"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

DOIS ANOS DEPOIS DAS "JORNADAS DE JUNHO", DEPUTADOS NEGAM DEMANDA CENTRAL DAS RUAS : MUDANÇA

Há exatos dois anos, em junho, centenas de milhares de pessoas saíram às ruas, primeiro em São Paulo com o Movimento Passe Livre (MPL) e depois no país todo, para protestar. O movimento espontâneo surpreendeu. Foi um fenômeno. As demandas, que começaram centradas na mobilidade urbana, logo se tornaram diversas, apontando para um alto grau de insatisfação em relação aos poderes instituídos. Os ‘políticos’, a polícia, a mídia. Naquele instante algo parecia prestes a implodir.

As chamadas jornadas de junho (o que ficou delas?) também inauguraram novas formas de manifestação no país que passaram, invariavelmente, a incluir o bloqueio de ruas nas grandes cidades. 
O enredo se repetiu por meses a fio: por melhor transporte, por saúde, educação e a favor de demandas específicas que, naquelas circunstâncias, puderam ganhar, se não relevância, alguma audiência. 
Cenas registradas em celulares, helicópteros e locutores sensacionalistas de TV invadiram nosso cotidiano.

Na época, no auge da revolta das ruas, a presidente Dilma foi à TV e popularizou a ideia de que era necessária uma reforma política. Foi uma boa saída para Dilma. Os congressistas, acuados, e as demais forças políticas, todas elas sob a mira da ira popular momentânea, de alguma forma deram sua anuência à ideia de que muita coisa deveria, de fato, mudar, embora ninguém explicitasse o que, nem como, nem quando. Acolher os ventos das ruas, direcionando-os em benefício próprio, era o que todos queriam.

O tempo passou, vieram as eleições, com os candidatos cientes de que a palavra chave para conquistar o eleitor seria MUDANÇA. Esteve nos slogans e jingles de todos os presidenciáveis.

Mas havia algo de falho na supervalorização da ideia de mudança no horário eleitoral, algo que não batia. O formato das campanhas, em especial aquelas para o parlamento, seguiu a mesma das décadas anteriores. 
Se os presidenciáveis buscavam transformar MUDANÇA em mensagem atraente de marketing, os partidos políticos não mexeram uma palha para incluí-la, de fato, na maneira como se comunicavam com seus eleitores – iniciando a MUDANÇA já no modo como se dirigiam ao eleitor. 
Pelo contrário: prevaleceu em 2014 um formato velho de fazer campanha, especialmente visível no horário de TV dos congressistas, distante de qualquer preocupação real em conciliar a política com as novas demandas sociais. Afirmou-se o de sempre: o curral eleitoral, as promessas vazias e repetitivas.

Ao votar recentemente uma reforma política que não reforma – e que teve como destaques o fim da reeleição e a redução dos mandatos de senadores, que nada de fundamental alteram – os deputados federais pareceram escarnecer das demandas sociais. Reafirmaram, em benefício próprio, uma de nossas mais longevas tradições políticas: mudar para que tudo continue como está.


17 de junho de 2015
Rogério Jordão

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