"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 7 de julho de 2015

DILMA SEM ESCADA E SEM PINCEL



Quem dá a última palavra para aumentar os juros (e a primeira, também) é o presidente do Banco Central. E quem escolhe o presidente do Banco Central é o presidente da República. Não há como fugir dessa evidência linear.

Sendo assim, quando se elevam continuadamente os juros, a responsabilidade maior é da presidente Dilma, mesmo se tiver sido convencida por Alexandre Tombini.

Começou esta semana nova e intensa campanha de crítica aos 13.75% em que se encontra a taxa de juros, mas com uma peculiaridade: quem dessa vez lidera o protesto é o PT, na voz de seu presidente, Rui Falcão, da bancada do partido no Congresso e até de alguns ministros do governo de Madame. Junte-se aos companheiros os partidos da base palaciana, do PC do B ao PMDB .

Traduzindo: até a torcida do Flamengo insurge-se contra a mais alta taxa de juros do planeta, que privilegia especuladores e bicões, porque pode faltar dinheiro para a educação e a saúde, mas jamais faltará para remunerar vigaristas nacionais e estrangeiros empenhados em lucrar a qualquer custo. 
A situação aproxima-se daquilo que décadas atrás Delfim Neto denunciou como um dos grandes escândalos da economia brasileira, o capital-motel, aquele que chegava de tarde, passava a noite e ia embora de manhã, depois de haver estuprado um pouco mais nosso desenvolvimento.

Ou Dilma decide interromper e reduzir a farra dos juros, condição essencial para a retomada do crescimento econômico, ou fica literalmente sem o apoio de sua última base de sustentação, o PT. Porque nenhum, entre os companheiros, está evitando a condenação explícita à política de juros praticada pelo Banco Central. Já se disse que a presidente se encontrava segurando o pincel, sem escada, nessa atualidade bicuda que nos assola. Pois agora está perdendo o próprio pincel.

É claro que se for para atender os reclamos dos poucos que ainda a apoiam, Dilma precisaria ousar, isto é, dispensar não apenas Alexandre Tombini, mas toda a equipe econômica, com Joaquim Levy à frente. Ele também participa da febre dos juros, banqueiro fiel que era antes de ser nomeado. Ou continua sendo?

Para fechar o tema, é bom lembrar que o próprio Lula insurge-se contra os percentuais de juros vigentes. Há uma semana sustentou, em reunião com deputados e senadores petistas, a ampliação do crédito.

A PAUSA QUE AUMENTARÁ A FERVURA

Em vez de refrescar, aumentará a temperatura a pausa nos trabalhos do Congresso, da próxima semana ao final do mês. Deputados e senadores passarão o recesso em suas bases e colherão mais demoradamente o sentimento de seus eleitores diante da crise econômica que virou política, envolvendo o governo Dilma. Sem aferir a tendência popular, nem os tribunais nem o Legislativo ousarão dar passos definitivos no rumo do impeachment e sucedâneos.

07 de julho de 2015
Carlos Chagas

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