As outras três capitais nordestinas que foram cidades-sede da Copa também continuam a sofrer com a violência, segundo levantamento do Globo nas estatísticas de criminalidade das secretarias estaduais de Segurança.
ESTATÍSTICAS – Em Fortaleza, cresceu o número de crimes violentos contra o patrimônio, de 21.171 de janeiro a junho de 2015 para 23.748 no mesmo período deste ano; na Região Metropolitana, os crimes violentos letais intencionais (homicídio, latrocínio e lesão corporal seguida de morte) foram de 393 para 438, de janeiro a junho de 2015 para o mesmo período em 2016.
Em Salvador, de 2014 a 2015, o número de roubos de veículos foi de 6.373 para 6.537; roubo a ônibus, de 1.929 a 2.561; latrocínio, de 50 para 64.
No Recife, que vinha apresentando melhora dos índices, também houve piora após 2014 no número dos chamados crimes violentos letais intencionais: subiu de 452 casos em 2013 (taxa de 28,8 por cem mil habitantes) a 514 em 2014 (taxa de 32,4), e a 571 em 2015 (taxa de 35,8).
CAOS EM NATAL – No Rio Grande do Norte, após ataques ordenados de dentro de presídios, numa retaliação pela instalação de bloqueadores de celular no presídio de Parnamirim — e que levaram o Estado a pedir a presença do Exército —, foram detidos 108 suspeitos até o fim da tarde de sexta-feira.
Segundo a Secretaria de Segurança informou na tarde de sexta, o último ataque no estado havia sido registrado à 1h da manhã de quinta. Ano passado, o RN já havia tido ataques ordenados de presídios; na época, sete presídios, entre eles Parnamirim, tiveram rebeliões com destruição de instalações pelos presos. No estado, de 2014 para 2015, apesar de os homicídios terem caído 10% (de 1.506 para 1.356 casos), os casos de lesão corporal seguida de morte, por exemplo, aumentaram 80%, de 75 para 135 casos.
INOPERÂNCIA — “Perdemos enorme oportunidade com a Copa. Tivemos investimento forte em tecnologia, mas não mudamos processos de trabalho. A integração não se dá com câmeras, mas estabelecendo práticas regulares de cooperação e intercâmbio de informações. Para isso, é preciso mudar culturas organizacionais nessa área, em que um órgão vê o outro como oponente muitas vezes”— diz Renato Sérgio de Lima, vice-presidente do Conselho de Administração do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, destacando que o projeto de lei 4.894/2016, tramitando na Câmara, pode auxiliar a integrar dados.
“ Ele cria uma Lei de Acesso à Informação para a Segurança, obrigando que os órgãos estaduais abram dados e os enviem à União numa linguagem padronizada”.
No caso do RN, Lima ressalta que “provavelmente falharam ações de inteligência que identificassem a tempo” que a onda de ataques estava por vir:
“O papel da inteligência é antecipar ações, o que poderia ter ocorrido com integração real de informações, inclusive com a área prisional”.
INSEGURANÇA – “A lógica desses Centros de Comando instalados na Copa não produz necessariamente mais segurança; o monitoramento que realizam é só um dos elementos de uma política de Segurança. Para esse monitoramento ser usado para inteligência, teria de haver metas comuns entre órgãos de Segurança, com a definição do papel de cada órgão para que essas metas fossem atingidas” — diz Luiz Claudio Lourenço, professor do Departamento de Sociologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e pesquisador da área de Segurança.
08 de agosto de 2016
Alessandra Duarte
O Globo
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