Foi um estrondo a sua declaração em uma cerimônia na Universidade de Torino, de que a internet dá voz a uma multidão de imbecis. o que o senhor achou da dimensão que o assunto tomou? HE - As pessoas fizeram um grande estardalhaço por eu ter dito que multidões de imbecis têm agora como divulgar suas opiniões. Ora, veja bem, num mundo com 7 bilhões de pessoas, você não concordaria que há muitos imbecis? Não estou falando ofensivamente quanto ao caráter das pessoas. O sujeito pode ser um excelente funcionário ou pai de família, mas ser um completo imbecil em diversos assuntos. Com a internet e as redes sociais, o imbecil passa a opinar a respeito de temas que não entende. Mas a internet tem o seu valor, não? HE - A internet é como Funes, o memorioso, personagem de Jorge Luis Borges: lembra tudo, não esquece nada. É preciso filtrar, distinguir. Sempre digo que a primeira disciplina a ser ministrada nas escolas deveria ser sobre como usar a internet: como analisar informações. O problema é que nem mesmo os professores estão preparados para isso. Foi nesse sentido que defendi recentemente que os jornais, em vez de se tornar vítimas da internet, repetindo o que circula na rede, deveriam dedicar espaço para a análise das informações que circulam nos sites, mostrando aos leitores o que é sério, o que é fraude. Será que os jornais estão prontos para isso? A crítica da internet exige um novo tipo de expertise, mesmo para os jornais. E isso é muito importante para os jovens, pois eles não têm, aos 15, 16 anos, os conhecimentos necessários para filtrar as informações a que têm acesso na rede. Ora, assim como quem lê diversos jornais acaba aprendendo a distinguir as abordagens distintas de cada um deles, os jovens hoje precisam aprender a buscar essa variedade de abordagens nos sites que frequentam. No livro, o fascismo de Mussolini é uma sombra sobre a história italiana do pós-guerra. Qual é a cara atual do fascismo? HE - O fascismo clássico, representado por Mussolini, desapareceu. Mas NÚMERO ZERO (o livro recém publicado de Humberto Eco) é dominado pelo sentimento do retorno do que eu chamei de "fascismo eterno". E isso está associado a diversos aspectos da política contemporânea. A atitude política da Liga Norte, discriminatória e racista, é uma nova forma de fascismo. Trata-se de uma questão de atitude política mais ampla do que a experiência histórica de Mussolini, e podemos encontrá-la em diferentes contextos históricos. Veja o Estado Islâmico, que eu chamo de o novo nazismo: querem aniquilar outras etnias, impor um credo, conquistar o mundo. Nunca nos livramos permanentemente dessa atitude. *** |
"NUM MUNDO COM 7 BILHÕES DE PESSOAS, VOCÊ NÃO CONCORDA QUE HÁ MUITOS IMBECIS? NA INTERNET, O IMBECIL PODE OPINAR SOBRE TUDO O QUE NÃO ENTENDE".
"OS JORNAIS, EM VEZ DE SE TORNAR VÍTIMAS DA INTERNET, REPETINDO O QUE CIRCULA NA REDE, DEVERIAM DEDICAR ESPAÇO PARA A ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES. MAS A CRÍTICA DA INTERNET EXIGE UMA NOVA EXPERTISE, MESMO PARA OS JORNAIS".
"O FASCISMO CLÁSSICO, DE MUSSOLINI, DESAPARECEU. MAS A ATITUDE POLÍTICA FASCISTA PODE SER ENCONTRADA EM OUTROS CONTEXTOS HISTÓRICOS. VEJA O ESTADO ISLÂMICO, QUE EU CHAMO DE NOVO NAZISMO. NUNCA NOS LIVRAMOS DESSA ATITUDE".
30 de junho de 2015
m.americo
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