JORNADA DE 12 HORAS – O último recuo se refere ao debate sobre a autorização formal para uma jornada diária de até 12 horas, mantendo-se o limite de 48 horas semanais. Com o estrago de comunicação já feito, o Planalto correu para mandar o ministro se explicar melhor. Tarde demais. A fala de Ronaldo Nogueira às centrais sindicais, na véspera, já havia insuflado grupos de sindicalistas, movimentos de esquerda e trabalhadores em geral, revoltados com uma mudança de regras que pudesse permitir uma medida evidentemente contrária a recomendações médicas, que reprovam jornadas longas e exaustivas.
Polêmica semelhante se dá em discussões sobre mudanças no FGTS, no seguro-desemprego, nas regras de aposentadoria e em outros debates da reforma trabalhista. Em todos esses casos, diante das primeiras gritarias, o governo corre para dizer que “não é bem assim”.
SEGUNDA OPÇÃO – Ainda que, em relação à jornada de trabalho, o governo tenha parecido mais atrapalhado do que frouxo, nos demais casos, como no posicionamento sobre o aumento para os ministros do STF ou na recriação de ministérios, parece muito mais ser válida a segunda opção.
Sem o apoio popular dos eleitos e nas mãos de um Congresso clientelista, em ano eleitoral, Michel Temer tem se comportado de forma covarde até nas pequenas coisas. Desfilou em carro fechado no 7 de Setembro, pediu para ser escondido na abertura das Olimpíadas, deixou de ir ao encerramento do evento e pediu, novamente, para ser anunciado com discrição na festa das Paralimpíadas. Ninguém deve admirar, portanto, que tenha medo de enfrentar os grandes temas e que corra de qualquer briga com a opinião pública.
Ocorre que a frouxidão das posições de Michel Temer já foi notada tanto no Legislativo quanto no mercado financeiro. Já há muito mais gente que duvida da capacidade e do comprometimento do governo com as reformas que promete do que o contrário. Por isso, partidos e investidores começam a se desvencilhar.
NÃO VAI NEM FICA – Um governo que propõe medidas impopulares pode ser necessário no atual momento, e há partidos e entidades dispostas a aceitar o risco de apoiá-lo sob pena de se voltarem contra a opinião pública. O discurso para justificar seria de que é tudo necessário para o alívio das contas públicas.
Por outro lado, um governo que evita tomar essas medidas pode ter um sucesso mais imediato com a população. Pior mesmo é ter o desgaste das decisões impopulares, mostrando-se, aos olhos de muitos, insensível às dificuldades diárias do cidadão comum, e, depois, desistir delas, não tendo nem sequer a chance de, lá na frente, provar que estava certo.
Atualmente, Temer passa a imagem de que é um governante cruel, que propõe maldades para ver se cola, e fraco, ao desistir no primeiro sinal de pressão.
14 de setembro de 2016
Ricardo Corrêa
O Tempo
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