Entre a esgrima e o decatlo, a Lava Jato deu neste fim de semana mostras de que ainda vai produzir muita dor de cabeça entre políticos. AFolha noticiou que o ministro José Serra (Relações Exteriores) deverá ser citado por executivos da Odebrecht como beneficiário de caixa dois.
A revista "Veja" trouxe material que indica que também serão implicados o próprio presidente interino, Michel Temer, e o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil).
O primeiro ponto a observar é que, a confirmar-se a explosiva delação, fica bastante enfraquecido o discurso do PT de que as investigações não passavam de uma trama das elites para prejudicar o partido.
Minha impressão é a de que o viés da operação é outro: ela mira nos mais poderosos. Até alguns meses atrás o alvo mais valioso era o PT; agora passou a ser a coalizão que sustenta Temer.
A exemplo de jornalistas, policiais e procuradores sentem prazer quando seus esforços resultam em casos de grande repercussão. Sempre que conseguem abalar os alicerces da República, experimentam sensações de "fazer justiça" e "participar de algo importante" que são tão intensas que podem causar dependência.
Essa, porém, é uma deformação profissional bem-vinda, já que tende a tornar mais rigorosos os controles sobre os governantes. É claro que, para o sistema funcionar direito, é preciso que os juízes saibam conter os eventuais excessos dos investigadores.
O segundo ponto diz respeito ao ambiente político. Pelo menos até que as grandes empreiteiras concluam suas delações e o MP decida o que fazer com elas, viveremos grandes incertezas. Esse é, me parece, o melhor argumento contra a realização de diretas já.
Nenhum dos grandes partidos está pronto para a eleição. Não sabemos nem sequer quem sobreviverá aos próximos lances. Pelo andar da carruagem, eu diria até que o próximo pleito se dará entre candidatos sem passado, o que pode ser muito bom ou muito ruim.
12 de agosto de 2016
Hélio Schwartsman, Folha de SP
A revista "Veja" trouxe material que indica que também serão implicados o próprio presidente interino, Michel Temer, e o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil).
O primeiro ponto a observar é que, a confirmar-se a explosiva delação, fica bastante enfraquecido o discurso do PT de que as investigações não passavam de uma trama das elites para prejudicar o partido.
Minha impressão é a de que o viés da operação é outro: ela mira nos mais poderosos. Até alguns meses atrás o alvo mais valioso era o PT; agora passou a ser a coalizão que sustenta Temer.
A exemplo de jornalistas, policiais e procuradores sentem prazer quando seus esforços resultam em casos de grande repercussão. Sempre que conseguem abalar os alicerces da República, experimentam sensações de "fazer justiça" e "participar de algo importante" que são tão intensas que podem causar dependência.
Essa, porém, é uma deformação profissional bem-vinda, já que tende a tornar mais rigorosos os controles sobre os governantes. É claro que, para o sistema funcionar direito, é preciso que os juízes saibam conter os eventuais excessos dos investigadores.
O segundo ponto diz respeito ao ambiente político. Pelo menos até que as grandes empreiteiras concluam suas delações e o MP decida o que fazer com elas, viveremos grandes incertezas. Esse é, me parece, o melhor argumento contra a realização de diretas já.
Nenhum dos grandes partidos está pronto para a eleição. Não sabemos nem sequer quem sobreviverá aos próximos lances. Pelo andar da carruagem, eu diria até que o próximo pleito se dará entre candidatos sem passado, o que pode ser muito bom ou muito ruim.
12 de agosto de 2016
Hélio Schwartsman, Folha de SP
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