"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

CANDIDATOS SEM PASSADO

Entre a esgrima e o decatlo, a Lava Jato deu neste fim de semana mostras de que ainda vai produzir muita dor de cabeça entre políticos. AFolha noticiou que o ministro José Serra (Relações Exteriores) deverá ser citado por executivos da Odebrecht como beneficiário de caixa dois. 
A revista "Veja" trouxe material que indica que também serão implicados o próprio presidente interino, Michel Temer, e o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil).

O primeiro ponto a observar é que, a confirmar-se a explosiva delação, fica bastante enfraquecido o discurso do PT de que as investigações não passavam de uma trama das elites para prejudicar o partido. 

Minha impressão é a de que o viés da operação é outro: ela mira nos mais poderosos. Até alguns meses atrás o alvo mais valioso era o PT; agora passou a ser a coalizão que sustenta Temer.

A exemplo de jornalistas, policiais e procuradores sentem prazer quando seus esforços resultam em casos de grande repercussão. Sempre que conseguem abalar os alicerces da República, experimentam sensações de "fazer justiça" e "participar de algo importante" que são tão intensas que podem causar dependência. 

Essa, porém, é uma deformação profissional bem-vinda, já que tende a tornar mais rigorosos os controles sobre os governantes. É claro que, para o sistema funcionar direito, é preciso que os juízes saibam conter os eventuais excessos dos investigadores.

O segundo ponto diz respeito ao ambiente político. Pelo menos até que as grandes empreiteiras concluam suas delações e o MP decida o que fazer com elas, viveremos grandes incertezas. Esse é, me parece, o melhor argumento contra a realização de diretas já. 

Nenhum dos grandes partidos está pronto para a eleição. Não sabemos nem sequer quem sobreviverá aos próximos lances. Pelo andar da carruagem, eu diria até que o próximo pleito se dará entre candidatos sem passado, o que pode ser muito bom ou muito ruim.


12 de agosto de 2016
Hélio Schwartsman, Folha de SP

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