A greve de 110 dias na USP se estenderá até que a direção da universidade aprove um abono salarial decidido na Justiça. Quando isso ocorrer, os funcionários voltarão a seus postos e terão encerrado a paralisação --mas não a crise.
A suspensão (parcial) dos trabalhos é apenas um aspecto do descalabro na USP. O mais visível neste momento, mas não o mais relevante. Trata-se, na verdade, de reflexo do estado de deterioração em que se encontra a entidade --e parte da comunidade acadêmica se omite diante da situação.
Não há movimento organizado para conduzir a discussão em outros termos. Mesmo quem não participa da greve acaba por aceitar os argumentos básicos dos sindicalistas: o problema fundamental seria o estouro do orçamento, e o rombo deve ser coberto pelo Estado.
Não se questiona como o Conselho Universitário, formado por quadros graduados da USP, aceitou tal degradação financeira. Ou o órgão foi conivente, ou o sistema permite que a reitoria atue impunemente de modo irresponsável.
A reação dos sindicatos, mais que corporativista, revela como é ralo seu sentido de solidariedade social. Não importa se hospitais ou escolas careçam de verbas; a prioridade será sempre da folha de salários da universidade, que toma mais de 105% de seus recursos.
Reivindica-se, pois, verba adicional. Argumenta-se que o número de estudantes e cursos cresceu nos últimos anos, com escasso aumento de professores e demais funcionários. Tudo verdade.
Mas quão ineficiente era a USP há dez ou 25 anos? E por que não dizem que, neste século, o montante de recursos repassados à universidade se expandiu mais que o de alunos, mais até que a economia do país? Não é importante?
A própria instituição não se encarrega de produzir indicadores que permitam aferir com maior precisão a carência de recursos. Ainda assim, e se o Estado não dispuser de dinheiro para essa finalidade? Não cabe à academia a palavra final a respeito desse tópico.
A universidade pode, porém, contribuir para o debate e para tornar legítimas suas reivindicações.
Deve, ao restante da sociedade, explicações sobre seu descontrole. Deve demonstrar, regularmente, quão bem utiliza as verbas que recebe. Deve apontar opções de financiamento. Deve, enfim, sair da letargia intelectual e institucional que a paralisa de modo mais crítico do que as greves recorrentes.
A suspensão (parcial) dos trabalhos é apenas um aspecto do descalabro na USP. O mais visível neste momento, mas não o mais relevante. Trata-se, na verdade, de reflexo do estado de deterioração em que se encontra a entidade --e parte da comunidade acadêmica se omite diante da situação.
Não há movimento organizado para conduzir a discussão em outros termos. Mesmo quem não participa da greve acaba por aceitar os argumentos básicos dos sindicalistas: o problema fundamental seria o estouro do orçamento, e o rombo deve ser coberto pelo Estado.
Não se questiona como o Conselho Universitário, formado por quadros graduados da USP, aceitou tal degradação financeira. Ou o órgão foi conivente, ou o sistema permite que a reitoria atue impunemente de modo irresponsável.
A reação dos sindicatos, mais que corporativista, revela como é ralo seu sentido de solidariedade social. Não importa se hospitais ou escolas careçam de verbas; a prioridade será sempre da folha de salários da universidade, que toma mais de 105% de seus recursos.
Reivindica-se, pois, verba adicional. Argumenta-se que o número de estudantes e cursos cresceu nos últimos anos, com escasso aumento de professores e demais funcionários. Tudo verdade.
Mas quão ineficiente era a USP há dez ou 25 anos? E por que não dizem que, neste século, o montante de recursos repassados à universidade se expandiu mais que o de alunos, mais até que a economia do país? Não é importante?
A própria instituição não se encarrega de produzir indicadores que permitam aferir com maior precisão a carência de recursos. Ainda assim, e se o Estado não dispuser de dinheiro para essa finalidade? Não cabe à academia a palavra final a respeito desse tópico.
A universidade pode, porém, contribuir para o debate e para tornar legítimas suas reivindicações.
Deve, ao restante da sociedade, explicações sobre seu descontrole. Deve demonstrar, regularmente, quão bem utiliza as verbas que recebe. Deve apontar opções de financiamento. Deve, enfim, sair da letargia intelectual e institucional que a paralisa de modo mais crítico do que as greves recorrentes.
16 de setembro de 2014
Editorial Folha de SP
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