Uma torcedora do Grêmio teve a vida destruída por usar uma expressão pejorativa diante de um goleiro. Uma jovem quase sofreu o mesmo destino por dar uma opinião negativa sobre o estado do Maranhão (por sorte, era apenas um fake, o que significa que desta vez os monstros não tiveram o gostinho). Jair Bolsonaro quase teve seu mandato cassado por ter dito que Maria do Rosário “não merece ser estuprada”. Marco Feliciano está sendo processado por ter pedido para a polícia retirar duas lésbicas que se beijavam em seu culto. Uma sala de aula foi invadida por membros do movimento negro, que mandou todos se calarem, e até pudemos ouvir a pérola que desonrou toda uma sala: “O opressor se cala e o oprimido fala” (ora, se um é obrigado a se calar ele é o verdadeiro oprimido, mas histéricos não possuem mais julgamentos confiáveis). Nesta semana, Levy Fidelix foi condenado (em primeira instância) a pagar 1 milhão de reais por ter dito que “aparelho excretor não reproduz”.
Uma salva de palmas para a maioria de nós, que validaram tudo isso. Os méritos dessa patocracia não podem ir apenas para a extrema esquerda. Devem ser compartilhados com toda uma legião de validadores da direita.
Em dinâmica social, o que validação significa? É todo ato ou comportamento que demonstra ou ao menos insinua como válido qualquer evento do mundo que tenha passado por nossos olhos. E as vezes nem mesmo tenha passado. Neste caso, temos a validação por inação e/ou ignorância em relação ao evento.
Uma vez que uma equipe de testes de software não tenha reportado bugs em uma aplicação, ela é considerada “validada”. Se o sistema de detecção de intrusos não reporta nenhum comportamento anormal, os acessos que tenham corrido na noite anterior são considerados “válidos”. Se você envia uma ata para todos os participantes de uma reunião e dá 24 horas para alguém se manifestar a respeito de ajustes, e não há manifestação, a ata é considerada “validada”. Assim como funciona nas organizações, de TI ou não, o mesmo acontece para todas as questões públicas.
Dentre as formas de validação, a mais explícita é a menção positiva. Basicamente, é dito que não há nada de errado com o evento sob análise. Mas a ausência de expressão de qualquer aspecto negativo é uma validação da mesma forma. Ou seja, se você não falou nada então significa que “está tudo ok”. Mas a coisa não pára por aí: muitas vezes uma menção negativa, feita de forma desleixada ou conformista, também significa validação.
Diante das aberrações contra a liberdade de expressão, como vimos no início deste texto, geralmente vejo pessoas dizendo “pois é, mais uma vez a esquerda silencia a oposição” ou “é assim mesmo e não muda: eles continuam silenciando a divergência”. Goste você ou não, isso significa validação. Se você duvida, imagine que, ao receber uma ata, dê esta resposta: “há inconsistências (x) e (y), mas tudo conforme já esperamos”. Isso significa que a questão não é importante, e que, portanto, você provavelmente não tem de fato nada a falar sobre a ata. Ela é validada e suas opiniões nem merecerão ser ouvidas.
E o que seria fugir da “validação”? Ser assertivo, demonstrar senso de urgência e, principalmente, indignação. Agora imaginemos seu relatório de bugs dizendo o seguinte: “Há (x) bugs críticos, e o software não deve ser liberado para produção com estes bugs, caso contrário exigimos um termo de responsabilidade, pois é inaceitável a quantidade de erros”. Isto com certeza não é uma validação. Ou então: “A ata não pode ser enviada desta forma, de jeito algum, pois há elementos inconsistentes com as entregas feitas. Não poderei assinar essa ata. O problema será escalado para a gestão”. Isto com certeza também não é uma validação.
Qual seria, então, o poder da validação? Se dizemos que um determinado comportamento/evento “está ok”, ou nos omitimos, ou então reclamamos com conformação, desleixo ou atribuição de pouca importância, então colaboramos para que os outros percebam que “está tudo certo” e “é assim que as coisas devem ser”.
É claro que não validamos apenas as violações à liberdade de expressão praticadas pela extrema esquerda. Validamos também toda vez que eles nos acusam de “golpistas”. Validamos quase sempre que eles falam que “financiamento privado deve acabar”. Creio que com exceção das questões relacionadas à corrupção, nós os validamos em quase todos os outros aspectos.
Este é o ponto de atenção e mudança comportamental urgente: é preciso interromper urgentemente essa mania da direita validar a extrema esquerda.
21 de março de 2015
Luciano Henrique, in Ceticismo Político
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