"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

SOBRE TIO FREUD, NENÉM PRANCHA E A ROUBALHEIRA BRAZUCA

Em Traumdeutung, “A interpretação dos sonhos”, Freud apresenta a noção de deslocamento como um mecanismo essencial para a elaboração dos sonhos. Freud aplica-os à formação de sintomas, de atos falhos, de ironias, de esquecimentos. Em suma: desloco quando lavo a roupa suja em outro lugar…

Pelo deslocamento uma quantidade de afeto se desliga da representação inconsciente, à qual estava atada, e vai ligar-se a uma outra, que só tem com a precedente laços de associação pouco intensos, adventicios, tênues. A fatura é espetada em outra conta.
Diz Freud “Os pensamentos do meu sonho, explica Freud, eram injuriosos para R.; para que eu não o note, são substituídos pelo seu oposto, a ternura”. 
Tio Freud dá também exemplos do quotidiano: o apego de uma solteirona por animais, a paixão de um solteirão pelas suas coleções, o ardor do soldado na defesa de um bocado de pano colorido, a bandeira, a fúria de Othelo por um lenço perdido.


Essa coisa chamada ser humano desloca para outros lugares a execução das faturas, digamos, nada potáveis para a existência.
O que a gente não engole e não suporta, a gente desloca: simples assim.
A ideologia faz uso, aos magotes, de deslocamentos.

Inglaterra do século 19, no início da Revolução Industrial, trabalhava-se 16 horas por dia. A média de habitação era de 26 pessoas por casa. Em 1821 um trabalhador lograva 16 shillings por semana, dez anos depois eram apenas 6 shillings. A esperança de vida era inferior a 40 anos.

As condições de saúde e infraestrutura eram abjetas. Veio a tuberculose em massa. O Times londrino satanizava em suas manchetes o Bacilo de Koch: ele era o monstro a gerar tudo aquilo. O Times londrino tirava a culpa da falta de condições sociais dadas aos migrantes do campo e metia a culpa no pobre bacilo.
Deslocou-se a culpa ao bacilo.

Nazistas, antes do massacrar judeus, fizerem seus primeiros balões de ensaio dizimando Testemunhas de Jeová, então batizados, enquanto cobaias do Holocausto, de “Triângulos Roxos”. Todo o caos econômico e social da República de Weimar (1918-1933) foi deslocado para crentes e judeus como “moeda de resgate” (o termo é Durkheim) de uma situação incontornável.

Maus governantes, quando não conseguem tourear a criminalidade, deslocam a culpa ao bandido. Não entra em discussão a falta de emprego que conduz ao crime.


Brasil

Finalmente chegamos ao maior deslocamento da história do Brasil. Seja o tucano Alstoniano e petroleiro, seja o petista mensaleiro e petroleiro, a culpa é lavada nos criminosos e delatores. Já falei aqui sobre quando a culpa é deslocada para os mortos:
https://br.noticias.yahoo.com/blogs/claudio-tognolli/morrer-pode-ser-fatal-no-brasil-culpa-de-012159261.html

Delatores delatando, petroleiros presos, a moeda de resgate exerceu o seu papel. Deslocou-se a culpa aos criminosos.
Mas a essência das coisas permanence: o ethos, a prática brasileira de virar político para poder roubar, e regatear cargos, segue incólume. O público aplaude a prisão dos culpados. E, deslocamento feito, nossos políticos seguem roubando. Afinal o público já foi toureado, tecnicamente, ao termos deslocado a culpa de tudo àqueles ora atrás das grades.

Agora: vejam o Tomasi di Lampedusa. Em seu livro Il Gattopardo, por aqui chamado O Leopardo, ele definia o funcionário público, burguês e corrupto, como “o bigodudo dançando na fachada do palácio, no frontão das igrejas, no alto dos chafarizes, nos azulejos das casas”. 
E que esse tipinho se constituía no símbolo maior da opulência de uma nobreza que se via ameaçada pela mudança, pelos novos ventos da República.
No livro, o Príncipe de Falconeri notava:
“A não ser que nos salvemos, dando-nos as mãos agora, eles nos submeterão à República. Para que as coisas permaneçam iguais, é preciso que tudo mude”.

Não se iludam: parace que algo mudou no Brasil com as prisões dos bandidos. Mas as coisas apenas foram deslocadas para eles. Basta lembrar quantos cargos e nomeações o PMDB acertou como o governo para poder apoiar a nomeação do ministro Fachin.
A estrutura segue: rompante em suas roubalheiras, ágil em seus deslocamentos. E, sobretudo, feliz por que 50 gatos pingados foram para a cadeia para que ela possa seguir roubando…

Ou como diria o técnico de futebol Neném Prancha: “Quem pede, recebe: quem se desloca, tem preferência”

21 de maio de 2015
Claudio Tognolli

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