A economia e o cidadão brasileiro sofrem no momento com uma saraivada de maldades. O governo corta gastos, inclusive de investimentos, aumenta impostos e tarifas, reduz incentivos fiscais, eleva sem parar a taxa básica de juros e reduz os créditos do BNDES, os únicos acessíveis a taxas civilizadas.
Nenhuma economia pode resistir por muito tempo a uma sequência de medidas desse porte. O desemprego cresce mês a mês, e a indústria já está em recessão há muito tempo. Em abril, considerando a variação anual, houve queda nacional de 7,6% na produção, atingin- do 13 dos 15 locais pesquisados pelo IBGE. E os números são assustadores: -20% no Amazonas, -15% no Ceará, -13% na Bahia, -11% em São Paulo.
Não há como sair dessa situação e voltar a crescer sem retomar os investimentos, sejam eles públicos, privados, nacionais ou estrangeiros.
O empresário não investe para amanhã. Pensa no longo prazo. Se a demanda está fraca no momento, isso não quer dizer que o enorme mercado brasileiro acabou. Está aí, como sempre esteve, e tem tudo para voltar a crescer. É como um bolo: só precisa de fermento, que são os investimentos.
Ajuste fiscal é bom e necessário, mas não enche barriga. O que ocorreu na semana passada foi um exemplo positivo. O governo lançou um novo pacote de concessões, com previsões de investimentos de R$ 198 bilhões no longo prazo. Foi, na prática, o primeiro gesto pós-ajuste.
O caminho é esse, mas há ainda um entrave à frente: os juros. A recessão se aprofunda, e o Brasil continua aumentando sua taxa básica, hoje no nível absurdo de 13,75% ao ano. Trata-se de uma dose exagerada e desnecessária de aperto monetário.
O eminente economista Yoshiaki Nakano disse o seguinte, em artigo no "Valor" da semana passada: "Se o ajuste fiscal for feito com forte corte de despesas correntes, as expectativas se revertem, a confiança é recomposta e pressões inflacionárias podem ficar contidas. E, com política monetária de juros baixos, tanto o consumo como o investimento reagem rapidamente".
É isso. Destaco mais dois ensinamentos do professor Nakano. O primeiro é sobre a natureza do ajuste fiscal: quando ele se dá pelo aumento de impostos, em geral, redunda em fracasso.
O segundo é sobre o impacto social das políticas públicas de ajuste: quando o governo decide contrair significativamente seus gastos, é racional articular as políticas monetária e fiscal para minimizar os custos para a sociedade.
Não pode a autoridade monetária, na busca de credibilidade, impor tamanho sacrifício a todos os setores da economia. O Tesouro gasta R$ 30 bilhões por ano a cada ponto percentual de aumento na taxa de juros. As empresas sofrem com a queda da demanda, a falta de credito e seu alto custo. E os cidadãos ficam assustados com o avanço do desemprego.
Há um ano, mais ou menos, escrevi aqui que o Brasil pode ser um país como os outros, financeiramente civilizado, que controla os gastos públicos correntes, privilegia investimentos do governo e oferece crédito ao setor produtivo e às pessoas físicas sem cobrar taxas escorchantes de juros.
Continuo com essa crença.
17 de junho de 2015
Benjamin Steinbruch
Nenhuma economia pode resistir por muito tempo a uma sequência de medidas desse porte. O desemprego cresce mês a mês, e a indústria já está em recessão há muito tempo. Em abril, considerando a variação anual, houve queda nacional de 7,6% na produção, atingin- do 13 dos 15 locais pesquisados pelo IBGE. E os números são assustadores: -20% no Amazonas, -15% no Ceará, -13% na Bahia, -11% em São Paulo.
Não há como sair dessa situação e voltar a crescer sem retomar os investimentos, sejam eles públicos, privados, nacionais ou estrangeiros.
O empresário não investe para amanhã. Pensa no longo prazo. Se a demanda está fraca no momento, isso não quer dizer que o enorme mercado brasileiro acabou. Está aí, como sempre esteve, e tem tudo para voltar a crescer. É como um bolo: só precisa de fermento, que são os investimentos.
Ajuste fiscal é bom e necessário, mas não enche barriga. O que ocorreu na semana passada foi um exemplo positivo. O governo lançou um novo pacote de concessões, com previsões de investimentos de R$ 198 bilhões no longo prazo. Foi, na prática, o primeiro gesto pós-ajuste.
O caminho é esse, mas há ainda um entrave à frente: os juros. A recessão se aprofunda, e o Brasil continua aumentando sua taxa básica, hoje no nível absurdo de 13,75% ao ano. Trata-se de uma dose exagerada e desnecessária de aperto monetário.
O eminente economista Yoshiaki Nakano disse o seguinte, em artigo no "Valor" da semana passada: "Se o ajuste fiscal for feito com forte corte de despesas correntes, as expectativas se revertem, a confiança é recomposta e pressões inflacionárias podem ficar contidas. E, com política monetária de juros baixos, tanto o consumo como o investimento reagem rapidamente".
É isso. Destaco mais dois ensinamentos do professor Nakano. O primeiro é sobre a natureza do ajuste fiscal: quando ele se dá pelo aumento de impostos, em geral, redunda em fracasso.
O segundo é sobre o impacto social das políticas públicas de ajuste: quando o governo decide contrair significativamente seus gastos, é racional articular as políticas monetária e fiscal para minimizar os custos para a sociedade.
Não pode a autoridade monetária, na busca de credibilidade, impor tamanho sacrifício a todos os setores da economia. O Tesouro gasta R$ 30 bilhões por ano a cada ponto percentual de aumento na taxa de juros. As empresas sofrem com a queda da demanda, a falta de credito e seu alto custo. E os cidadãos ficam assustados com o avanço do desemprego.
Há um ano, mais ou menos, escrevi aqui que o Brasil pode ser um país como os outros, financeiramente civilizado, que controla os gastos públicos correntes, privilegia investimentos do governo e oferece crédito ao setor produtivo e às pessoas físicas sem cobrar taxas escorchantes de juros.
Continuo com essa crença.
17 de junho de 2015
Benjamin Steinbruch
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