Quem dá a última palavra para aumentar os juros (e a primeira, também) é o presidente do Banco Central. E quem escolhe o presidente do Banco Central é o presidente da República. Não há como fugir dessa evidência linear.
Sendo assim, quando se elevam continuadamente os juros, a responsabilidade maior é da presidente Dilma, mesmo se tiver sido convencida por Alexandre Tombini.
Começou esta semana nova e intensa campanha de crítica aos 13.75% em que se encontra a taxa de juros, mas com uma peculiaridade: quem dessa vez lidera o protesto é o PT, na voz de seu presidente, Rui Falcão, da bancada do partido no Congresso e até de alguns ministros do governo de Madame. Junte-se aos companheiros os partidos da base palaciana, do PC do B ao PMDB .
Traduzindo: até a torcida do Flamengo insurge-se contra a mais alta taxa de juros do planeta, que privilegia especuladores e bicões, porque pode faltar dinheiro para a educação e a saúde, mas jamais faltará para remunerar vigaristas nacionais e estrangeiros empenhados em lucrar a qualquer custo.
A situação aproxima-se daquilo que décadas atrás Delfim Neto denunciou como um dos grandes escândalos da economia brasileira, o capital-motel, aquele que chegava de tarde, passava a noite e ia embora de manhã, depois de haver estuprado um pouco mais nosso desenvolvimento.
A situação aproxima-se daquilo que décadas atrás Delfim Neto denunciou como um dos grandes escândalos da economia brasileira, o capital-motel, aquele que chegava de tarde, passava a noite e ia embora de manhã, depois de haver estuprado um pouco mais nosso desenvolvimento.
Ou Dilma decide interromper e reduzir a farra dos juros, condição essencial para a retomada do crescimento econômico, ou fica literalmente sem o apoio de sua última base de sustentação, o PT. Porque nenhum, entre os companheiros, está evitando a condenação explícita à política de juros praticada pelo Banco Central. Já se disse que a presidente se encontrava segurando o pincel, sem escada, nessa atualidade bicuda que nos assola. Pois agora está perdendo o próprio pincel.
É claro que se for para atender os reclamos dos poucos que ainda a apoiam, Dilma precisaria ousar, isto é, dispensar não apenas Alexandre Tombini, mas toda a equipe econômica, com Joaquim Levy à frente. Ele também participa da febre dos juros, banqueiro fiel que era antes de ser nomeado. Ou continua sendo?
Para fechar o tema, é bom lembrar que o próprio Lula insurge-se contra os percentuais de juros vigentes. Há uma semana sustentou, em reunião com deputados e senadores petistas, a ampliação do crédito.
A PAUSA QUE AUMENTARÁ A FERVURA
Em vez de refrescar, aumentará a temperatura a pausa nos trabalhos do Congresso, da próxima semana ao final do mês. Deputados e senadores passarão o recesso em suas bases e colherão mais demoradamente o sentimento de seus eleitores diante da crise econômica que virou política, envolvendo o governo Dilma. Sem aferir a tendência popular, nem os tribunais nem o Legislativo ousarão dar passos definitivos no rumo do impeachment e sucedâneos.
07 de julho de 2015
Carlos Chagas
Nenhum comentário:
Postar um comentário