"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 7 de julho de 2015

INCERTEZAS POLÍTICAS AGRAVAM QUADRO ECONÔMICO

Crises paralelas, a econômica e a política tornam o horizonte nebuloso e, em alguns aspectos, se autoalimentam. A imagem e popularidade da presidente sofreram severas avarias com a constatação de que o discurso do palanque da reeleição nada tinha a ver com a realidade do início do segundo mandato.

A economia, por sua vez, já sinalizava há algum tempo os desequilíbrios graves provocados pela política temerária do “novo marco macroeconômico" — gastos públicos sem prudência, crédito sem limites etc. Isso, somado ao escândalo do petrolão, teve um efeito tóxico sobre a presidente reeleita.

A partir de 2012/13 já era perceptível que uma crise estava sendo contratada. Números expressivos da atual conjuntura confirmam aquela expectativa. E não apenas na inflação, acima dos 8%, quase o dobro da meta de 4,5%. Indicadores da produção e consumo são igualmente preocupantes. 
No primeiro semestre, soube-se ontem, a produção de veículos caiu 18,5% em comparação a idêntico período de 2014. Em 12 meses, o encolhimento do setor industrial como um todo chegou a 5,3%. Por inevitável, o desemprego cresce. 
O índice calculado nas principais regiões metropolitanas se aproxima dos 7%, três pontos acima dos níveis alcançados no final do ano passado, e que serviram de peça de propaganda na campanha eleitoral petista. Neste quadro, o fator confiança — ou a falta dela — ganha importância crescente. Sem confiança, empresário não investe, consumidor não consome, e assim as engrenagens da economia não funcionam.

Para a escassez de confiança contribui o próprio PT, partido da presidente, quando ataca a política de ajuste que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tenta executar. A austeridade, fiscal e monetária (juros), é o único caminho que leva à recuperação da economia em bases saudáveis.

O PT demonstra não ter aprendido a lição do início do primeiro mandato de Lula. O ataque ao ajuste, consumado por meio da rejeição de medidas no Congresso, tem, ainda, a alegre e inconsequente participação da oposição. Entra-se, então, num jogo de quanto pior melhor, em que, na realidade, todos perdem, a começar pela população de renda mais baixa.

As instituições funcionam, como demonstram as investigações do escândalo lulopetista do petrolão, e a atuação até agora do TCU, no julgamento das contas do último ano do primeiro mandato de Dilma, marcado pelas "pedaladas" e desrespeito à Lei de Responsabilidade Fiscal. Fatos que deverão ter desdobramentos importantes no Congresso, STF e TSE.

Ainda mais nessas circunstâncias, desestabilizar o programa de ajustes e conspirar contra Levy é retardar a recuperação de uma confiança mínima que permita o início da retomada do crescimento. Por tabela, deteriora-se o ambiente político. É preciso romper este círculo vicioso.

07 de julho de 2015
O Globo

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