O governo recém-convalidado pela decisão do Senado de afastar a presidente Dilma Rousseff quer tudo, menos abrir uma crise em sua base de apoio parlamentar. Com seu jeito conciliador, o presidente Michel Temer, do outro lado do mundo, chamou de “pequenos embaraços” a crise política desencadeada pelo acordo entre o presidente do Senado Renan Calheiros e o ministro Ricardo Lewandowski, presidente do Supremo Tribunal Federal, que resultou num benefício à presidente cassada que não estava inscrito na Constituição.
Na verdade, incomoda menos ao novo governo que Dilma continue com plenos direitos políticos, do que a impressão de que participou formalmente do acordo. O ministro das relações institucionais, Geddel Vieira Lima, que ficou no país “tomando conta da lojinha”, faz questão de deixar claro que o Palácio do Planalto não participou de nenhum acordo, embora repita o presidente Temer ao dizer que não haveria nenhum problema em participar, se a decisão significasse um gesto de benevolência partido do governo para distender o momento político.
Mas não foi isso o que aconteceu, garante Vieira Lima, que pede o testemunho do ex-líder do PSDB deputado Carlos Sampaio quanto à perplexidade que tomou conta de Temer e seus auxiliares diretos que assistiam ao julgamento juntos.
A decisão de não mandar barrar o acordo foi tomada devido ao receio de que pudesse ser anulada toda a sessão do impeachment, pois “o mais importante já havíamos conquistado” e não valia a pena colocar em risco o impeachment.
O ministro Geddel Vieira Lima acha que não há perigo de que os demais partidos da base, especialmente o PSDB, fiquem desconfiados do PMDB, pois, além do testemunho de Carlos Sampaio, o próprio presidente tucano Aécio Neves conversou com o presidente Temer.
Na verdade, Aécio atribuiu à sua conversa a declaração forte dada por Temer na primeira mensagem como presidente de direito, transmitida pela televisão, repudiando o acordo feito por baixo dos panos. Aliás, o tom excessivamente sincero utilizado nessa primeira fala chamou a atenção, mas tudo indica que ele precisava ali convencer seus parceiros de que não estava fazendo jogo duplo.
O que setores do governo comentaram com certo tom irônico foi o fato de o senador Renan Calheiros não ter desistido de viajar na comitiva oficial para a China depois de ter sido criticado tão duramente, embora sem ser nomeado, pelo presidente. E a expressão “tamos juntos” com que saudou Temer pareceu a muitos mais uma ameaça velada sobre as dificuldades dos dois do que um apoio sincero.
A disposição de Temer, porém, parece ser de conviver com Renan Calheiros apesar dos desencontros que continuarão a se suceder, pois precisará dele para a aprovação das reformas estruturais que enviará ao Congresso em breve.
O PMDB, que é uma federação partidária com diversas lideranças regionais, parece que permanecerá dessa forma durante o governo Temer, e vai depender da capacidade de conciliação do novo presidente para avançar no projeto d e governo.
Se, ao contrário, as disputas regionais e intrapartidárias prevalecerem, são grandes as chances de o terceiro governo do PMDB ter o destino do primeiro, o de Sarney, que teve o mérito de garantir a democracia, mas não o de consertar a economia brasileira, o que teria acontecido com o Plano Cruzado se os interesses políticos imediatos não tivessem tido prioridade naquele momento.
Temer, ao contrário, pode ter o destino de Itamar Franco, que usou sua presidência de transição para encaminhar um projeto de recuperação econômica dos mais bem-sucedidos de nossa História.
05 de setembro de 2016
Merval Pereira, O Globo
Na verdade, incomoda menos ao novo governo que Dilma continue com plenos direitos políticos, do que a impressão de que participou formalmente do acordo. O ministro das relações institucionais, Geddel Vieira Lima, que ficou no país “tomando conta da lojinha”, faz questão de deixar claro que o Palácio do Planalto não participou de nenhum acordo, embora repita o presidente Temer ao dizer que não haveria nenhum problema em participar, se a decisão significasse um gesto de benevolência partido do governo para distender o momento político.
Mas não foi isso o que aconteceu, garante Vieira Lima, que pede o testemunho do ex-líder do PSDB deputado Carlos Sampaio quanto à perplexidade que tomou conta de Temer e seus auxiliares diretos que assistiam ao julgamento juntos.
A decisão de não mandar barrar o acordo foi tomada devido ao receio de que pudesse ser anulada toda a sessão do impeachment, pois “o mais importante já havíamos conquistado” e não valia a pena colocar em risco o impeachment.
O ministro Geddel Vieira Lima acha que não há perigo de que os demais partidos da base, especialmente o PSDB, fiquem desconfiados do PMDB, pois, além do testemunho de Carlos Sampaio, o próprio presidente tucano Aécio Neves conversou com o presidente Temer.
Na verdade, Aécio atribuiu à sua conversa a declaração forte dada por Temer na primeira mensagem como presidente de direito, transmitida pela televisão, repudiando o acordo feito por baixo dos panos. Aliás, o tom excessivamente sincero utilizado nessa primeira fala chamou a atenção, mas tudo indica que ele precisava ali convencer seus parceiros de que não estava fazendo jogo duplo.
O que setores do governo comentaram com certo tom irônico foi o fato de o senador Renan Calheiros não ter desistido de viajar na comitiva oficial para a China depois de ter sido criticado tão duramente, embora sem ser nomeado, pelo presidente. E a expressão “tamos juntos” com que saudou Temer pareceu a muitos mais uma ameaça velada sobre as dificuldades dos dois do que um apoio sincero.
A disposição de Temer, porém, parece ser de conviver com Renan Calheiros apesar dos desencontros que continuarão a se suceder, pois precisará dele para a aprovação das reformas estruturais que enviará ao Congresso em breve.
O PMDB, que é uma federação partidária com diversas lideranças regionais, parece que permanecerá dessa forma durante o governo Temer, e vai depender da capacidade de conciliação do novo presidente para avançar no projeto d e governo.
Se, ao contrário, as disputas regionais e intrapartidárias prevalecerem, são grandes as chances de o terceiro governo do PMDB ter o destino do primeiro, o de Sarney, que teve o mérito de garantir a democracia, mas não o de consertar a economia brasileira, o que teria acontecido com o Plano Cruzado se os interesses políticos imediatos não tivessem tido prioridade naquele momento.
Temer, ao contrário, pode ter o destino de Itamar Franco, que usou sua presidência de transição para encaminhar um projeto de recuperação econômica dos mais bem-sucedidos de nossa História.
05 de setembro de 2016
Merval Pereira, O Globo
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