Palácio das Laranjeiras, Rio, meia-noite de 31 de março de 1964. De Minas continuavam chegando as notícias das tropas do general Mourão Filho para derrubar o presidente João Goulart. Cercado de ministros e amigos, Jango dava telefonemas, conferenciava com militares e civis. E o nervosismo, de minuto a minuto, ia tomando conta do palácio.
De repente, o indefectível general Assis Brasil, chefe da Casa Militar, que até há pouco dizia ser invencível o esquema militar do governo, aconselhou o Presidente a abandonar o palácio, por não oferecer segurança. A resistência devia ser dirigida de um local mais garantido.
TENÓRIO
Tenório Cavalcanti, que estava lá em solidariedade a Jango, soube do conselho de Assis Brasil, correu a seu gabinete:
– General, o senhor não disse há pouco ao senador Barros de Carvalho que o esquema militar do governo está tinindo?
– Disse, sim, deputado. E está.
– Por que então o senhor sugeriu que o Presidente saia daqui do Laranjeiras?
– Porque aqui ele não terá muita segurança.
– Nada disso, general, o que o senhor está dizendo é uma loucura. Não há lugar mais seguro do que este. O palácio é uma verdadeira fortaleza, dominando a colina, acessível apenas por um dos flancos, através de uma estreita garganta inexpugnável. O Presidente não deve sair daqui.
Parecia que o general era Tenório, que logo passou a dar ordens, aos gritos, como se estivesse em sua fortaleza de Caxias:
– Sargento, coloque um grupo ali. Capitão, instale um ninho de metralhadoras ali embaixo. E os fuzis, onde estão os fuzis? Tragam fuzis!
Ao meio-dia do dia seguinte, Jango abandonou o palácio. Não acreditava nem nas teorias de Assis Brasil nem na prática de Tenório.
DILMA
História puxa história. Em 1974, o escândalo Watergate (escuta ilegal na sede do oposicionista Partido Democrata, em Washington) levou o presidente dos EUA, Richard Nixon, a renunciar. O seu vice, Spiro Agnew, já havia sido afastado por envolvimento com a corrupção. Constitucionalmente coube ao deputado Gerald Ford, presidente da Câmara, assumir a Casa Branca, no pleno exercício do poder.
Sua administração de dois anos foi marcada por incompetência e tempos tempestuosos. Foi quando o jornal “New York Times” reabilitou expressão popular em desuso há muitos anos, na realidade política e administrativa dos norte-americanos: “lame duck”. O presidente Ford seria um “pato manco”, à frente de um governo impotente e ineficaz.
Na manhã deste domingo, no palácio da Alvorada, a presidente Dilma começou zombando das manifestações. Pensou que iriam ficar restritas à matinal e domingueira praia de Copacabana:
– Não há foco. Falta foco.
Daí a pouco, a arrogante e desastrada Presidente percebeu que havia foco, sim. E no pais inteiro. Milhões nas ruas, de Manaus a Porto Alegre. O foco era ela, o foco dela, o governo dela, o PT dela, o Lula dela, o desastre.
Só em São Paulo muito mais de um milhão. O povo já fez o impeachment dela. Com que cara a pata manca vai aparecer para governar?
MARTA
O lúcido professor Milton Lahuerta, coordenador do Laboratório de Política e Governo da Universidade Estadual Paulista, adverte :
– “Em grande parte isso se deve ao ex-presidente Lula, que incentivou essa polarização do se apresentar como aquele que estava inaugurando uma nova era, uma transformação social que, em quatro séculos não havia ocorrido. Como se fosse possível traduzir toda a luta pela democracia no País a um personagem e a um partido político. Agora estamos vivendo algo muito grave”.
Outra voz sabia é a da brilhante e brava ex-ministra Marta Suplicy:
– “O que está em jogo é a governabilidade, a sobrevivência do país. Não há como continuar com uma equipe de governo que se distanciou, quase rompeu com o Congresso e que, por seus vícios sectários e métodos excludentes, estabeleceu verdadeira ruptura com a vida nacional. Se não podemos trocar de comandante em pleno voo de turbulências, o mínimo que podemos exigir é a troca imediata da equipe de comando. A começar pelo copiloto, responsável maior pela desastrada rota de voo”.
17 de março de 2015
Sebastião Nery
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