O reatamento das relações diplomáticas entre Cuba e os Estados Unidos é mais uma evidência da emergência, possível, de um novo mundo, no qual a hegemonia europeia e norte-americana terá, obrigatoriamente, que dar lugar a um multilateralismo pragmático, com mais respeito pela soberania de grandes países como a Rússia, a China, a Índia, e o próprio Brasil, que se situam, na maioria dos quesitos geoestratégicos, entre as principais nações do mundo.
Neste novo mundo – mesmo mantendo suas rivalidades geopolíticas, econômicas e militares – deverá se perseguir, cada vez mais, o estabelecimento de um equilíbrio, também possível, no qual países com diferentes formas de governo e variadas abordagens ideológicas dos desafios que devem enfrentar, em benefício do desenvolvimento de seus respectivos povos, competirão em paz pela defesa de seus interesses, cooperando no lugar de apenas pressionar e respeitando – como o Brasil já faz há muito tempo, por força da Constituição – o princípio de não ingerência em assuntos internos de outras nações.
É isso que irrita os radicais antinacionais que pululam nas redes e portais da internet brasileira. Se, mais realistas que o rei, em sua patética subserviência aos Estados Unidos, e seu ridículo, anacrônico e baboso anticomunismo, eles estão indignados com o reatamento das relações diplomáticas entre Washington e Havana, chamando Barack Obama de comunista sujo e de “burro” em seus comentários, imaginem o que fariam se a Alemanha e os EUA viessem a aderir ao BRICS, a aliança estratégica global dos países emergentes – com 17 trilhões de dólares de PIB – que a direita mais rançosa e certos grupos de comunicação brasileiros não perdem a oportunidade de execrar sempre que possível.
HIPÓTESE ABSURDA?
Por mais absurda que pareça, essa hipótese – independentemente das atuais considerações estratégicas de Pequim, Moscou, Brasília, Pretória e Nova Delhi – já está sendo aventada por muita gente por aí.
O jornalista Greg Hunter, ex-ABC News, Good Morning America e CNN, do site USA Watchdog, diz que a Alemanha – levada, também, entre outros fatores, pela espionagem norte-americana da NSA – já estaria secretamente estudando a hipótese de entrar para o BRICS, o que abriria caminho para uma aliança com a Rússia, país que representa, hoje, paradoxalmente, não apenas a maior ameaça militar contra Berlim – em resposta ao cerco da OTAN contra Moscou patrocinado pelos EUA – mas também, a sua maior alternativa de expansão econômica rumo ao Leste, para além do espaço europeu.
Esse é uma atitude que também levaria, segundo alguns comentaristas alemães, a uma maior independência do país mais importante da Europa com relação aos EUA, lembrando, o fato, cristalino, de que as únicas tropas estrangeiras que ainda estão ocupando o pais, desde 1945, já não são mais russas, mas Made in USA.
PETIÇÃO NOS EUA
Há algumas semanas circula, também, nos Estados Unidos, patrocinada pelo controvertido jornalista norte-americano Lyndon LaRouche, uma petição internacional para que a União Europeia e os EUA – em benefício da paz – entrem para o BRICS, com assinaturas que vão de conservadores britânicos a roteiristas premiados e cientistas e professores universitários, cujos principais nomes, a título de curiosidade, coloco logo depois do final deste texto.
LaRouche lançou até mesmo um livro (foto) cujo título não é outro que: Porque os Estados Unidos devem entrar nos Brics – Uma nova ordem internacional para a Humanidade.
Nada – ao menos por enquanto – mais improvável. Mas com relação à reação – no duplo sentido – dos hitlernautas brasileiros, seria algo – caso viesse a ocorrer – como mostra a sua atitude frente à reabertura da embaixada cubana em Washington – muito engraçado de se ver.
27 de julho de 2015
Mauro Santayana
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