O primeiro ministro da Grã-Bretanha, Winston Churchill, que enfrentou sozinho o nazismo de Hitler e o fascismo de Mussolini, de 39 a 41, e o presidente Franklin Roosevelt, que integrou os aliados a partir de dezembro de 41, quando o Japão bombardeou Pearl Harbour, são heróis e vultos eternos da história universal e, como tal, incorporados à história do Brasil e à memória da cidade do Rio de janeiro. O Brasil participou da guerra através da FAB e da Força Expedicionária Brasileira, a heróica FEB, nos campos da Itália, e cedendo aos Estados Unidos as Bases de Natal e Recife , estratégicas para a luta no Atlântico Norte.
Não desejo com isso diminuir a importância de Stalin, ditador da União Soviética, no desfecho da segunda guerra. Afinal, seu país foi alvo da maior invasão da história universal. Do total de 45 milhões de mortos em todo o conflito, 40% foram russos. A batalha decisiva de Stalingrado, durante quatro meses, foi travada de rua em rua, de porta em porta, de casa em casa, e os invasores terminaram derrotados. Mas daí a colocar-se uma placa com seu nome no lugar da Rua Santa Luzia vai um abismo.
O fato inesperado e inoportuno foi revelado pelo repórter Guilherme Ramalho, O Globo de sexta-feira, acentuando a perplexidade que causou. No centro do Rio, área conhecida como do Castelo, em lembrança ao Morro do mesmo nome demolido em 1921 pelo prefeito Carlos Sampaio e finalmente urbanizado na década de 40 pelo prefeito Henrique Dodsworth, governo Vargas.
Surgiram então naquela fase da ditadura varguista, as avenidas Winston Churchill e Franklin Roosevelt, em pleno decorrer da guerra, deixando clara aposição básica de Getúlio, já que rua alguma da cidade recebeu o nome nem de Hitler, nem de Mussolini. Essa predisposição política viria a se confirmar em agosto de 42 quando o Brasil declarou guerra à Alemanha de Hitler, à Itália de Mussolini, ao Japão de Hiroito e do almirante Tojo, que comandou o ataque aos EUA em 1941.
LEMBRANDO STÁLIN
O passado não pode sofrer mudanças, mas ele não é só a lembrança dos tempos de guerra. Refiro-me a Stálin. Depois de ocupar o poder absoluto na União Soviética, de 1924 a 1953, quando o ditador faleceu, o Partido Comunista Russo, após curtas sucessões no Kremlin, foi ocupado pelo primeiro-ministro Nikita Kruschev. Iniciou, a partir de 60, o que classificou de revisão na história e nos quadros humanos do comunismo. Stálin foi o primeiro a ser revisto. De herói da terrível batalha contra a Alemanha, passou primeiro a ser condenado por uma série de crimes praticados no país, e, em seguida, pelo culto da personalidade.
Estátuas, quadros, esculturas focalizando o ditador foram retirados e destruídos. Os chamados processos de Moscou, contendo acusações falsas de traição, através dos quais milhares foram condenados à morte, começaram a ser devassados. O assassinato de Leon Trotsky, um dissidente do stalinismo, foi mais uma revelação contra Josef Stalin. A cidade heróica que tinha o seu nome – vejam só – hoje é Sebastopol. Ora, se até os russos mudaram o nome da cidade-símbolo, como pensar em dar o nome de Stálin a uma rua do Rio?
A história não muda, mas sua análise sim. Se Stalin passou a ser lembrado como o segundo maior assassino do universo, que subjugou diversos países europeus na cortina de ferro que armou, como pode se tornar, hoje, o nome de uma rua do Rio? Além do mais, quem dá nome às ruas é o prefeito da cidade. Não um grupo isolado de pessoas, cujo pensamento parece anteceder à revisão de conceitos e fatos realizados por Kruschev.
18 de maio de 2015
Pedro do Coutto
Nenhum comentário:
Postar um comentário