Com a perda do mandato, a ex-presidente Dilma Rousseff agora corre o risco de integrar a lista dos investigados pela força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba. Dilma já foi citada por pelo menos quatro delatores: Alberto Yousseff, Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró e Delcídio do Amaral. Só os dois primeiros a citaram nominalmente 11 vezes nos 190 termos de depoimentos prestados.
Outros dois réus da Lava-Jato com negociação de delação premiada em curso afirmaram aos investigadores, nas conversas preliminares, que Dilma sabia que parte dos recursos para a campanha tinha origem no esquema de corrupção na Petrobras. Por enquanto, os investigadores vêem as informações com reservas e adiantam que Dilma só será investigada se forem apresentados documentos que comprovem que ela tinha, de fato, conhecimento de fraudes na estatal. As delações ainda não foram fechadas e nenhum documento foi apresentado.
“Os elementos até agora apresentados são circunstanciais e não trazem materialidade nenhuma contra a presidente. Por força de lei, não aprofundamos nenhuma menção em depoimentos feitos à PGR. Caso ela venha perder o foro por prerrogativa de função, teremos que avaliar se há indícios para abrirmos investigação”, afirmou um investigador da força-tarefa ouvido pelo Globo.
OBSTRUÇÃO Á JUSTIÇA – O ministro Teori Zavascki, responsável pela Lava-Jato, autorizou este mês a investigação de Dilma e Lula por obstrução à Justiça, que inclui a nomeação de Lula para a Casa Civil e a delação do ex-senador Delcídio Amaral, que falou sobre uma articulação para nomear o ministro Marcelo Navarro Ribeiro Dantas para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) com o objetivo conceder liberdade a empresários presos na Lava-Jato. Também são investigados os ex-ministros Aloizio Mercadante e José Eduardo Cardozo.
Quanto à Lava Jato, a ex-presidente Dilma Rousseff voltou a afirmar que cabe ao Ministério Público e aos delatores provarem as acusações de seu suposto envolvimento nos desvios na Petrobras. Procurada, a assessoria de imprensa de Dilma divulgou nota em que afirma que “a presidenta está tranquila quanto à sua inocência”. A assessoria também disse “que não pesam sobre ela (Dilma) nada mais que acusações injustas e infundadas. A verdade virá à tona”, diz a nota.
Dilma integrou o governo do PT desde o princípio. Em 2003 foi nomeada ministra de Minas e Energia, responsável pela Petrobras e pelas estatais do setor elétrico. Deixou o posto em meados de 2005 para substituir, à frente da Casa Civil, o ex-ministro José Dirceu, alvo do escândalo do mensalão. Dilma permaneceu na Casa Civil até 2010, quando foi escolhida por Lula para disputar a Presidência.
BASE DE APOIO – A ex-presidente afastada é acusada por aliados de Lula de ter desestabilizado a base de apoio do governo ao insistir na substituição de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras e indicado pelo PP, e de Renato Duque, ex-diretor de Serviços, que, segundo as investigações da Lava-Jato, representava o PT no esquema de propinas instalado na estatal.
“Na verdade, uma coisa tem que ficar bem clara! Quem demitiu o Paulo Roberto fui eu”, disse Dilma num dos debates da campanha de 2014. A ata de saída de Costa da Petrobras registrou que a renúncia foi pedida pelo executivo.
Depois do início das investigações da Lava-Jato, o relacionamento entre Dilma e Lula, que já estava complicado, estremeceu ainda mais. Eles chegaram a ficar sem conversar — e elegeram o ex-senador Delcídio Amaral como mensageiro para os recados trocados. Delcídio e Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, afirmaram em depoimento que Dilma, na condição de presidente do conselho da estatal, sabia detalhes sobre a negociação para a compra da refinaria de Pasadena que deu prejuízo à companhia.
05 de setembro de 2016
Cleide Carvalho e Renato Onofre
O Globo
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