A declaração oficial do Congresso do PT celebra Hugo Chávez. Mas lulopetismo não é chavismo. Bem antes de atingir a encruzilhada venezuelana, Lula e Dilma fizeram meia-volta, num recuo simbolizado pelo nome de Joaquim Levy. "Fora, Levy!", gritam em Salvador alguns petistas sinceramente "bolivarianos" e outros tantos apenas trapaceiros. Fora, Levy! –eu concordo com eles, por motivos diferentes. O ministro da Fazenda faz mal para o Brasil, tanto em política quanto em economia.
Levy é um subordinado de Dilma: a política econômica que conduz é a do governo. Contudo, sua presença no núcleo do governo propicia a difusão da narrativa pilantra segundo a qual o ministro é um "agente infiltrado das elites". A finalidade da lenda é proteger Dilma das consequências de suas próprias escolhas. Sem Dilma 1 (e Lula 2, por sinal!), não existiria Dilma 2. A contração fiscal de hoje é o complemento simétrico da farra fiscal de ontem. A política econômica "de direita" emana, em linha direta, da política econômica "de esquerda".
À Folha (10/6) Paul Singer disse que "não teria entregue o cargo mais importante" a Levy, pois "ele é de direita". Singer acha que a reviravolta podia ser feita "com gente do próprio PT". Nisso, tem razão: Nelson Barbosa, Guido Mantega ou até mesmo Aloizio Mercadante (ui!) servem para produzir um ajuste fiscal. Entretanto, "com gente do próprio PT", os petistas não teriam um cordeiro sacrificial para camuflar o fracasso da sua "Nova Matriz Econômica". Levy, o "Judas", embaça o vidro da janela, reduzindo a nitidez da paisagem política. Fora, Levy!, pois é hora de aprender as lições da crise.
Dilma não convocou Levy porque ele possui algum saber excepcional, mas porque ele tem um lastro de confiança que falta à "gente do próprio PT". O nome do "banqueiro" gera expectativas positivas entre investidores e agências de classificação de risco: acredita-se que ele oferecerá estabilidade e segurança. O lulopetismo usa essa crença como permissão para fazer o mínimo. Sem Levy, a guinada econômica teria que ser pra valer. Com ele, o governo ganha tempo, preparando um novo ciclo de populismo fiscal para as vésperas do ano da graça de 2018.
Segundo Singer, na mesma entrevista, "com gente do PT", o ajuste "poderia ser feito ao longo de anos", "de uma forma menos violenta". Nisso, ele não tem razão. Sem a confiança depositada em Levy, seria impossível fazer um ajuste de baixa qualidade, que não é acompanhado por reformas destinadas a aumentar a produtividade da economia. Face ao espectro do rebaixamento da nota do Brasil, a "gente do PT" seria compelida a praticar uma cirurgia profunda. Com o "banqueiro", porém, o governo pode apostar tudo num fiscalismo primitivo e esquecer as múltiplas ineficiências que bloqueiam o investimento privado. Sob o seu encanto provisório, o governo pode conservar os arcaísmos da administração pública, do sistema tributário, do mercado de trabalho e da política comercial. À sombra de Levy, a Petrobras continua a brincar de conteúdo nacional e de regime de partilha no pré-sal. Fora, Levy!, pois já passa da hora de encarar a realidade.
A operação Levy inscreve-se na tradição brasileira da ofuscação, que protege os interesses gerais da elite política às custas dos interesses do país. Com "gente do PT", o lulopetismo seria obrigado a conduzir, à luz do dia, a política econômica que condena nas resoluções farsescas de seus congressos. Com "gente do PT", o país poderia revisitar criticamente uma longa trajetória de ufanismo neonacionalista revestida com o papel de parede da redenção popular. Por outro lado, com o "Cristo" providencial, ficamos reféns de um governo que não governa e de um Congresso sujeito aos caprichos de figuras como Renan Calheiros e Eduardo Cunha.
De salvadores da pátria, basta Lula. Fora, Levy!
13 de junho de 2015
Demétrio Magnoli
Levy é um subordinado de Dilma: a política econômica que conduz é a do governo. Contudo, sua presença no núcleo do governo propicia a difusão da narrativa pilantra segundo a qual o ministro é um "agente infiltrado das elites". A finalidade da lenda é proteger Dilma das consequências de suas próprias escolhas. Sem Dilma 1 (e Lula 2, por sinal!), não existiria Dilma 2. A contração fiscal de hoje é o complemento simétrico da farra fiscal de ontem. A política econômica "de direita" emana, em linha direta, da política econômica "de esquerda".
À Folha (10/6) Paul Singer disse que "não teria entregue o cargo mais importante" a Levy, pois "ele é de direita". Singer acha que a reviravolta podia ser feita "com gente do próprio PT". Nisso, tem razão: Nelson Barbosa, Guido Mantega ou até mesmo Aloizio Mercadante (ui!) servem para produzir um ajuste fiscal. Entretanto, "com gente do próprio PT", os petistas não teriam um cordeiro sacrificial para camuflar o fracasso da sua "Nova Matriz Econômica". Levy, o "Judas", embaça o vidro da janela, reduzindo a nitidez da paisagem política. Fora, Levy!, pois é hora de aprender as lições da crise.
Dilma não convocou Levy porque ele possui algum saber excepcional, mas porque ele tem um lastro de confiança que falta à "gente do próprio PT". O nome do "banqueiro" gera expectativas positivas entre investidores e agências de classificação de risco: acredita-se que ele oferecerá estabilidade e segurança. O lulopetismo usa essa crença como permissão para fazer o mínimo. Sem Levy, a guinada econômica teria que ser pra valer. Com ele, o governo ganha tempo, preparando um novo ciclo de populismo fiscal para as vésperas do ano da graça de 2018.
Segundo Singer, na mesma entrevista, "com gente do PT", o ajuste "poderia ser feito ao longo de anos", "de uma forma menos violenta". Nisso, ele não tem razão. Sem a confiança depositada em Levy, seria impossível fazer um ajuste de baixa qualidade, que não é acompanhado por reformas destinadas a aumentar a produtividade da economia. Face ao espectro do rebaixamento da nota do Brasil, a "gente do PT" seria compelida a praticar uma cirurgia profunda. Com o "banqueiro", porém, o governo pode apostar tudo num fiscalismo primitivo e esquecer as múltiplas ineficiências que bloqueiam o investimento privado. Sob o seu encanto provisório, o governo pode conservar os arcaísmos da administração pública, do sistema tributário, do mercado de trabalho e da política comercial. À sombra de Levy, a Petrobras continua a brincar de conteúdo nacional e de regime de partilha no pré-sal. Fora, Levy!, pois já passa da hora de encarar a realidade.
A operação Levy inscreve-se na tradição brasileira da ofuscação, que protege os interesses gerais da elite política às custas dos interesses do país. Com "gente do PT", o lulopetismo seria obrigado a conduzir, à luz do dia, a política econômica que condena nas resoluções farsescas de seus congressos. Com "gente do PT", o país poderia revisitar criticamente uma longa trajetória de ufanismo neonacionalista revestida com o papel de parede da redenção popular. Por outro lado, com o "Cristo" providencial, ficamos reféns de um governo que não governa e de um Congresso sujeito aos caprichos de figuras como Renan Calheiros e Eduardo Cunha.
De salvadores da pátria, basta Lula. Fora, Levy!
13 de junho de 2015
Demétrio Magnoli
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