Dividiu-se em duas partes conflitantes a instalação do V Congresso Nacional do PT, na noite de quinta-feira, em Salvador. Na primeira, antes que a presidente Dilma e o Lula entrassem no auditório, os oradores lembraram os tempos em que o partido fazia oposição. Marcos Sockol, Monica Valente, Paulo Ferreira, Ademário e outros pareciam bolcheviques em delírio. Além de exaltarem a luta de classes, fulminaram a aliança com o PMDB, referindo-se pejorativamente a Eduardo Cunha, Renan Calheiros e Michel Temer, sem esquecer Joaquim Levy, “que pisam em nosso pescoço”. Exigiram uma assembléia constituinte, bateram firme no ajuste fiscal, denunciaram os ganhos do sistema financeiro, reconheceram estar esgotado o ciclo da “concertação” com os aliados, optaram por alterar a própria consciência e partir para a luta.
GOLPE DE DIREITA
A hora, para eles, seria de debater um novo modelo de governar, de repensar um programa para um período diferente, “pois o atual esgotou-se”. Denunciaram estar em curso um golpe da Direita, porque os sonhos dos trabalhadores e da juventude se foram. Reformas sociais, só profundas, jamais a supressão de direitos trabalhistas: “O PT está em tempo de guerra, não pode ficar em casa, é preciso mobilização”.
Para não deixar dúvidas de que se referiam ao período Dilma, criticaram “a agenda política conservadora que o governo defende através de uma política curta”. Ouviu-se mais de uma vez a exortação “para que o PT fosse às ruas e à guerra contra o ajuste fiscal”.
Os bolcheviques se alternavam na tribuna, aplaudidos sem muita convicção, quando fato inusitado aconteceu: o blog do PT saiu do ar, ou melhor, continuou a ser transmitido, mas apenas repetindo os pronunciamentos acima expostos. Nenhum novo orador pôde ser ouvido, tendo-se a impressão de uma ordem dada pela metade. Não houve mais novas agressões, mas apenas as já enunciadas continuaram, repetidas por quase uma hora. Houve quem especulasse ter a interrupção começado quando Dilma chegou do aeroporto e instalou-se, junto com o Lula, numa salinha ao lado do auditório. Algum técnico de TV simpático ao destampatório vingou-se cortando novas diatribes mas mantendo as antigas…
DEPOIS, O OPOSTO
Na segunda parte da sessão, a cargo de Lula, Dilma e do presidente Rui Falcão, aconteceu o oposto. Só elogios ao governo, com a presidente justificando o ajuste fiscal e tentando injetar otimismo na platéia. O refrão “Lula-lá” sobrepôs-se ao “Dilma-lá”, mas Madame não foi vaiada. Recebeu sua cota de palmas.
Registre-se, no discurso do ex-presidente, profundas aleivosias contra a imprensa. Disse estarem se completando dez anos desde que a mídia começou a anunciar a morte do PT, “quando uma revista considerada importante apresentou na capa seu rosto se esfarelando e a estrela vermelha se partindo”. Foi quando ele se elegeu…
Em suma, uma convenção singular, essa que se inaugurou em Salvador na noite de quinta-feira. Um auditório bem comportado, sem exaltações descontroladas, talvez pela surpresa de os companheiros constatarem a dificuldade em aplaudir dois tipos conflitantes de mensagens. A registrar está a distância com que o Lula e Aloízio Mercadante ocuparam seus lugares no palco. Bem longe, um do outro.
13 de junho de 2015
Carlos Chagas
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