"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

BANCO CENTRAL E FAZENDA NÃO SABIAM DAS REMESSAS DA ODEBRECHT?


É a pergunta que complementa as denúncias reveladas pelo Ministério Público Federal focalizando as remessas de dinheiro feitas para o exterior nas contas, pois agora se sabe dos recebedores de propinas por sua participação em contratos da Petrobrás com as empreiteiras, principalmente a Odebrecht e a Andrade Gutierrez. Na tarde de sexta-feira, em entrevista coletiva transmitida ao vivo pela GloboNews, o procurador Deltan Dallaignon revelou minuciosamente as conexões existentes entre a Odebrecht, especialmente, e os personagens do propinoduto cujas ações causaram prejuízo de 6 bilhões de reais à economia da empresa estatal. A matéria foi, inclusive objeto de detalhada reportagem de Germano Oliveira, Thais Skodowski, Cleide Carvalho e Sílvia Amorim, edição de O Globo de sábado.
Ora, se o Ministério Público Federal conseguiu levantar eficientemente os depósitos feitos em bancos suíços vinculados a um esquema de corrupção, como o Banco Central e o Ministério da Fazenda não perceberam o que estava se passando?
Os destinatários das remessas ilegais das divisas creditavam suas importâncias em bancos suíços através de empresas criadas em seu nome no exterior. Depois repassavam participações a políticos do PT, PP e PMDB. Tal conduta prolongou-se de 2006 a 2014, tempo suficiente para que a engrenagem pelo menos fosse investigada por parte daqueles que possuem a obrigação de apurar tais procedimentos. Eles começavam com suborno, prosseguiam por intermédio de depósitos nas contas de Paulo Roberto Costa, Pedro Barusco e Renato Duque. Num terceiro estágio então chegavam aos setores partidários envolvidos.
POR QUE NÃO INFORMARAM?        
Porque motivo o BC e o Comitê de Administração Financeira do Ministério da Fazenda, para exigir o mínimo, não informaram ao ex-presidente Lula e à presidente Dilma Rousseff o que estava se passando. Não era nada difícil pois são órgãos especializados nas operações relativas ao sistema financeiro do país. Se agora a Procuradoria Geral da República foi capaz de rastrear tal circuito de contas no exterior, principalmente na Suíça, custa-se crer que tal capacidade não pudesse ser exercida exatamente pelos setores especializados do governo que possuem especialização técnica e capacidade operacional para agir. Afinal de contas, a evasão de divisas sem inclusão legal constitui um crime contra a ordem pública do país.
As denúncias apresentadas pelo procurador Deltan Dallaignon encontram-se comprovadas pelos depósitos financeiros que ele apresentou com grande objetividade e firmeza. Logo, houve omissão do Banco Central e da Fazenda quanto a uma tarefa que lhes cabia executar. Não quero dizer com isso que seus integrantes no período tenham participado da corrupção colocada em prática. Mas sim que foram tecnicamente omissos, uma vez que conhecimento técnico não lhes falta para identificar os descaminhos do dinheiro.
E OS DÓLARES
Não sendo emissor de dólares, o Brasil teria que adquiri-los em alguma fonte para remeter os depósitos para os envolvidos no esquema em moeda americana. É evidente que a Odebrecht sabia muito bem o que estava acontecendo e só poderia pagar as propinas que pagou se tivesse obtido elevação nos preços dos contratos firmados com a Petrobrás. A mesma lógica se aplica à Andrade Gutierrez, à UTC de Ricardo Pessoa e as demais empreiteiras envolvidas na teia dos negócios de petróleo.
Também uma outra evidência: o volume movimentado no esquema, segundo a denúncia do MPF, superou um bilhão de reais. Foram usadas inclusive off-shores que não possuem o nome da Odebrecht mas que têm a propriedade real da empreiteira. Quanto à Andrade Gutierrez as propinas foram pagas através de empresas de fachada.
Como poderiam existir empresas de fachada sem o devido cadastramento no Imposto de Renda. Os especialistas do governo facilmente identificariam a farsa, como comprovam as investigações habituais que realizam quanto as declarações anuais de imposto de renda dos assalariados. Inclusive o número de declarações emitidas por pessoas físicas é infinitamente superior aos das pessoas jurídicas. Assim tornar-se-ia muito mais fácil localizar a existência no exterior e os propósitos de companhias montadas exclusivamente com o propósito de receber e transferir recursos financeiros para contas no exterior. Por que isso não foi feito? – É uma resposta que se torna indispensável neste momento.
FHC RECUSA APROXIMAÇÃO
A situação do governo é tão sensível que o ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff propuseram, através de figuras do PT, encontrarem-se com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para tratar de assuntos vinculados à governabilidade do país. Depois da surpresa causada pela iniciativa, como publicaram ontem O Globo e a Folha de São Paulo, FHC recusou-se a manter tal aproximação.
Dessa forma a iniciativa fabricada no Palácio do Planalto surtiu o efeito contrário àquele a que era voltado. Porque se há necessidade de agir no sentido de uma governabilidade, deduz-se logicamente que a estabilidade do governo encontra-se abalada pelos acontecimentos que se agravam a cada dia que passa. O panorama torna-se mais denso e a saída para a crise que se instalou apresenta-se cada vez mais estreita e, portanto, difícil. Já se disse aqui que o acesso a um outro clima político depende das ruas e não de conversas entre quatro paredes. Como na peça famosa de Sartre, o sigilo é comprometedor para os que o alimentam e dele participam. Exatamente o contrário dos efeitos da luz do sol.

27 de julho de 2015
Pedro do Coutto

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