ARTIGOS - MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO
Se houvesse uma horizontalidade verdadeira, isso já deveria ter se manifestado na própria representatividade da TMI no Brasil. Na verdade, o que vemos são os mesmos nomes, os mesmos expoentes que estão à frente de todos os trabalhos.
Muitas pessoas me pedem para escrever sobre a Teologia da Missão Integral, desejosas que estão de entender melhor o que é esse movimento dentro das igrejas evangélicas. Confesso que este não está entre meus assuntos favoritos, e se comento sobre ele é apenas por uma questão de responsabilidade e necessidade. Isso porque considero a TMI como o maior perigo à igreja brasileira da atualidade, por trazer para dentro do ambiente eclesiástico uma visão contaminada de marxismo, esquerdismo e toda sua retórica materialista.
No entanto, neste artigo, especificamente, vou apenas tecer alguns comentários sobre um vídeo, com um pequeno trecho de uma conversa, em forma de palestra, entre o pastor Ed René Kivitz, meu conterrâneo da cidade de Santos, com quem até já almocei uma vez, quando ainda eu era bem jovem e que agora parece estar bem engajado na divulgação da Teologia da Missão Integral, o pastor Ariovaldo Ramos, talvez o maior expoente do movimento no Brasil e o pastor Valdir Steuernagel, a quem conheci apenas aqui.
O pastor Kivitz, bem no início do vídeo, afirma que a Missão Integral assusta as igrejas evangélicas brasileiras porque “o evangelho assusta”. E aqui nós já encontramos a pretensão de ver a TMI como o reflexo do próprio evangelho, como se os princípios levantados pelo movimento fossem simplesmente a interpretação exata das palavras e exemplos de Cristo. Assim, não há dúvida que, para os integrantes da TMI, evangelho e Teologia da Missão Integral são a mesma coisa, tratam do mesma tema, possuem as mesma preocupações.
Mas o pastor segue afirmando que quando falam em igreja evangélica, não necessariamente estão falando “do povo convertido”, mas de “auditórios religiosos superlotados de pessoas que ouviram uma mensagem de que Deus existe para resolver os seus problemas, o que é absolutamente distinto do que é a convocação do evangelho de Jesus”.
Até aqui, as palavras de Kivitz não são tão problemáticas, ainda mais quando já conhecemos o que pensa o pessoal da TMI em relação às grandes igrejas neopentecostais. No entanto, a sequência do que diz contém algo bem mais sério e que se apresenta quase como calúnia contra a maioria evangélica brasileira. O pastor, simplesmente, afirma que “O evangelho de Jesus assusta [pois] você tem que negar a si mesmo, viver para o próximo, incluir o outro na sua agenda, repartir o que você tem, devolver o dinheiro injusto que você acumulou, você tem que restituir quem você roubou…” e por isso ele assusta a igreja evangélica.
Ora, é muito interessante a forma como esses representantes da TMI enxergam a população evangélica. Veja que o pastor afirma que as pessoas que frequentam esses auditórios lotados, dessas igrejas que vivem pregando as promessas divinas, não aceitam a proposta da TMI por ser ela verdadeira. E o que representa essa proposta é, entre outras coisas, não cometer crimes. Portanto, pode-se concluir que, segundo a cabeça do pastor Kivitz, as pessoas das igrejas evangélicas não aceitam a TMI porque pretendem continuar roubando, fraudando, enganando os outros. Ao dizer que os evangélicos se assustam por causa da proposta do evangelho, está acusando-os de serem egoístas, interesseiros e até criminosos.
Isso é de uma arrogância impressionante, mas não é tão surpreendente quando conhecemos as origens intelectuais e ideológicas da Teologia da Missão Integral. Como bons esquerdistas, eles se enxergam como os paladinos da justiça, santos imaculados que só fazem bem à sociedade, enquanto acusam aqueles que não abraçam sua causa de serem criminosos. Isso está no DNA da esquerda e parece que foi bem assimilado pelos representantes da TMI.
Além disso, a hipocrisia também é parte inerente ao discurso dessa turma. Tanto que o pastor fala em “repartir o que você tem”, quando, é bem sabido, que todos os líderes da Missão Integral são bons burgueses, pessoas da classe média, com uma vida bem confortável e, até onde se sabe, não repartiram seus apartamentos, carros, salários e outras benesses com os pobres. Isso apenas significa que a hipocrisia esquerdista também foi absorvida e está bem forte em seus discursos.
