Horas após a revelação de que o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) teria comprometido o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff em delação premiada à força-tarefa da Operação Lava Jato, a oposição da Câmara tomou a tribuna do plenário e pediu a renúncia da petista.
As informações foram veiculadas na manhã desta quinta-feira (3) pelo site da revista “Istoé”, que publicou trechos do acordo de delação de Delcídio. Em resposta, petistas e lideranças governistas desqualificavam os discursos e afirmavam a necessidade de confirmar a notícia da revista.
Pessoas próximas às investigações da Lava Jato confirmaram à Folha a informação de que Delcídio fechou acordo com a Procuradoria-Geral da República para fazer delação premiada. Nos chamados anexos, o senador teria se comprometido a citar Dilma e Lula.
O deputado Betinho Gomes (PSDB-PE) foi o primeiro a pedir a saída de Dilma. “A presidente não pode mais fazer de conta que não é com ela. As denúncias se acumulam. Presidente Dilma, tenha humildade de dizer que não há condições de ficar à frente do país”.
USINA DE CRISE
O líder do DEM na Casa, Pauderney Avelino (AM), destacou as sucessivas crises que o país tem vivido e disse que as revelações fazem cair por terra as negativas dos petistas de envolvimento no caso.
“O Brasil se tornou uma usina de crise, sobretudo o governo da presidente Dilma e o governo Lula. O que nós estamos vendo aqui, faz cair por terra as negativas tanto de Dilma, quanto de Lula de que nada sabiam sobre o que estava acontecendo”. E foi taxativo: “A presidente tem que pedir a renúncia”.
Vice-líder do governo, o deputado Silvio Costa (PTdoB-PE) disse duvidar que a presidente Dilma tenha feito qualquer tipo de acordo para interferir na Operação Lava Jato. “Compreendo que é da índole do parlamento e que a oposição esteja fazendo seu papel democrático, mas tem que analisar a veracidade da matéria. A pergunta é: o senador Delcídio realmente fez a delação?”
MANOBRA GOLPISTA
Um dos advogados à frente da defesa de Dilma no processo de impeachment que corre na Câmara dos Deputados, Wadih Damous (PT-RJ), chamou as informações de “mentirosas” e “levianas”. “É um panfleto para convocação de uma manifestação fascista e golpista em 13 de março. O senador Delcídio do Amaral, já soubemos, está desmentindo a publicação deste panfleto travestido de revista”.
Em nota, o vice-líder do PSDB no Senado, Paulo Bauer (SC), afirmou que as declarações de Delcídio são “estarrecedoras e esquadrinham de forma didática como foi a ação do governo e do círculo mais influente do PT na tentativa de sabotar a Operação Lava Jato”.
“A casa, ou melhor, o Palácio do Planalto caiu. […] Delcídio sempre foi um político influente no governo e cortejado no Senado por membros da Casa e representantes da sociedade. Essa condição favoreceu sua presença em ambientes onde se arquitetaram ações não republicanas e também contribuiu para que soubesse muito a respeito de muitos. Ao aceitar a delação como instrumento jurídico para se proteger, acaba prestando um serviço maior ao povo brasileiro do que aquele que prestaria como senador”, disse.
03 de março de 2016
Débora Álvares e Ranier BragonFolha
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