RIO DE JANEIRO - Um médico sai de casa para fazer exercícios. Como todos os dias, pega a bicicleta e pedala na lagoa Rodrigo de Freitas, um dos cartões-postais da zona sul do Rio. Por volta de 19h é abordado, esfaqueado e tem bicicleta, celular e carteira roubados. Socorrido por outro médico, morre no hospital.
Um pescador sai de casa para comprar pão para o filho de 4 anos. Um helicóptero da Polícia Civil dispara tiros durante operação de combate a máquinas de caça-níquel no morro do Dendê, que já foi um dos mais violentos da zona norte. O homem corre para se esconder dentro de uma casa, ao lado de garoto de 13 anos. Policial entra atirando. Morrem os dois baleados.
No passado, ligar a zona norte à zona sul simbolizava a esperança de aproximar a cidade partida. Hoje crimes absurdos unem as zonas da cidade em abraços inconsoláveis.
Os assassinatos desta semana são retratos banais de metrópoles desiguais. A cada dez minutos uma pessoa é vítima de homicídio no Brasil. Quem está empenhado em enfrentar esse massacre?
O Rio já viveu dias piores. A Secretaria de Segurança informa que em abril registrou o menor índice de homicídios para o mês desde 1991. Os roubos na rua caíram em relação ao mesmo período de 2014. Mas, seis anos e 38 Unidades de Polícia Pacificadoras depois, a sensação de que estava sendo construído caminho para redução consistente e perene da violência desvanece a cada dia.
O discurso oficial de que segurança pública não pode ser só polícia faz sentido. A conhecida carência de políticas sociais, que vai se agravar com a crise atual, tem parcela imensa de importância nesse quadro.
Segurança não é só polícia, mas é polícia também. A cúpula do governo do Rio parece inoperante e sem rumo. O problema da epidemia de violência é o contágio da indiferença e da inação. É preciso reagir.
21 de maio de 2015
Paula Cesarino Costa
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