O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou se defendendo na reunião do Diretório Nacional do PT, em hotel em São Paulo, nesta quinta-feira, dia 15. O tom adotado foi ser emocional, não jurídico. Lula está convencido de que a Operação Lava Jato tem o objetivo de desconstruir sua imagem, acabar com o PT e barrar uma eventual candidatura dele ao Palácio do Planalto, em 2018, tornando-o “ficha suja”.
“Provem minha corrupção e irei a pé até a polícia – essa foi a linha do pronunciamento que Lula escolheu para se dirigir ao PT e à sociedade. O ex-presidente disse ter ficado “indignado e perplexo” com a denúncia apresentada contra ele pelo Ministério Público Federal, que o acusa de ser o “comandante máximo” do esquema de corrupção na Petrobras. Da mesma forma que o PT carimbou como “golpe” o processo de impeachment contra a então presidente Dilma Rousseff, a ideia é que Lula continue batendo na tecla de que é vítima de uma perseguição “inominável” e “sem provas”.
Nos bastidores, dirigentes do PT afirmam que, além de causar novo desgaste na imagem de Lula, a denúncia do Ministério Público também provoca prejuízo imediato nas campanhas de candidatos do partido às eleições municipais. Em São Paulo, por exemplo, petistas avaliam que o prefeito Fernando Haddad, candidato à reeleição, pode não chegar nem mesmo ao segundo turno da disputa.
PRIMEIRO E ÚNICO – “Ninguém respeita as leis desse país como eu, ninguém acredita nas instituições como eu. Porque assim que se garante a democracia, não aparecem ditadores. Vou prestar quantos depoimentos for necessário (…). A única coisa que eu me orgulho é que eu conquistei o direito de andar de cabeça erguida”, afirmou Lula, emocionado.
“Me dedicaram uma chácara que não é minha, falaram que sou comandante de um grande esquema de corrupção da Petrobras. Eu não tenho provas, mas tenho convicção que quem mentiu está numa enrascada”, afirmou.
“Estarei aqui sem ficar com raiva. Não vou perder sono por causa disso, quem vai perder o sono é quem acha que eu vou perder o sono. Continuem escrevendo, continuem falando, a história nem começou. Alguns acham que ela já acabou, mas eu ainda vou viver muito. E esse muito quero dedicar a fazer com que o povo brasileiro sinta que é possivel fazer um país melhor”.
ONDE VOU GUARDAR OURO? – Sobre os presentes que ele ganhou, enquanto presidente, ele volta a dizer que não tinha onde guardar tanta coisa. “Tinha ouro, onde vou guardar ouro?”, questiona. “Se o MP quiser o meu acervo, por favor, peguem e levem. Naquele ‘palação’ lá. Eu não tenho onde guardar”, disse.
Lula afirmou que nunca teve medo de pedir desculpas, “a desculpa é nobre”. Ele volta a pedir que respeitem a família. “Quantas vezes eu vi o nome da minha familia achincalhado”, falou.
“Eles querem me investigar, me investiguem, querem me convocar pra depor, me convoquem. Eu só quero que respeitem a Dona Marisa”. Segundo ele, a ex-primeira-dama nunca pediu nenhum cargo quando ele esteve na Presidência, pois “ela sabia que a melhor coisa que ela podia fazer era cuidar pra eu trabalhasse bem, me dar tranquilidade”.
APELO AO MINISTÉRIO PÚBLICO – Lula fez um apelo aos procuradores do Ministério Público, que “têm que ficar muito atentas, não podem permitir que meia dúzia de pessoas destruam o histórico dessa instituição no país, que eu ajudei a construir”.
Ele diz que tem que avisar o país: “O país que eu sonho está longe de ser construído. Nós construímos apenas uma escada que eles tão tirando agora”.
“O que me faz caminhar por esse país é minha convicção der que esse país pode ser melhor, pode resolver problemas, aí sim falo com convicção de que é possível mudar esse país. E tenho provas, porque eu participei da melhor inclusão social desse país sem fazer uma revolução. Apenas usando os instrumentos legais que a democracia me deu”, afirmou. Ele lembrou dos feitos do seu governo de inclusão social, dizendo que tornou possível “pobre ser até procurador geral”.
CENA DE PIROTECNIA – “Fui vítima de um momento de indignação. Eu nunca pensei passar por isso”, diz o ex-presidente, emocionado. Ele disse que foi muito julgado, que nem parecia que estavam falando dele, no que chamou de um show de “pirotecnia”, a acusação do MP feita ontem.
Depois, voltou a chamar de “pirotecnia” a coletiva dos procuradores. Disse que só não compreendia “como você convoca uma coletiva, gastando dinheiro público, alugando um hotel, dizendo não tenho prova, mas tenho convicção”.
Ex-presidente lembrou do caso do helicóptero de 400kg de cocaína: “Tinham prova, pegaram o avião, viram a cocaína, mas não tinham convicção, aí liberaram”.
CRÍTICAS À MÍDIA – “Descobri que tanto os meus acusados quanto uma parte da imprensa estão mais enrascados e comprometidos do que eles pensam que eu estava. Porque eles construíram uma mentira, como se fosse um enredo de uma novela”, continuou. Ele diz que conseguiram cassar o Cunha, eleger o Temer, de forma indireta, tirar a Dilma e agora “acenderam a vela” e querem o fim da vida política dele.
Lula lembrou o chamado “engavetador geral da república”, Procurador na era FHC. Ele ressaltou a importância que as instituições tiveram no seu governo e no de Dilma, que muito fizeram para fortalecê-las. “Quero um MP forte, quero um MP responsável”, diz. O ex-presidente disse que quando foi presidente fez questão que pessoas não fossem condenadas antes de julgamento.
“Todas essas denúncias que eu fico vendo, tenho a consciência tranquila e mantenho o bom humor porque eu me conheço. Eu sei pra onde eu fui, pra onde eu vou, sei quem me ajudou, sei quem quer que saia, sei quem quer que eu volte. Na certeza desses princípios de cidadania, que duvido que nesse país algum partido no governo se deram mais para fortalecer as instituições que defendem o Estado nesse país. Qualquer delegado de PF o que era a PF quando eu cheguei no governo. Nós não só mais do que dobramos como investimos muito em inteligência”
INCITANDO A MENINADA – Lula fez um apelo aos militantes, aos petistas de todo o país, para que andem de vermelho. “Quem odeia o PT, ande com camisa de outra cor”. Ele disse ter muito orgulho do partido e “ninguém nunca fez mais o que fizemos nesse país”. O petista elogiou a “meninada que proibiu o Alckmin de fechar as escolas aqui em SP, essa meninada que está vindo pra rua pra reivindicar democracia, respeito, solidariedade, mais educação”. O público recebeu o elogio com aplausos e gritos de “Lula, guerreiro do povo brasileiro”.
Relembrando os feitos da política externa de seu governo, lembrou de Chavez e do Celso Amorim, a que chamou de “ministro de Relações Exteriores mais importante daquela época”.
Depois, Lula agradeceu a presença de todos e da imprensa. Pediu que dessem o mesmo destaque à sua fala que deram aos seus acusadores ontem. “Só igualdade, oportunidade das pessoas poderem ouvir”, pediu.
MANIFESTAÇÃO – Uma manifestação de apoio a Lula está ocorrendo diante do hotel onde será realizada a reunião do Diretório Nacional do PT. “Todos pra rua para defender Lula”, diz a mensagem enviada por militantes, pelas redes sociais, convocando para o ato desta quinta-feira.
16 de setembro de 2016
Deu no Estadão
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