A princípio, a queda de um avião durante operações de pouso em Angra dos Reis e Paraty, no Triângulo das Bermudas tupiniquim, não é uma ocorrência estranha. Dezenas de aeronaves na região conhecida como serra do Mar perderam o rumo e se chocaram com algum obstáculo do planeta nos últimos 20 anos. As condições da baía de Angra e da serra do Mar são naturalmente adversas, as nuvens se acumulam contra o paredão da serra, gerando até 200 dias de chuvas por ano. Neblina, vento, chuvas, trovoadas e muito calor são fenômenos normais e rotineiros, especialmente no verão.
Nesse trecho costeiro desapareceu Ulysses Guimarães, deixaram a vida Eduardo Campos e, agora, Teori Zavascki, como ao menos uma centena de vítimas durante voos malsucedidos.
Pousei, por dez anos, em Angra e Paraty e já me encontrei com ao menos 20 pousos abortados de última hora, ou voltando para Minas, ou descendo no Rio de Janeiro para alcançar Angra excepcionalmente de carro. Também navegando pelas águas da baía homônima, e nas praias, já recolhi destroços de helicópteros e outras aeronaves, abatidos por fenômenos atmosféricos imprevisíveis e repentinos.
LÓGICA DOS VENTOS – Nenhum piloto gosta de pousar em Angra, a não ser nos raros dias de céu de brigadeiro. A aproximação para o pouso não obedece à lógica dos ventos. As pistas são curtas e operam apenas no sentido do mar para a terra, já que a serra do Mar, de 900 metros de altitude, encostada na pista, não permite operar no sentido da terra para o mar.
Quem desce no Espírito Santo ou na Bahia realiza o pouso em 90% das vezes exatamente como é comum. As pistas podem operar no sentido que oferece mais segurança com o vento de proa. O contrário, com vento empurrando pela popa, deixa crítica a operação.
A serra, numa cabeceira da pista, admite operar pouso no sentido mais adverso. E, se necessário for arremeter – transformar o pouso de última hora numa decolagem –, a operação será crítica, de ângulo muito fechado. Nessa situação teria perdido sustentação o moderno jato que carregava Eduardo Campos.
UM RISCO MAIOR – Portanto, estatisticamente o risco de acidente em Angra e Paraty é maior que em outros locais do país. Dessa forma, o acidente da última quinta-feira se deu num local especialmente adverso, ou simplesmente reconhecido como crítico e que recomenda operações, especialmente de pouso, apenas em dia de tempo bom.
Contudo, que azar… para quem esperava que a justiça, enfim, mesmo que tardia, chegasse ao resultado almejado pela nação brasileira, interrompendo o curso da Lava Jato e abrindo a única e rara hipótese para que o rumo da operação de faxina possa sair dos trilhos.
Obviamente o episódio abre brecha para que as centenas de acusados de envolvimento com os bilionários desvios da Petrobras e demais estatais passem por outras mãos, escolhidas pelo presidente e referendadas pelos réus, parlamentares acusados.
ATENTADO – Mesmo que a fatalidade seja a principal hipótese do desastre nesse triângulo infausto de Angra, ninguém tira a possibilidade, até o momento (como se deu com o avião de Eduardo Campos), que um artefato programado tenha inutilizado uma turbina próximo da chegada ao destino, impossibilitando a operação normal de pouso.
Se o acidente entra num campo de “aceitabilidade estatística”, o que foge da “normalidade“ é a queda de aeronaves em momentos estranhos e que mudam, ou invertem, o sentido da história do país.
O desastre com o avião da Gol – colocado em rota de colisão por erro (involuntário…?) do controle aéreo (da Aeronáutica) de Brasília em 2006 – barrou a queda nas pesquisas de Lula (encalacrado no escândalo do Hotel Ibis). Não é que afirmo o envolvimento do presidente, mas alguém que tivesse um forte interesse na vitória ter manobrado para “fabricar” o incidente.
A morte de Eduardo Campos, em 13 de agosto de 2014, se deu faltando três dias para o início da propaganda eleitoral gratuita que seria o trunfo do pernambucano, de se impor na campanha presidencial.
MOMENTO ESTRANHO – Agora a morte de Teori ocorre de novo num momento “estranho” e capaz de mudar a história, no derradeiro instante em que as 900 delações que envolvem mais de cem parlamentares e políticos, a nata do poder no país, seriam liberadas por ele. Ele mesmo repetiu várias vezes que, voltando desse descanso (férias) na praia, daria asa à fase decisiva da Lava Jato. E ninguém considerava que ele estivesse blefando.
Por norma, o sucessor do ministro do STF herda, além da poltrona, todos os processos do antecessor, indicado pelo presidente e referendado pelos próprios senadores, que são, neste caso, os investigados.
A morte do ministro coincide provavelmente com a única possibilidade de mudar uma história que já estava se consolidando.
SEM APURAÇÃO – Todos esses acidentes não tiveram uma apuração minimamente decente. Foram deixados nas mãos da Aeronáutica brasileira, que tem “autonomia” para fazer exatamente aquilo que interessa aos ocupantes do poder.
Enfim, parece oportuno e dever de Temer deixar que o STF, e não ele, escolha o novo relator da Lava Jato. E ainda dar uma revisada nos demais desastres aéreos que mudaram os rumos da história brasileira. Polícia Federal, PGR e técnicos brasileiros e estrangeiros deveriam ser escalados para uma investigação isenta e insuspeitável, urgente e necessária.
Chegou a hora de, com a morte de Teori, dar um basta à teoria da conspiração, que perturba as consciências mais despertas deste país.
23 de janeiro de 2017
Vittorio Medioli
O Tempo
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