"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

QUANDO AGOSTO VIER

É a vez da volta dos valores liberais de uma economia privada eficiente e gerida com competência

A renúncia do deputado Eduardo Cunha da presidência da Câmara dos Deputados - e a eleição de Rodrigo Maia como seu sucessor - é o penúltimo passo na direção de novos rumos na política brasileira. O simples fato de que o novo presidente pertence ao Democratas, partido de centro direita no espectro partidário brasileiro, já é um sinal claro das mudanças que vêm ocorrendo depois do afastamento da presidente Dilma Rousseff. Afinal, este grupamento político foi perseguido com violência, nos últimos 10 anos, pelo PT.

Para que a hegemonia política dos últimos 14 anos seja declarada oficialmente morta falta apenas que o afastamento definitivo da presidenta petista seja aprovado pelo Senado. E isto deve acontecer quando agosto vier.

A mudança do equilíbrio político no Congresso é a condição necessária para que - também na economia - a sociedade brasileira possa encarar o futuro com mais otimismo. A equipe econômica do presidente Temer, nestes poucos meses no comando do Ministério da Fazenda e do Banco Central, já mostrou que tem condições técnicas para colocar a economia no rumo correto. Mas sem o apoio decisivo do Congresso não pode ir muito longe nesta sua tarefa. O estrago deixado pela gestão petista é profundo demais para ser superado apenas com medidas conjunturais. Reformas estruturais de peso precisam ser alcançadas nos próximos anos.

Por esta razão a vitória de Rodrigo Maia me faz ainda mais confiante no futuro. Ela pode ser considerada a peça que faltava em meu cenário - construído ao longo de várias décadas de analista das coisas da política e da economia - no qual a sociedade brasileira se levanta quando colocada diante de um abismo profundo. Já vivi pelo menos três situações como esta e tenho convicção que vou viver uma quarta. Vencemos a ditadura sem sangue, enfrentamos com serenidade o afastamento de Color e, depois de décadas de hiperinflação, construímos uma estabilidade monetária com sucesso. Não será agora que vamos sucumbir sob o peso dos erros desta hegemonia política nefasta construída a partir da vitória de Lula em 2002.

Com um Congresso operacional e com uma liderança política com valores corretos, a recuperação cíclica, que já vivemos, vai prosperar e trazer o crescimento econômico de volta ao Brasil a partir de 2017. Com isto, os novos valores na gestão da economia serão perenizados nas eleições de fins de 2018 pois certamente os eleitores vão sancionar nas urnas as mudanças em curso. E a partir de um novo mandato presidencial - legitimado por eleições livres - poderemos enfrentar os novos desafios que se colocam diante de nós.

A sociedade brasileira mudou muito desde que a constituição de 1988 estabeleceu as prioridades para nosso desenvolvimento econômico e social. Como já escrevi neste espaço mensal de reflexão o Estado foi definido pelos constituintes de 1988 como o pilar principal para o desenvolvimento de nossa sociedade. Fazia sentido à época quando mais de dois terços dos brasileiros viviam na informalidade econômica e sem vinculação direta com a economia de mercado.

Mas hoje este quadro mudou radicalmente e 70% da população vive e respira a dinâmica da economia de mercado. A consequência é a crise que vivemos hoje, com o desemprego e a queda da renda pessoal afetando a vida dos brasileiros que não dependem dos programas sociais. As promessas e sonhos de uma economia comandada pelo Estado do período lulista se transformaram em sofrimento e desesperança. Algo de novo precisa ser colocado em seu lugar para que o futuro volte a ser encarado com otimismo.

Por isto é a vez da volta dos valores liberais de uma economia privada eficiente e gerida com competência. Mas esta será uma estrada longa e com partes importantes da sociedade abrindo mão de privilégios construídos ao longo de muitos anos. Para que estas mudanças ocorram com sucesso alguns marcos precisam ser vencidos com sabedoria. O mais importante deles - e que caberá aos políticos a responsabilidade maior - é o respeito aos valores ideológicos e de comportamento que marcam a sociedade brasileira de hoje. Não vivemos - nem viveremos no futuro próximo - uma revolução social de natureza liberal que permita transformar radicalmente o jeito de ser do brasileiro. Estado mínimo e comando da economia pelas forças de mercado livres de limitação regulatória não faz parte de nossa história e não vai acontecer do dia para a noite como defendem muitos. Reações que ocorrem hoje ao jeito conciliatório do presidente Temer são provas deste risco que corremos.

A construção de um processo de mudanças ao longo dos próximos anos me parece ser a alternativa que se coloca diante de nós. E as dificuldades para ter sucesso serão ainda maiores no quadro de carência de líderes novos gerado pelos anos de hegemonia deletéria que vivemos por um longo período de tempo. A corrupção política sistemática, usando o Estado como fonte de recursos ilícitos, é um exemplo marcante desta situação.

Mas não há outra saída senão irmos todos à luta.


18 de julho de 2016
Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é presidente do Conselho da Foton Brasil. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações.
Valor Econômico

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