Instalados em seus estados, mais do que viajando pelo exterior, deputados e senadores viverão, com as exceções de sempre, um recesso singular. Quando agosto chegar, certamente voltarão a Brasília. Na bagagem, a evidência da orfandade. No caso, a consciência de que nenhum laço liga-os ao eleitorado. De nada valeu aquilo que realizaram no primeiro semestre, e com um pouco de sinceridade, também nos anos anteriores. Poucas vezes se tem visto tamanha dissociação entre mandantes e mandatários.
Próximo de 13 milhões de desempregados, com um custo de vida em ascensão meteórica, os encargos fiscais aumentando na proporção geométrica, o país lhes terá voltado as costas. Suas Excelências, se não sentirem desprezo, pelo menos receberão indiferença. Às vésperas das eleições municipais de outubro, não perceberão da parte de suas bases o menor sinal de interesse pelos resultados. Muito menos apelos pelo cumprimento do dever parlamentar, de promover soluções para as agruras a envolver a sociedade inteira. Sentir-se-ão como zeros à esquerda de uma comemoração para a qual não foram convidados. Mesmo a limitada confiança recebida no tempo da eleição se terá dissolvido na descrença. Será grande a descrença de que poderão, em 2018, repetir as performances de dois anos atrás.
Jamais alcançou essas dimensões o vácuo entre o Congresso e o povo. Nivelados pelo denominador comum do mútuo abandono, os congressistas terão tempo para meditar sobre o tempo perdido, assim como seus eleitores a respeito da inutilidade de insistir no modelo ultrapassado a nós deixado pela pasmaceira anterior.
A conclusão dessas incompletas e frágeis considerações só pode ser uma. Nem os 513 deputados e os 81 senadores de volta ao Planalto Central conseguirão encontrar ânimo para prometer alterar o quadro de depressão existente entre nós.
18 de julho de 2016
Carlos Chagas
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