A pesquisa do Datafolha apontando uma rejeição nominal de 62% à presidente Dilma Rousseff, traduzida pela reportagem de Ricardo Mendonça, Folha de São Paulo de quarta-feira 18, apresenta aspectos ainda mais críticos em relação ao desempenho do governo. Mais críticos porque o levantamento comprova que a impopularidade do Executivo parte de forma quase igual em todas as classes sociais. Assim, acentua-se que as ruas e praças de domingo não foram só uma manifestação das classes médias.
Pelo contrário. Os números destacam que a rejeição dos grupos cujos salários oscilam de 1 a 2 mínimos está na escala de 60%. Entre os que ganham de 2 a 5 vai a 66 pontos. Para a faixa de 5 a 10 salários atinge 65%. O mesmo índice (65) refere-se àqueles cujos vencimentos mensais passam de 10 pisos.
Desfeita então a versão defendida pelo ministro Miguel Rossetto, e os números do Datafolha, analisados concretamente, tornam-se ainda mais graves para a administr4ação federal. Porque isso?
Porque 24%, considerando o governo regular, na realidade se abstiveram. os que restam na faixa de 1% não souberam ou não quiseram responder.
Dessa forma, estatisticamente, 75% passam a ser iguais a 100. De fato, então, no final da ópera, os contrários ao governo não são apenas 62% e sim pode-se dizer que a parcela abrange 87%. O isolamento que está gelificando a atuação do poder Executivo encontra sua fonte maior nessa síntese. Síntese que iguala, na mesma escala, eleitores e eleitoras.
CONTRADIÇÕES
A presidente Dilma Rousseff deve, isso sim, aproveitar mais este momento para rever a sua própria atuação e as contradições que marcam iniciativas que assinou, como a medida provisória que corta em 50% as pensões por morte, certamente inspirada e mesmo redigida pelo ministro Joaquim Levy, chefe da equipe econômica, colocando em xeque a posição da candidata à reeleição Dilma Rousseff com a presidente Dilma Rousseff. O espelho não reflete a mesma imagem.
Antes das urnas, Dilma apresentava um outro discurso, bem contrário a suas ações presidenciais. Este cotejo explica claramente os números do Datafolha. Os assaltos à Petrobrás também influíram pesadamente.
E O CID GOMES?
Mas, além desses fatos, surge de repente mais um complicador: a presença do ministro Cid Gomes na Câmara Federal, convocado que foi para confirmar ou não as acusações que fez recentemente, em Belém do Pará, de que a Casa possuía entre 300 a 400 achacadores. Ouvido pelo plenário, agravou ainda mais o problema ao dizer que os achacadores não estavam na oposição. Assim endereçou a acusação à bancada do governo, abalando o relacionamento por si já frágil entre o Planalto e a planície parlamentar.
Alargou, portanto, o distanciamento o governo e sua própria base no Congresso, que aliás se apresenta dividida na votação das matérias que reduzem direitos sociais em busca de recursos para, segundo os tecnocratas, equilibrar as contas públicas.
Mas em matéria de resultados entre receita e despesa, devemos sempre lembrar que a maior fonte dos desembolsos está nos juros de 12,75% ao ano, que atingem em torno de 250 bilhões de reais a cada doze meses. O ministro Joaquim Levy surpreende por não se referir a esse encargo, o mais pesado de todos.
E Cid Gomes? Como ficará sua posição? Será nomeado para algum outro cargo?
20 de março de 2015
Pedro do Coutto
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