"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

A FALTA QUE JUSCELINO KUBITSCHEK FAZ

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O telefone tocou na casa de praia de Madame Schneider, uma francesa amiga de Juscelino Kubitschek, a 20 quilômetros de Saint Tropez, no sul da França, onde ele, dona Sara, as filhas Márcia e Maristela e o ex-secretário amigo dileto Olavo Drummond passavam uns dias descansando, depois de deixar a presidência da República em 31 de janeiro de 1961.
Era o empresário, poeta e redator de alguns dos históricos discursos de Juscelino, Augusto Frederico Schmidt, falando do Rio: “Juscelino, estou recebendo um clipping das revistas dos EUA. A revista “Time” está dizendo que você é “a sétima fortuna do mundo”.
Conversaram, Schmidt desligou e Juscelino ficou deprimido, amargurado. Olavo o chamou para darem uma volta:
“Presidente, hoje de manhã, quando fui comprar os jornais, quem estava na banca era a Brigitte Bardot. Podemos encontrá-la de novo”.
Juscelino riu. Saíram. A primeira pessoa que viram foi a Brigitte Bardot, no auge do sucesso, com aquela carinha de paraíso terrestre depois da maçã, cercada de fãs, tirando fotografias. Juscelino se afastou:
“Olavo, se eu sair com essa mulher em um fundo de fotografia, a imprensa vai dizer no Brasil que estou namorando com ela.”
Mas não esqueceu a história da “sétima fortuna do mundo”.
MENTIRA REPETIDA – Quatro anos depois, a embaixada da Inglaterra no Brasil mandaria a Londres um documento para o “Foreign Office”, sob o cód.371/179250:
“O ex-presidente Kubitschek retornou ao Brasil. Não há dúvida de que ele é popular, com seu charme e suas ideias expansivas e grandiosas. Mas ele era um verdadeiro símbolo da corrupção, saiu da pobreza para a posição de sétimo homem mais rico do mundo, segundo a revista “Time”.
Essa história do “sétimo homem mais rico do mundo” era então exaustivamente repetida pelo ex-deputado da UDN baiana Aliomar Baleeiro, e outros udenistas, civis e militares, depois do “Golpe de 64”.
Era uma velha indignidade. Na véspera de passar o governo a Jânio Quadros em 31 de janeiro de 1961, Juscelino reuniu um grupo de ministros, auxiliares e amigos no Palácio da Alvorada. Chega Jose Maria Alkmin: “Juscelino, estou seguramente informado de que o Jânio vai fazer um discurso agressivo contra você, na sua frente, na solenidade de transmissão do cargo, no Palácio do Planalto”.
“Vou passar o cargo ao presidente que o povo elegeu. Só o Dutra passou. Quero dar uma demonstração ao mundo de nossa democracia”.
“E se ele fizer um discurso agressivo?
“Dou-lhe uma bofetada na cara e o derrubo no meio do salão. Vai ser o maior escândalo da história da República”.
Não houve discurso nem bofetada.
CARTA DE JK – “Rio de Janeiro (GB) 15 de agosto de 1973.
Meu caro Sebastião Nery.
Em primeiro lugar, quero dizer-lhe que Sarah e eu ficamos encantados com a dedicatória com que nos distinguiu. Ao oferecer suas 350 Histórias do Folclore Político.
Palavras, não do fulgurante jornalista, mas do amigo de sempre, fiel e querido. Realmente, você tem razão: os políticos, os dirigentes dos países, os estadistas não fazem a história. Nem a compõem tampouco os heróis de Carlyle. Os homens públicos apenas se agitam, quando muito, como você o diz, lançam a semente.
O seu excelente livro fez-me a alegria de uns dias intermináveis, porque a cada anedota, a cada uma dessas admiráveis blagues eu voltava com ansiedade e o riso renovado.
Ainda bem que os homens do passado fizeram a crônica dos tempos políticos não com a violência, mas com a graça, o humor e esta extraordinária sensação da consciência limpa e tranquila.
O que você conta se renova, através da força com que reveste o dito e dá festa de sol e calor a esses casos isolados do interior que na sua pena de mestre se projetam na grande página da capital.
Particularmente, sinto-me honrado de figurar neste seu suave repositório de verve e de sutil perspicácia, repleto de uma cordialidade que nos une e nos comove.
Receba meus parabéns e sinceros agradecimentos.
Com muita amizade e crescente admiração, do amigo de sempre
Juscelino Kubitschek”
(No dia 22 de agosto fez 40 anos que JK morreu. Foi o maior presidente que o pais teve. E a falta que ele faz!)

14 de setembro de 2016
Sebastião Nery

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