Antes de seguir na análise do vídeo, deixe-me fazer uma observação: para entender a linguagem dos representantes da TMI, é necessário alguma experiência com a linguagem das esquerdas, a fim de captar a sutileza do que dizem e entender onde realmente eles estão querendo chegar.
Por exemplo, para compreender o que diz o pastor Valdir Steuernagel, que falou logo em seguida, é preciso saber como os movimentos socialistas assumiram o poder em todos os lugares que lograram êxito na assunção ao poder. Ele diz que a TMI assusta as igrejas evangélicas porque elas não estão acostumadas com o sistema de “horizontalidade”, que significaria, nada menos, que a abolição do sistema hierárquico da igreja ou, como ele mesmo diz, o “sistema clerical”.
Quem estudou um pouquinho de história sabe que essa sempre foi a retórica dos marxistas. Da promessa da ditadura do proletariado, passando pelo governo dos sovietes, sempre lutaram pelo poder prometendo acabar com a força das autoridades e da hierarquia, distribuindo esse mesmo poder entre o povo. O problema é que o resultado, invariavelmente, foi apenas a substituição de uma elite por outra, sendo esta ainda mais centralizadora e poderosa.
Na Missão Integral não ocorre algo muito diferente. Apesar da linguagem bonita, conclamando à horizontalidade da gestão, o que vemos são os poucos e mesmos líderes a frente de todos os trabalhos. Ariovaldo Ramos (participante dessa conversa), o próprio Ed René Kivitz, Ricardo Gondim e mais uns dez fazem parte dessa liderança. Se houvesse uma horizontalidade verdadeira, isso já deveria ter se manifestado na própria representatividade da TMI no Brasil. Na verdade, o que vemos são os mesmos nomes, os mesmos expoentes que estão a frente de todos os trabalhos. Portanto, a tal horizontalidade é apenas retórica, uma propaganda que não tem nada a ver com a realidade. Mas isso já é uma prática bem conhecida dos esquerdistas. E o pastor Steuernagel ainda afirma que a Missão Integral “é um convite para baixo e não para cima, para a periferia e não para o shopping center”. Para quem não entendeu, ele quer dizer que a TMI trabalha com os pobres, não com a classe média e os ricos da sociedade, que ela está inserida dentro da população mais carente.
Só que aqui a realidade desmente fragorosamente o discurso. Na verdade, são as igrejas neopentecostais que se espalharam entre a população carente e têm contribuído para tirar muita gente das drogas, do tráfico e do crime. São essas igrejas pequenas e loucas que ajudam mulheres que apanham dos maridos, tirando estes do bar, trazendo-os para dentro do culto. Enquanto isso, as igrejas dos representantes da TMI são formadas, maciçamente, de pessoas com poder aquisitivo muito maior do que a média da população brasileira.
É muito fácil falar que preferem os pobres, difícil é viver entre eles!
O mesmo pastor ainda critica os modelos religiosos “que trabalham com o pressuposto que todos temos que chegar ao shopping center. E a Missão Integral é um convite (…) para a periferia“. Aqui, claramente, aparece o ranço anticapitalista que está no âmago do discurso da Missão Integral. Como se o evangelho fosse um chamado à pobreza, simplesmente. O problema, é que a vida de seus próprios líderes não reflete nada disso, pois todos vivem de forma bastante confortável. Inclusive, os seminários e palestras da TMI são todos feitos em auditórios luxuosos, como esse do vídeo, com uma plateia composta de pessoas da classe média, com ar condicionado, cadeira almofadadas e todo o conforto que todo bom burguês merece. Claro que há trabalhos desses grupos com gente da periferia, mas nada que um bom banho e a limpeza das mão com álcool gel não resolva. Viver entre os pobres, dividir o que têm, nenhum deles quer.
E apesar da crítica constante que esses líderes fazem do culto à personalidade e da hierarquia tão presentes nas grandes igrejas evangélicas, basta observar como o pastor Kivitz se refere ao líder maior da TMI, na América Latina, René Padilla, para perceber o grau de reverência, culto e quase idolatria como ele enxerga seu guru. Não adianta, quanto mais ouvirmos os representantes da Missão Integral mais perceberemos a oposição constante entre a fala e a vivência. Isso acontece porque, como todo pensamento de esquerda, a TMI é uma artificialidade, uma negação da experiência e sempre acaba em contradição.
Há diversos pontos que podem, teoricamente, ser levantados contra a Teologia da Missão Integral. No entanto, por ora, basta ver esse pequeno trecho disponível em vídeo para perceber a arrogância e a hipocrisia que permeiam esse movimento.
21 de março de 2015
Fábio Blanco
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