"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 13 de junho de 2015

A ONDA CONSERVADORA

O PT, na tentativa de explicar a rejeição geral de que padece, denuncia o advento de “uma onda conservadora” no país.
A direita, financiada sabe-se lá por quem, estaria por trás da insatisfação popular que penaliza o partido, confinando-o aos ambientes fechados, imunes a vaias e panelaços.

Tudo, no fim das contas, não passaria de um artifício perverso, vitimando gente boa e inocente.

Na realidade, porém, não há um elo ideológico entre os insatisfeitos, que, segundo as pesquisas, já passam de 90%. Entre os que pedem a saída do PT do poder, há de tudo: progressistas decepcionados, liberais ortodoxos, socialdemocratas, até os que pedem intervenção militar.

A maioria, porém – quer na classe média, quer entre os mais pobres, onde a rejeição aos petistas atingiu níveis inéditos -, não professa nenhuma ideologia. Quer apenas ser governada por gente decente e com alguma competência. E o que vê é o contrário: um governo ruim, cercado de escândalos por todos os lados.

Os ajustes na economia pressupõem a vigência de desajustes, construídos em doze anos de governo petista. Não é possível atribuí-los a antecessores, até porque os três últimos eram do próprio PT. Não bastasse, há os escândalos. Nada disso é conservador ou progressista: simplesmente é.

Se os 90% que rejeitam o governo do PT, segundo pesquisas encomendadas pelo próprio Planalto, compusessem uma “onda conservadora”, o Brasil estaria protagonizando um fenômeno mundial: um país conservador sem um único partido a vocalizá-lo. Todo o espectro partidário se diz de esquerda ou centro-esquerda. Até o DEM se diz um partido de centro. Ninguém é de direita.

O conservadorismo brasileiro é muito mais na esfera comportamental, relacionado a valores de índole religiosa, decorrentes de sua formação cristã, que de ordem político-doutrinária. O brasileiro médio continua a crer mais no Estado que na iniciativa privada - mas não, obviamente, num Estado criminoso.

O de que se trata, pois, é de simples rejeição ao crime e à incompetência. Nada mais. E o crime, como a incompetência, não é de direita, nem de esquerda, nem de centro – é simplesmente crime. O próprio PT, ao propor, neste 5º Congresso que realiza em Salvador, uma volta a seu projeto original, reconhece desvios e “malfeitos”. Ninguém volta ao lugar de onde não saiu. E o partido, que chegou ao poder como paladino da moral, não apenas profanou seu projeto de origem: tornou-se a síntese do que rejeitava.

Aliou-se aos que, no passado, chamava de facínoras, e superou-os na arte da rapina. Elevou-a à casa dos bilhões. Pedro Barusco, o gerente que servia a Renato Duque – o homem do PT na Petrobras – confessou ter recebido R$ 200 milhões em propinas. E, para não deixar dúvida, devolveu-os.

Se a confissão é a rainha das provas, adquire ainda mais majestade quando acompanhada da devolução do roubo.

Todo o escândalo mundial da Fifa, até aqui, revelou o desvio de R$ 150 milhões. Ou seja, a ladroagem futebolística perde de goleada não para a do PT, mas apenas para de a de um de seus subalternos. Pelo montante em jogo e evidências de que o padrão criminoso se estendia a outras estatais, sabe-se que é impossível que tenha sido fruto, como declarou a presidente Dilma, apenas da ação de um “quarteto de delinquentes”.

As sucessivas investigações da Operação Lava-Jato mostram que figurões do partido – e do governo - estiveram à frente do maior assalto aos cofres públicos de que se tem notícia.

A própria Petrobras admite, em seu balanço recém-divulgado, o roubo de R$ 6 bilhões – que a ex-presidente, Graça Foster, havia dito que era de R$ 88,6 bilhões. Os números, por enquanto, dão mais credibilidade às contas de Graça Foster que às de seu sucessor na presidência da estatal, Aldemir Bendini.

O presidente do PT, Rui Falcão, diz que jamais nenhum governo investigou tanto a corrupção quanto os do PT. No entanto, o mesmo governo, que diz promover as investigações, se empenha no Congresso em barrar CPIs, como a do BNDES. E protesta contra o enquadramento de seus delinquentes na Justiça.

O que está claro é que o governo não investigou coisa alguma; apenas não conseguiu impedir que órgãos do Estado, como Polícia Federal e Ministério Público, o fizessem.

Se estivesse a seu alcance impedi-lo, não há dúvida de que o faria, como o faz no Congresso ao acionar sua maioria para impedir a instalação de CPIs ou sabotar as já instaladas.

Nada disso tem relação com “onda conservadora”. Se há sinais de que esse pensamento revive em alguns âmbitos (universidades, meios de comunicação) – e isso é saudável, pois o contraponto ideológico está na essência da democracia -, claro está também que nem de longe ameaça a hegemonia do pensamento esquerdista e não tem forças para levar milhões às ruas. As multidões não saíram em protesto por inspiração de Adam Smith, mas pelo conjunto da obra dos governos Lula e Dilma.

A onda de rejeição está mais relacionada à letra do Código Penal que à dos manuais de doutrina política. Se se quer conservar alguma coisa, é o que resta de decência e bom senso no país.


13 de junho de 2015
Ruy Fabiano

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