Seja qual for o desfecho final do abalo criado pela ausência do ministro Joaquim Levy no anúncio oficial dos cortes fixados para o orçamento deste ano, o fato marcante foi o reflexo político da atitude em relação ao Palácio do Planalto cuja equipe principal viu-se surpreendida pelo vazio ocupado pelo titular do Planejamento, Nelson Barbosa. Digo desfecho final porque Natuza Nery, na Folha de São Paulo de domingo, assinalou que a substituição gerou o temor de que, insatisfeito, poderia deixar a Fazenda. De outro lado, no Globo, também domingo, Geralda Doca sustentou que Joaquim Levy estaria magoado pela realidade de o governo estar cedendo a pressão dos partidos da base aliada, incluindo setores do PT, contra o ajuste fiscal.
Mas na edição de segunda-feira, a manchete principal do Valor destacava que, apesar de julgar-se atingido em seu projeto, o chefe da equipe econômica permaneceria na Fazenda. Seria uma forma, ao mesmo tempo de acrescentar o posto a seu curriculum no universo financeiro, e também continuar a luta que empreendeu, mesmo sentindo-se derrotado no capítulo que passou. Entretanto, penso eu, o problema não é tão simples. Ao contrário, é bastante complexo.
AJUSTE RECESSIVO
Isso porque o projeto de conter gastos públicos, menos no que se refere aos juros pagos pela dívida interna, pode ser essencial, mas é recessivo. Aliás, este ponto foi muito bem focalizado por Flávio José Bortoloto e Wagner Pires, na Tribuna da Internet de segunda-feira, quando sustentaram que o panorama é sempre problemático e difícil, quando se depende de negociação com credores para obter investimentos externos. A política de Joaquim Levy está voltada para restringir o crédito interno e ampliar o campo para aplicações externas de capital. Daí porque os juros da Selic foram parar na escala de 13,35% ao ano, taxa real, portanto, de 5%, descontada a inflação de 8,2% nos 12 últimos meses. Estão entre os juros mais altos do mundo, garantidos inclusive pelo tesouro Nacional.
CAMINHOS DIVERSOS
Como se constata, a contradição entre o programa básico do governo e as modificações neles inseridas pelo diretor licenciado do Bradesco torna-se flagrante. O ponto comum, sem dúvida, deve ser a busca do desenvolvimento econômico e social. Porém por caminhos diversos. O antigo confronto entre o monetarismo e o estruturalismo. O primeiro coloca o saneamento da moeda como degrau primeiro e essencial. O segundo, ao contrário, parte da expansão dos salários para incentivar o mercado de consumo e, com isso, escapar do peso de um desemprego na mão de obra produtiva. São questões de tempo, vamos admitir.
Entretanto, o tempo é um desafio essencial. Sobretudo no momento em que declina a popularidade da presidente Dilma Rousseff. Basicamente, ela precisa de espaço. Joaquim Levy está reduzindo seu campo de atuação.
27 de maio de 2015
Pedro do Coutto
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