"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

DILMA PRECISA LANÇAR PROGRAMA DE GOVERNO

A presidente anunciou que em um segundo mandato trabalharia com uma equipe renovada. E também novas ideias. Mas ainda é muito pouco para satisfazer os eleitores

Como candidata à reeleição e uma das favoritas até agora nas pesquisas eleitorais, a presidente Dilma Rousseff deve uma definição de suas propostas, especialmente na área econômica, para um possível segundo mandato. Sua mais forte concorrente, Marina da Silva (PSB), já lançou o seu programa e Aécio Neves (PSDB) promete o dele para breve. A candidata à reeleição, porém, se limita a dar balanços, favoráveis, de sua polêmica gestão — principalmente na economia — e anuncia que divulgará propostas em tópicos, na propaganda eleitoral. O resto são platitudes e definições óbvias e consensuais, como o apoio à Educação. O que teme a candidata? O máximo que avançou foi anunciar, de forma implícita, o afastamento do ministro da Fazenda, Guido Mantega, em eventuais novos quatro anos de Planalto: “governo novo, equipe nova”.

O resultado foi esvaziar o cargo do Ministro da Fazenda e reforçar o temor de que persistirá nos erros cometidos até aqui. Na entrevista ao GLOBO, ontem, transmitida ao vivo pela internet, lançou nova variação do mesmo: “governo novo, ideias novas”. Continua insuficiente para eleitores e a sociedade como um todo. De aviso prévio, Mantega diz que será necessária uma política fiscal mais austera no ano que vem, com a busca de um superávit primário da ordem de 2% a 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Com isso, observa o esvaziado ministro, a política monetária poderá ser mais flexível (leia-se: redução nas taxas básicas de juros e menos aperto no crédito) no combate à inflação.

Dilma poderia comentar as declarações de Mantega e jogar alguma luz sobre o que pensa para o futuro, considerando que a inflação se mantém alta, as contas públicas desequilibradas e sob absoluta desconfiança dos analistas, dada a contabilidade criativa. E nada faz prever uma consistente retomada do crescimento. Nem o bom resultado da estimativa de evolução do PIB, em julho, feita pelo Banco Central (1,5% de expansão). Por enquanto, apenas um fato isolado. A presidente precisa deixar claro se manterá ou não a política fiscal expansiva e o que pensa da gestão futura do Tesouro Nacional, com seus repasses bilionários para bancos oficiais e a maneira criativa de contabilizar despesas. Há, ainda, o problema dos preços públicos artificialmente contidos. A julgar pela entrevista ao GLOBO, a Petrobras — e os acionistas minoritários, dentro e fora do país — não terá atendida a reivindicação de deixar de subsidiar o consumidor de combustíveis.

Nem tampouco deve-se esperar qualquer maior autonomia do Banco Central, dada a virulência dos ataques da campanha da candidata à adversária Marina Silva, por esta defender a formalização desta autonomia, como fazem nações desenvolvidas. Mas tudo são inferências, deduções de pronunciamentos e entrevistas. O país necessita é de definições formais, claras. Manter no ar dúvidas como essas não favorece sequer a própria candidata.

 
16 de setembro de 2014
Editorial O Globo

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