"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

DESANIMADA, DILMA JÁ COMEÇA A FAZER A MUDANÇA DE VOLTA PARA PORTO ALEGRE

Aos poucos, Dilma vai levando de volta suas coisas

Na semana passada, o afastamento de Dilma Rousseff da Presidência da República completou dois meses sem que ela tenha conseguido avançar em seu principal objetivo: obter mais votos de senadores contra o impeachment.

Aliados da petista continuam dizendo que é possível mudar o placar, que, hoje, apresenta uma boa margem a favor do impeachment. Mas, aos poucos, Dilma já está retirando seus objetos pessoais do Palácio da Alvorada — que terá que desocupar caso o impeachment se confirme — e levando-os para seu apartamento em Porto Alegre.

As viagens para a capital gaúcha são as únicas que Dilma ainda pode fazer em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB), em geral um jatinho Legacy. Sempre que embarca para lá, a presidente afastada consegue levar duas malas com objetos pessoais. Ela carrega também a bicicleta com a qual se acostumou a fazer seus exercícios diários.

A petista decidiu manter o discurso de que é vítima de um golpe, mesmo sabendo que as chances de reverter o processo de impedimento no Senado são baixas.

REPETIÇÃO – A preocupação é repetir sempre essa tese para que ela um dia fique registrada nas páginas da História.

— Isso aqui vai ficar registrado como golpe. Dilma está sendo vítima de um projeto de retirada dos direitos trabalhistas. Tenho certeza de que ela será inocentada pela História — disse o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), ressaltando que ainda não considera a batalha contra o impeachment perdida.

Em Brasília, Dilma tem recebido senadores aliados e concedido entrevistas a emissoras de rádio. Sempre acorda cedo e mantém o hábito de pedalar antes de iniciar a rotina de trabalho. Interlocutores contam que ela está sóbria, consciente das dificuldades de virar o quadro político. Mas que não desistiu dos planos de voltar à Presidência.

A argumentação de quem conta com a possibilidade de reversão do quadro é que a denúncia sobre as “pedaladas fiscais”, uma das bases do impeachment, se fragilizou depois que a perícia do Senado e o Ministério Público Federal isentaram Dilma de ter atuado pessoalmente nas operações de crédito do Plano Safra. Para o Tribunal de Contas da União (TCU), a medida caracterizou a manobra financeira.

TRÊS DECRETOS – Os defensores de Dilma dizem também que ela, inicialmente, era acusada de ter assinado seis decretos de crédito suplementar que desrespeitavam a Lei de Diretrizes Orçamentárias. Mas que, agora, apenas três continuam sustentando a denúncia de que a presidente afastada cometeu crime de responsabilidade.

Dilma, que não quis ir à comissão de impeachment fazer sua própria defesa, já declarou que irá ao plenário do Senado apresentar sua defesa para as denúncias antes do início da votação final do impeachment.

Além disso, o time de Dilma não descarta que, até o fim de agosto, quando o impeachment será julgado pelo plenário do Senado, um fato novo contra o governo Michel Temer apareça, ferindo mortalmente o presidente interino. – Alguns aliados de Dilma secretamente torcem por uma nova delação, como a do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que é ligado ao núcleo político do governo Temer e sempre foi próximo do presidente interino.

DELAÇÃO DE CUNHA – Outro ponto que tem animado os aliados da petista é o fato de Temer governar com uma enorme e heterogênea coalizão, o que o impede de atender a todos os aliados. Eles torcem pelo aumento das insatisfações.

— A situação de Dilma é difícil, mas não é impossível. A margem entre o sucesso e o insucesso é estreita. Os votos são muito voláteis. Nada é consolidado na política. Algum fato novo pode surgir e mudar o rumo das coisas. Além disso, o coeficiente de traição é algo difícil de se contabilizar — disse um auxiliar de Dilma.

Um parlamentar aliado da presidente afastada disse que tem ouvido muitas reclamações vindas da base de Temer, e que isso pode se reverter em votos pró-Dilma.

— O governo Temer tem problemas. A base é muito grande, isso gera disputas por cargos, brigas. Juntar esse tanto de lado é muito complicado — disse ele.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – É tudo conversa fiada. Dois meses já se passaram e Lula e o PT não conseguiram reverter um só voto dos 55 senadores que votaram a favor do afastamento de Dilma, que não tem (e jamais teve) a menor influência no Congresso. (C.N.)

18 de julho de 2016
Catarina Alencastro
O Globo

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