"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 21 de março de 2015

ÓDIO NAS MANIFESTAÇÕES NÃO É TANTO AO PT, MAS À INCLUSÃO SOCIAL




Já dissemos neste espaço e o repetimos: o ódio disseminado na sociedade e nas mídias sociais não é tanto ao PT, mas àquilo que o PT propiciou para as grandes maiorias marginalizadas e empobrecidas de nosso país: sua inclusão social e a recuperação de sua dignidade. Esse é o mais alto valor político e moral que um governo pode apresentar: não apenas garantir a vida do povo, mas fazê-lo sentir-se digno, alguém participante da sociedade.

Nenhum governo antes em nossa história conseguiu essa façanha memorável. Nem havia condições para realizá-la, porque nunca houve interesse em fazer das massas exploradas um povo consciente e atuante na construção de um projeto Brasil. Importante era manter a massa como massa, pois assim não poderia ameaçar o poder das classes dominantes.

As minorias ricas e dominantes elaboraram uma estratégia de conciliação entre si, por cima da cabeça do povo e contra o povo, para manter a dominação. O estratagema sempre foi o mesmo. Foi a partir da política colonial – continuada até recentemente – que se lançaram as bases estruturais da exclusão no Brasil, como foi mostrado por grandes historiadores, especialmente por Simon Schwartzman, com o seu “Bases do Autoritarismo Brasileiro” (1982), e Darcy Ribeiro, com seu grandioso “O Povo Brasileiro” (1995).

DESPREZO PELO POVO

Existe, pois, e tem raízes profundas, um desprezo pelo povo, gostemos ou não. Esse desprezo atinge o nordestino, os afrodescendentes, os povos indígenas, os pobres em geral, os moradores de favelas e aqueles que têm outra orientação sexual.

Ocorre que irrompeu uma mudança profunda graças às políticas sociais do PT: os que não eram, começaram a ser. Puderam comprar suas casas, seu carro, entraram nos shoppings, viajaram de avião, tiveram acesso a bens antes exclusivos das elites econômicas.

Segundo o pesquisador Márcio Pochmann, em seu “Atlas da Desigualdade Social no Brasil”, 45% de toda a renda e a riqueza nacionais é apropriada por apenas 5.000 famílias. Essas são nossas elites. Vivem de rendas e da especulação financeira, portanto ganham dinheiro sem trabalho. Pouco ou nada investem na produção para alavancar um desenvolvimento necessário e sustentável.

CLASSES POPULARES

Veem, temerosas, a ascensão das classes populares. Essas invadem seus lugares exclusivos. No fundo, começa a haver uma pequena democratização dos espaços. Essas elites formaram, atualmente, um bloco histórico cuja base é constituída pela grande mídia empresarial, jornais e canais de televisão, altamente censuradoras do povo, pois lhe ocultam fatos importantes; banqueiros; empresários centrados nos lucros; e ideólogos (não são intelectuais) que se especializaram em criticar tudo o que vem do governo do PT e fornecem superficialidades intelectuais em defesa do status quo.
Essa constelação antipopular e até antiBrasil suscita, nutre e difunde ódio ao PT como expressão do ódio contra aqueles que Jesus chamou de “meus irmãos e irmãs menores”.

Como teólogo, me pergunto, angustiado: em sua grande maioria, essas elites são de cristãos e de católicos; como combinam essa prática perversa com a mensagem de Jesus? O que ensinaram as muitas universidades católicas e as centenas de escolas cristãs para permitirem surgir esse movimento blasfemo, pois atinge o próprio Deus, que é amor e compaixão e tomou partido pelos que gritam por vida e por justiça?
Mas entendo, pois para elas vale o dito espanhol: entre Deus e o dinheiro, o segundo é primeiro. Infelizmente.

21 de março de 2015
Leonardo Boff
O Tempo

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