019.
META MENOR – O ideal, acredita o ex-diretor da autoridade monetária, é que a meta seja diminuída em pelo menos 0,25 ponto percentual, para 4,25%. “É pouco, mas será um sinal importante de comprometimento do governo com o controle da inflação. Certamente, os agentes de mercado reforçarão a confiança no cumprimento da meta inflacionária”, diz Tony Volpon.
Com a meta menor, os investidores darão, por tabela, um importante empurrão para a retomada do crescimento. Passarão a negociar taxas de juros menores no mercado futuro. Como essas taxas servem de parâmetro para a formação do custo do crédito, os bancos tenderão a baratear os empréstimos e financiamentos, um alívio para as famílias e as empresas.
“O momento é muito favorável para o governo, pois tem forte apoio político e há confiança no ajuste fiscal. Mas esse quadro favorável será muito testado em 2018, já que a arrumação das contas públicas enfrentará grandes desafios, sobretudo por não contar mais com os efeitos da inflação alta do passado para incrementar as receitas”, conclui.
05 de fevereiro de 2017
Vicente Nunes
Correio Braziliense
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