A equação continua inconclusa, mesmo com a demissão de Cid Gomes do ministério da Educação. Ou por conta dela? Porque quando num encontro privado, mas sendo ministro, ele agrediu o Congresso, admitia-se que a presidente Dilma fosse demiti-lo. Não o fez. Pelo contrário, nos corredores do palácio do Planalto ouvia-se estar a chefe do Executivo feliz e satisfeita, porque um de seus auxiliares havia saído em sua defesa, no confronto com o Congresso.
Convocado pela Câmara, e depois da mal explicada bronquite que o prendeu a um hospital paulista, Cid Gomes compareceu na quarta-feira ao plenário. Nenhuma instrução recebeu de Dilma e manteve seus mal-educados conceitos. Até ofendeu pessoalmente o presidente Eduardo Cunha. Em seguida reagiu diante das palavras virulentas de alguns deputados, mesmo alertado para a impossibilidade de interromper os oradores. Emocionado, tomou o rumo do gabinete de Dilma, imagina-se que já disposto a demitir-se.
O resto são dúvidas, ou seja: a presidente o recebeu? Dialogou com ele? Elogiou sua performance ou admoestou-o? Foi delicada ou grosseira, se é que conversaram?
Mas tem mais: tratou-se todo o grotesco episódio de uma operação milimetricamente engendrada ou desenvolveu-se emocionalmente? O que levou o chefe da Casa Civil, Aloízio Mercadante, a telefonar para o deputado Eduardo Cunha, informando-o da demissão? Deitar água na fervura ou acirrar ainda mais os ânimos?
A AMEAÇA DO PMDB
A maior questão, porém, exprime-se pela evidência dos fatos: em meio à ebulição, o líder do PMDB declarou que seu partido abandonaria a base parlamentar do governo se o ministro não fosse imediatamente demitido. Falava por ele ou por Eduardo Cunha?
Sua ameaça chegou à mesa de Dilma na mesma hora, levando-a a ceder à chantagem e decidir pela demissão do ex-governador do Ceará? Seria do temperamento da presidente curvar-se a uma hipótese inviável, já que o partido teria que ser consultado, quando mil outros fatores servem para formar bases de apoio parlamentar?
Vale repetir, de tudo, a evidência de uma equação ainda inconclusa. Daqui por diante, pressões do PMDB e de seu líder inconteste, Eduardo Cunha, derrubarão mais ministros? Estará o governo presidencialista refém de um Legislativo parlamentarista? Cid Gomes teria passado por momentos de desequilíbrio?
GOVERNO EM FRANGALHOS
Junto com as investigações da Operação Lavajato, que a cada dia revelam mais sujeira, em meio ao estranho episódio da queda do ministro da Educação, levanta-se outra tempestade. No caso, o relatório do ministro da Comunicação Social, Thomas Traumman, um verdadeiro libelo sobre a incompetência do governo, a começar pela dele própria. E com a peculiaridade de o personagem haver feito vazar o documento e viajado horas depois para os Estados Unidos, de férias. Continua ministro? Deixou carta de demissão? Esteve com a presidente Dilma, que há pouco o afastara de seu convívio? A conclusão é de estar o governo em frangalhos.
20 de março de 2015
Carlos Chagas
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