"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 7 de julho de 2015

FREI BETTO DÁ ADEUS ÀS ILUSÕES



Na Flip, Frei Betto e o escritor cubano Leonardo Padura
Para o escritor Frei Betto, o modelo de crescimento da era Lula ajuda a explicar a rejeição galopante ao PT e a Dilma. Enquanto sobrava dinheiro, diz ele, o governo apostou na inclusão social pelo consumo e não investiu o que devia nos serviços públicos, como saúde, transporte e educação. Agora que a festa acabou, quem pensava ter melhorado de vida percebeu que boa parte do bem-estar era ilusória.
“Essa inclusão não tinha lastro econômico e criou uma nação consumista”, afirma o dominicano. “As pessoas estão chateadas porque não podem mais viajar de avião, ir ao restaurante, fazer a mesma compra na feira. A raiva vem daí. Tiraram o sorvete da boca da criança.”
Empenhando em lançar na Flip seu 62º livro, “Paraíso Perdido” (Rocco), Frei Betto também está desiludido com o partido que apoiou em tantas eleições. “O PT trocou um projeto de Brasil por um projeto de poder. Agora paga pelos erros que cometeu”, critica. Ele diz que o petismo está imobilizado pela coalizão que montou para governar. “O PT construiu uma base fisiológica, não ideológica. Depois do mensalão e do petrolão, alimentar esse sistema ficou mais difícil.”
APOIADO NOS INIMIGOS
Ex-assessor de Lula no Planalto, o escritor lamenta que o partido tenha se afastado dos movimentos sociais. “O PT resolveu se apoiar nos inimigos. Antes, criticava o mercado e o Congresso dos 300 picaretas. Agora é refém dos dois e não sabe como sair do impasse.”
Em Paraty, ele trocou ideias com o romancista Leonardo Padura e comparou o que vem pela frente ao chamado período especial de Cuba, após o fim da União Soviética. “Guardemos o pessimismo para dias melhores”, brinca. A sério, Frei Betto diz que a situação é “muito crítica”. “Não vejo uma luz no fim do túnel.”
O ajuste fiscal, avisa o escritor, só vai agravar a insatisfação dos mais pobres e a rejeição ao governo e ao PT. “A Dilma só tem uma saída: povo na rua. Mas agora quem vai para a rua defendê-la?”, questiona.

07 de abril de 2015
Bernardo Mello Franco
Folha

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