Quem poderia imaginar uma eleição para a presidência da Câmara dos Deputados em que PT e PSDB não apresentassem candidato e o PMDB colocasse o seu no freezer? Pois foi isso que aconteceu, sob as vistas de todos. Os grandes partidos e as grandes bancadas fizeram olhar de paisagem impressionista, levemente turbada. Preferiram agir nos bastidores, com parelheiros previamente selecionados para cumprir o mandato tampão.
Alguém poderá dizer que esses partidos não se inscreveram na disputa porque uma vitória por seis meses não suscitou interesse. É uma explicação, mas não considero suficiente. Pouco tempo atrás, bastava alguém jogar no ar a pergunta “Quem quer ser…?” e as mãos petistas, tucanas e peemedebistas se ergueriam antes do fim da frase. Fosse para o que fosse.
Para mim, a leitura mais convincente desse curioso episódio tem muito a ver com o esgotamento das principais legendas e reflete mudança em curso no fragmentado caleidoscópio das siglas em nosso país.
SEM FRUTAS BOAS – Ou seja, numa analogia talvez melhor: bem antes da eleição de 2018, a escassez de frutas boas nas árvores mais visíveis do pomar vai mostrando que a safra, ou virá de fora, ou virá lá do meio do arvoredo. No que se vê por fora, quase tudo é fruto mermado ou bichado, que não vai encontrar comprador naquela feira eleitoral.
É provável que esse fenômeno já se faça sentir no pleito municipal de outubro vindouro, apesar das idiossincrasias desse tipo de eleição, movida fortemente por afeições e desafeições locais.
Será mesmo, isso que sentimos, um sinal de mudança na direção dos ventos? O que, exatamente, está mudando? Creio que ainda é prematuro dizer. Em meio a tantos malefícios, percebe-se, porém, que há coisas boas acontecendo.
NO JOGO POLÍTICO – Foi bom para o jogo político, por exemplo, que as fichas do PT tenham sido postas em Marcelo Castro, um peemedebista mais fajuto do que sua legenda. Foi melhor ainda que, somados seus 70 votos aos 22 de Luiza Erundina (PSOL) e aos 16 de Orlando Silva (PCdoB), esse funesto pacote totalize apenas 108 parlamentares, no conjunto de 494 votantes.
O nome disso é insignificância, principalmente se lembrarmos que incluindo um ano de Aldo Rebelo (PCdoB), o petismo presidiu a Câmara dos Deputados em oito dos últimos 14 anos. E note-se que nos biênios de 2009 a 2011 (Michel Temer) e 2013 a 2014 (Henrique Eduardo Alves) o PMDB presidiu a Casa com apoio e em acordo de rodízio com o PT.
Sim, o PT amargou no último dia 13 – pura coincidência! – mais do que uma derrota previsível. Colheu mais conteúdos para a perícia técnica de seu sinistro. Que ela sirva à reflexão de todos os partidos e, especialmente, de Sua Excelência, o eleitor.
25 de julho de 2016
Percival Puggina
Nenhum comentário:
Postar um comentário