Com sua clepsidra político-ideológica
contando o tempo de duração de um governo sabujo.
Apoiado em seu ábaco fazendo o cálculo entre número
de manifestantes e nível de insatisfação popular.
No limiar da era lulo-petista todos os sonhos decantados pela utópica tomada do poder na sociedade brasileira, com a implantação de uma equação mais justa na distribuição de renda, alicerçadas na batuta forte da “ética na política”. No ápice do primeiro mandato, todos as esperanças foram embaladas para inclusão de um país miserável em crise econômica, com uma classe política – da elite branca e dependentista associada, que não tinha mais respaldo popular, e, de seus apoiadores históricos.
E assim, as vaias e manifestações contra a elite no poder, foram marcas históricas de um Partido – que mantinha a ética na condução de suas ações políticas, o Partido dos Trabalhadores. O tom do discurso era radical, pregava uma nova sociedade e um novo tempo, que nunca chegou. Daí, os conchavos com a elite, a conciliação de classes, marcas indeléveis do ciclo lulo-petista, se esgotaram na sucessão de escândalos de corrupção com resultados conjunturais pífios e transformações superficiais na “inclusão pelo consumo”. As ditas reformas estruturais de caráter social, foram solapados pelo continuísmo das políticas econômicas neoliberais implementadas pelo seu antecessor.
Em cada pronunciamento, em cada manifesto, a explicação que era retirada do “armário ideológico” do lulo-petismo para justificar uma acordo conciliado com a elite dirigente que financiou este projeto de poder, passava pela surrada marca da “herança maldita” de FHC. A culpa de toda a desgraça e impossibilidade de superação das velhas fórmulas e práticas era atribuída a “costela de adão” da Nova República.
No estágio da sucessão do Criador (Lula), esgotada todas as possibilidades das velhas lideranças, aprisionadas pelo escândalo do Mensalão, não restou outra alternativa para a equação política de continuidade, senão a velha e surrada indicação de um “poste”, que seria um marionete fácil de manipular no enredo da máquina reeleitoral, a primeira mulher assume a Presidência da República. Eis o legado do Criador, uma criatura (Dilma) que tinha as condições de fazer o controle burocrático da máquina estatal, enquanto o Criador e seus operadores mantinham o controle político e financeiro.
Nem sempre o ciclo político é sincrônico com o movimento econômico, a crise que fora escamoteada, chegou com força de um tsunami no último ano de governo do primeiro mandato de Dilma Rousseff. Portanto, era necessário uma forte dose de polarização e desconstrução dos opositores. Novamente, é sacado do “armário ideológico”, a ideia putrefata de uma onda conservadora, uma direita reorganizada, de alarmismos e profecias de golpismo que pretendiam retiram “o pão da mesa” dos miseráveis que encontraram o paraíso terreno sob o ciclo lulo-petista-dilmista.
Na recente onda de protestos, as Cassandras Alucinadas e Lamuriosas, não se cansam de fazer comparações esdruxulas e estapafúrdias, apresentando uma teoria conspiratória de pânico e instabilidade que culminaria com a tomada do poder pelos militares. A negação da crise econômica, tal como no escândalo do Petrolão, no ensaiado recurso de cegueira ideológica, colocando todos os partidos na vala comum da esbórnia política que tomou conta do atual governo, transformou o segundo mandato presidencial numa “velha e putrefata senhora”, prestes a frequentar o inferno político na opinião pública.
Nos protestos dominicais, nas vaias cotidianas com panelaços a cada pronunciamento, segundo o Evangelho do Lulo-Petismo (Seita da Verdade Absoluta), somente uma elite branca e aquinhoada está insatisfeita com a condução de um governo envelhecido em menos de noventa dias de nascimento. A negação da negação, com estabanado ataque aos manifestantes e suas bandeiras transformaram o Partido dos Trabalhadores em agremiação mumificada, suas lideranças acomodadas nos palacetes governamentais envelheceram e perderam todo o vigor para entender a dinâmica de um novo tempo, onde não terão capacidade de protagonizar as mudanças que outrora sonharam.
O ideal radicalizado da juventude do lulo-petismo, no período dilmista, se transformou na “velha senhora” que corrompeu, degenerou e enganou um nação por um longo período, sem norte e direção, na falta de recursos políticos, nada melhor que sacar de velhas cantilenas com apoio da escória da política nacional, desqualificando opositores e manifestantes.
Assim, na volta dos ponteiros de uma crise abissal conjugada – política e econômica, seria interessante que o Partido dos Trabalhadores saísse do “armário ideológico” para não ser empurrado para o abismo histórico.
21 de março de 2015
Eduardo Guerini
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