"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 16 de março de 2015

MATURIDADE?!



A propósito de um texto do ministro Ayres de brito, sobre a demonstração de "maturidade" que alcançou o Brasil, ao ocupar as principais Capitais do país, na mais ordeira e democrática manifestação, e que foi tão temida e assombrada por confrontos diante das ameaças do ex-presidente Lula e seu "exercito do MST", fiquei matutando sobre a tal "maturidade" a que se referia Sua Excelência.


Achei interessante  algumas frases, dentre elas, que a manifestação era sinal de que “todo povo que amadureceu” passa por essa turbulência, mas que "no fim tudo fica plano e transparente". E “No fim, vai dar tudo certo”.


E como diz aquela anedota proverbial da Lei de Murphy "SE AINDA NÃO DEU CERTO, É PORQUE AINDA NÃO CHEGOU AO FIM".
Será que podemos acreditar que a fantástica manifestação que explodiu no Brasil é um sintoma de amadurecimento do povo?
Pensando friamente, custa-me admitir que seja um sinal de 'maturidade do povo brasileiro', muito embora o que percebo é a presença marcante de pessoas melhor informadas sobre a situação a que chegou o Brasil. Notadamente tais pessoas, reunidas por chamadas da rede social, habitantes das principais cidades do país, convivendo fartamente com mídias de todos os quilates, são sim, representantes de segmentos que indicam a maturidade alcançada política e socialmente. 
Quando se estima, no entanto, a população brasileira em 200 ou 220 milhões, isto me dá um ponto de reflexão sobre o número de manifestantes que desfilou sua discórdia e descontentamento pelas ruas, estimado em digamos dois milhões, o que deixa um percentual aproximado de 0.9%... E o que esse ponto  de reflexão me indica, não passa perto de qualquer sinal de maturidade.
Daí acreditar que o otimismo do Ministro Ayres de Britto não corresponda a realidade de um país que em sua maioria - apesar de todo o charme que encanta as estatísticas sobre educação - soma um percentual de analfabetos, semianalfabetos  e analfabetos funcionais perto de 40%.
E como crer que tais segmentos que as estatísticas oficiais procuram ocultar alcancem maturidade política?
O espetáculo democrático que multidões nas principais capitais do país e suas maiores cidades proporcionou nos enche de alegria e esperança, porém dimensionar tal espetáculo a nivel de Brasil, já fica mais difícil. 
Como terão ocorrido as manifestações  em cidades de menor porte, afastadas dos centros políticos das capitais, onde as informações circulam rápidas e ferinas? 
Cidades do interior nordestino, por exemplo, cidades interioranas e periféricas do Norte ou Centro-Oeste, e até mesmo do Sul e Sudeste... Cidades onde o bolsa-família é a única fonte de renda... Cidades ou vilas, mas que compõem a estatística demográfica do país. Ceará, Maranhão, Piauí, Amazonas, Acre, Tocantins, Pará etc, com seus municípios distantes e apartados dos mínimos e básicos princípios de conforto e civilização (jornais, televisão, internet, celulares, revistas...), até porque a renda per capta desses lugares não permitiria tais "luxos"...
A precariedade no fornecimento de energia, para não falar nos pequenos municípios onde não há sequer luz elétrica; água potável, esgotos, postos de saúde, segurança, onde não há jornais e se houvesse serviria para outros fins; onde a internet é inexistente, ou se existe, é precária, desesperadoramente lenta, com quedas sucessivas; educação, um artigo tão raro e tão débil, tão incerto e tão escasso, que olhando nas fotografias que denunciam o estado lamentável  das "edificações" onde ela ocorre, fica difícil acreditar que a "educação" possa existir realmente...
E assim, fico dando tratos à bola, ao distanciar-me do habitat urbano da Capital, pulando a cerca da 'abundância' que as grandes cidades oferecem, contaminando seus habitantes com culturas internacionais e mil trecos dos últimos artefatos tecnológicos que se derramam sobre nossas cabeças, fico interrogando os meus botões: a que maturidade se refere sua excelência, quando fala de povo, essa entidade abstrata sempre pronta a segmentar e excluir a totalidade?
E´apenas um ponto de inflexão que pode incomodar por desconfortável, pensar que a nossa civilização, a civilização brasileira, capenga num ponto tão essencial como  a educação, o que termina construindo uma das piores distribuição de renda do mundo, para não abordar a reeleição do PT após tantos desastres...
Desculpem-me pelo balde de água fria...

16 de março de 2015
m.americo

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