Ganhando ou não, o partido terá de repensar propostas, para escapar da imagem da legenda apenas dos pobres, mal instruídos e moradores de cidades pequenas
O cenário trazido pela última pesquisa do Datafolha não é, na essência, grande novidade. A candidata à reeleição, Dilma Rousseff, é forte no Norte e Nordeste, enquanto a oposição domina grandes espaços no Sudeste e Sul, onde se encontram os estados mais ricos. Mesmo que o fator Marina tenha surgido como raio em céu azul, a preferência do eleitorado segue esta tendência, que se firma em relação ao PT desde que o partido, por meio de Lula, chegou ao Planalto pela primeira vez, em 2003.
Mesmo que Marina Silva tenha herdado a legenda do PSB de Eduardo Campos e, instantaneamente, tornado sua chapa muito competitiva na corrida presidencial, Dilma se mantém, até agora, imbatível no Nordeste (48% dos eleitores contra 31% de Marina) e Norte (48% a 32%). O quadro é outro no Sudeste, onde está a maioria do eleitorado, e em que há um empate em 36%.
Pernambuco é emblemático do espaço petista no Nordeste. Terra de Eduardo Campos, governador bem avaliado pela população, o estado acolheu sem dificuldades Marina, e a ela 45% dão seu voto. Mas Dilma, ainda assim, recebe 38% da preferência do eleitorado pernambucano.
A perda de espaço do PT no Sudeste tem como símbolo a dificuldade da legenda no estado mais rico da federação. O candidato ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha, um dos “postes” de Lula, está com 8%, e o tucano Geraldo Alckmin continua a se reeleger no primeiro turno. Dilma ficou em 26% e Marina, 40%. O partido enfrenta dificuldades históricas na região em que foi fundado.
Esta última pesquisa, analisada por meio dos aspectos da escolaridade, renda e local de moradia dos eleitores, segundo o porte de suas cidades, revela que o PT se sustenta em pessoas de baixa formação escolar, residentes no interior, em cidades de até 50 mil habitantes. Não por acaso, o estado de São Paulo foge deste perfil: tem população escolarizada, renda média alta e congrega cidades maiores.
O PT, portanto, reproduz a trajetória de partidos que também ficaram longo período no poder. Incluindo Arena e, depois, PDS, legendas de sustentação dos generais. Quando começaram a voltar as eleições diretas, os partidos da ditadura só ganhavam no Nordeste, no Norte, nos grotões. Daí o Pacote de Abril, baixado por Ernesto Geisel em 1977, ter criado os “senadores biônicos" e inflado o número de representantes dos estados menos populosos. Onde o regime vencia.
O mesmo fenômeno ocorreu com o PSDB, nos tempos de Planalto. O poder do Executivo federal é tamanho na distribuição de recursos para estados e municípios, e no assistencialismo, que a população dessas regiões, dependente de bolsas, é sempre governista. Por isso são petistas.
Disso tudo resta um dever de casa para o PT: ganhando ou não, o partido terá de repensar propostas, para escapar da imagem da legenda apenas dos pobres, mal instruídos, dos grotões do país. Ou ficará irrelevante à medida que o país se desenvolver.
16 de setembro de 2014
Editorial O Globo
O cenário trazido pela última pesquisa do Datafolha não é, na essência, grande novidade. A candidata à reeleição, Dilma Rousseff, é forte no Norte e Nordeste, enquanto a oposição domina grandes espaços no Sudeste e Sul, onde se encontram os estados mais ricos. Mesmo que o fator Marina tenha surgido como raio em céu azul, a preferência do eleitorado segue esta tendência, que se firma em relação ao PT desde que o partido, por meio de Lula, chegou ao Planalto pela primeira vez, em 2003.
Mesmo que Marina Silva tenha herdado a legenda do PSB de Eduardo Campos e, instantaneamente, tornado sua chapa muito competitiva na corrida presidencial, Dilma se mantém, até agora, imbatível no Nordeste (48% dos eleitores contra 31% de Marina) e Norte (48% a 32%). O quadro é outro no Sudeste, onde está a maioria do eleitorado, e em que há um empate em 36%.
Pernambuco é emblemático do espaço petista no Nordeste. Terra de Eduardo Campos, governador bem avaliado pela população, o estado acolheu sem dificuldades Marina, e a ela 45% dão seu voto. Mas Dilma, ainda assim, recebe 38% da preferência do eleitorado pernambucano.
A perda de espaço do PT no Sudeste tem como símbolo a dificuldade da legenda no estado mais rico da federação. O candidato ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha, um dos “postes” de Lula, está com 8%, e o tucano Geraldo Alckmin continua a se reeleger no primeiro turno. Dilma ficou em 26% e Marina, 40%. O partido enfrenta dificuldades históricas na região em que foi fundado.
Esta última pesquisa, analisada por meio dos aspectos da escolaridade, renda e local de moradia dos eleitores, segundo o porte de suas cidades, revela que o PT se sustenta em pessoas de baixa formação escolar, residentes no interior, em cidades de até 50 mil habitantes. Não por acaso, o estado de São Paulo foge deste perfil: tem população escolarizada, renda média alta e congrega cidades maiores.
O PT, portanto, reproduz a trajetória de partidos que também ficaram longo período no poder. Incluindo Arena e, depois, PDS, legendas de sustentação dos generais. Quando começaram a voltar as eleições diretas, os partidos da ditadura só ganhavam no Nordeste, no Norte, nos grotões. Daí o Pacote de Abril, baixado por Ernesto Geisel em 1977, ter criado os “senadores biônicos" e inflado o número de representantes dos estados menos populosos. Onde o regime vencia.
O mesmo fenômeno ocorreu com o PSDB, nos tempos de Planalto. O poder do Executivo federal é tamanho na distribuição de recursos para estados e municípios, e no assistencialismo, que a população dessas regiões, dependente de bolsas, é sempre governista. Por isso são petistas.
Disso tudo resta um dever de casa para o PT: ganhando ou não, o partido terá de repensar propostas, para escapar da imagem da legenda apenas dos pobres, mal instruídos, dos grotões do país. Ou ficará irrelevante à medida que o país se desenvolver.
16 de setembro de 2014
Editorial O Globo
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