A correria generalizada para a aprovação da Reforma Política sinaliza que os políticos perceberam que não há mais escapatória e que estamos no tempo de mudanças? Entenderam que é preciso estabelecer alguma conexão com as pessoas, depois das manifestações das ruas de 2013, 2014 e 2015? Tudo indica que sim. Outra variável importante é a proximidade (2016) das eleições para prefeito e vereador.
Só que o carro-chefe das mudanças é o “distritão”, projeto apoiado e articulado pelo vice-presidente Michel Temer (PMDB), que já passou pela Comissão de Reforma Política e deve seguir para votação na Câmara. Lastimavelmente, a população está completamente alheia ao debate.
Argumentam os ideários da reforma que essa pressa na tramitação teria o objetivo de responder com celeridade os pedidos de “mudança” das ruas. Trata-se interpretação equivocada e maldosa, além de contrária ao verdadeiro desejo das ruas.
Ao promover a votação a galope, o que os líderes da comissão conseguem, de fato, é isolar o povo, votando uma nova lei sem consulta ou discussão. Será que não enxergam que estão errados porque as ruas querem participação e mudança com representação?
Sem informação e discussão, o debate quase inexistente sobre a reforma política continua fraco. Como vai funcionar o distritão? Bem, o “distritão” é maestria política: o mais votado ganha. Uma proposta de simples entendimento e de fácil adesão.
A questão, porém, não é tão simples. A proposta favorece o lançamento de “candidatos celebridades”, como é definido o caso do Tiririca. Ou seja, o que se procura abolir com a reforma política, se tornaria ainda mais comum. Outras desvantagens: haveria muitos candidatos, o que manteria a escolha confusa, e muitos locais ficariam sem representantes. É preciso advertir ainda que o parlamentar e o povo poderiam continuar sem conexão. Além disso, o projeto tornaria as campanhas para os candidatos proporcionais (deputados federais e estaduais e vereadores) ainda mais caras!
Um contra-ataque de última hora ao “ distritão” do PMDB começou a se formar numa aliança entre o PT e o PSDB, em favor do Distrital Misto. Neste sistema, metade dos candidatos seriam eleitos por lista fechada (vontade do PT) e a outra metade pelo Distrital. Na lista fechada, o partido escolhe os candidatos e os coloca em ordem, numa lista. O eleitor vota apenas no partido, assim elege os mais votados na ordem decidida por cada partido. Em resumo: o eleitor não vai mais nem digitar o número do candidato, nem ver a sua foto. Vai digitar apenas o número do partido escolhido. E esquecer mais rápido quem elegeu.
Já a outra metade dos deputados e vereadores seria eleita pelo Voto Distrital, sistema em que a eleição é decidida em pequenos distritos, por poucos candidatos. Com isso, o eleitor iria conhecer e lembrar em quem votou e o político seria cobrado por uma população mais unida, mais coesa, mais próxima e, pretensamente, mais forte. A pressão seria maior. Ao mesmo tempo, o custo de campanha seria menor, pois a distância a ser atravessada diminuiria, e tanto maiorias quanto minorias seriam representadas no Congresso.
Temos que encontrar uma forma de discutir direito, e sem pressa, a reforma política. Democracia não é só “o desejo da maioria”. Na democracia o povo cobra seus representantes e os representantes conversam com o povo.
Precisamos saber as razões que levam o voto distrital a incomodar grande parte da elite política do país. Com a manipulação do discurso das ruas e a força do jogo político, o PMDB lidera a luta pelo “distritão”, mas sem buscar conexão com o povo. Acontece que só mudar não é suficiente, pois Tiririca estava errado: pior do que está dá pra ficar, sim.
21 de maio de 2015
Felipe Schulman
Só que o carro-chefe das mudanças é o “distritão”, projeto apoiado e articulado pelo vice-presidente Michel Temer (PMDB), que já passou pela Comissão de Reforma Política e deve seguir para votação na Câmara. Lastimavelmente, a população está completamente alheia ao debate.
Argumentam os ideários da reforma que essa pressa na tramitação teria o objetivo de responder com celeridade os pedidos de “mudança” das ruas. Trata-se interpretação equivocada e maldosa, além de contrária ao verdadeiro desejo das ruas.
Ao promover a votação a galope, o que os líderes da comissão conseguem, de fato, é isolar o povo, votando uma nova lei sem consulta ou discussão. Será que não enxergam que estão errados porque as ruas querem participação e mudança com representação?
Sem informação e discussão, o debate quase inexistente sobre a reforma política continua fraco. Como vai funcionar o distritão? Bem, o “distritão” é maestria política: o mais votado ganha. Uma proposta de simples entendimento e de fácil adesão.
A questão, porém, não é tão simples. A proposta favorece o lançamento de “candidatos celebridades”, como é definido o caso do Tiririca. Ou seja, o que se procura abolir com a reforma política, se tornaria ainda mais comum. Outras desvantagens: haveria muitos candidatos, o que manteria a escolha confusa, e muitos locais ficariam sem representantes. É preciso advertir ainda que o parlamentar e o povo poderiam continuar sem conexão. Além disso, o projeto tornaria as campanhas para os candidatos proporcionais (deputados federais e estaduais e vereadores) ainda mais caras!
Um contra-ataque de última hora ao “ distritão” do PMDB começou a se formar numa aliança entre o PT e o PSDB, em favor do Distrital Misto. Neste sistema, metade dos candidatos seriam eleitos por lista fechada (vontade do PT) e a outra metade pelo Distrital. Na lista fechada, o partido escolhe os candidatos e os coloca em ordem, numa lista. O eleitor vota apenas no partido, assim elege os mais votados na ordem decidida por cada partido. Em resumo: o eleitor não vai mais nem digitar o número do candidato, nem ver a sua foto. Vai digitar apenas o número do partido escolhido. E esquecer mais rápido quem elegeu.
Já a outra metade dos deputados e vereadores seria eleita pelo Voto Distrital, sistema em que a eleição é decidida em pequenos distritos, por poucos candidatos. Com isso, o eleitor iria conhecer e lembrar em quem votou e o político seria cobrado por uma população mais unida, mais coesa, mais próxima e, pretensamente, mais forte. A pressão seria maior. Ao mesmo tempo, o custo de campanha seria menor, pois a distância a ser atravessada diminuiria, e tanto maiorias quanto minorias seriam representadas no Congresso.
Temos que encontrar uma forma de discutir direito, e sem pressa, a reforma política. Democracia não é só “o desejo da maioria”. Na democracia o povo cobra seus representantes e os representantes conversam com o povo.
Precisamos saber as razões que levam o voto distrital a incomodar grande parte da elite política do país. Com a manipulação do discurso das ruas e a força do jogo político, o PMDB lidera a luta pelo “distritão”, mas sem buscar conexão com o povo. Acontece que só mudar não é suficiente, pois Tiririca estava errado: pior do que está dá pra ficar, sim.
21 de maio de 2015
Felipe Schulman
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